08/06/2007

Bebida alcoólica: estatísticas sobre a dimensão dos problemas no Brasil

"Na segunda-feira passada, o presidente do Conar, Gilberto Leifert, desqualificou as estatísticas sobre a dimensão dos problemas relacionados com o álcool no Brasil dizendo que eram feitas em grande parte por profissionais como eu, ativistas, e que teriam pouca validade.

Estranho mundo o nosso. O presidente de um conselho absolutamente desqualificado para defender o interesse público, que sistematicamente viola as próprias regras de auto-regulamentação e que defende um tipo de propaganda do álcool que ofende os valores de uma sociedade civilizada e deseduca milhões de crianças brasileiras, questiona mais de duas décadas de pesquisas que são publicadas em revistas científicas internacionais da melhor qualidade.

O resumo desses dados justifica a preocupação recente da OMS, que destaca o Brasil como um dos poucos países onde a mortalidade relacionada ao álcool é maior que à relacionada ao tabaco.

Os donos de agências de publicidade, bem como as redes de televisão, estão inconformados com a tendência do governo federal em controlar a propaganda do álcool. E ficam especialmente incrédulos com o movimento social que pressiona o governo, coordenado pela Aliança Cidadã pelo Controle do Álcool (Acca) -um simples conglomerado de 400 ONGs de saúde, educação e com várias religiões-, que, mesmo sem dinheiro e estrutura, consegue um abaixo-assinado com 700 mil assinaturas pedindo o banimento da propaganda do álcool nos meios de comunicação.

A saúde pública necessita de ativistas. E considero-me um deles. Com mais de cem artigos científicos publicados, cuja validade é reconhecida pelos meus pares, acredito ser um ativista qualificado, que coloca os interesses da população acima de qualquer valor.

O governo federal tem um bom teste pela frente. Ou defende a saúde dos brasileiros e proíbe a propaganda ou cede aos interesses espúrios da indústria do álcool e seus representantes no Conar. Para o bem da saúde pública, esse conselho deveria ser extinto."

RONALDO LARANJEIRA , PhD em psiquiatria pela Universidade de Londres, livre-docente em psiquiatria na Unifesp (São Paulo, SP).


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