Certificação: necessidade ou obrigação?

No ultimo ano, a categoria médica se envolveu em debate acerca da obrigato-riedade do Certificado de Atualização Profissional, promulgada pelo Conselho Federal de Medicina e que passa a valer a partir deste ano, com as suas normati-vas já estabelecidas, e a Comissão Nacional de Acreditação avaliando e pontuando um grande rol de atividades, dentro de cada especialidade reconhecida pela AMB.

E como sempre entre os médicos as opiniões divergem e as contradi-ções abundam, as críticas a favor ou contra se instalam. Há colegas execrando a normativa e a obrigatoriedade com vários argumentos, entre eles a inconstitucionalida-de, a legitimidade do direito adquirido, a interferência das Sociedades de Especia-lidade no livre arbítrio do exercício profissional pleno, entre tantos outros.

É importante deixar claro mais uma vez aos colegas que o seu patrimônio de conhecimentos se dete-riora e deve ser "recicla-do" a cada três anos. Para nos mantermos razoavel-mente" informados", necessitamos ler aproxi-madamente vinte traba-lhos por dia. Um grande número de nossos pacientes não recebe tratamento adequado, e somente 50 a 60% dos medicamentos atualmen-te em uso são comprova-damente eficazes. Apesar do assombroso progresso da ciência médica, ainda curamos pouco. Nós médicos padecemos cronicamente das incertezas do saber, do ter e do poder, como dizia o Prof. Amílcar Gigante. Nas incertezas do saber está a falta de conhecimentos, resultante de pressões econômicas, da indústria, da falta de atitudes pró-ativas e da ignorância e resistência às mudanças.

Nossos pacientes estão cada vez mais exigentes e protegidos como consumi-dores. Nós, médicos estamos em grande número, facilmente acessíveis e não temos mais () poder de encanta-mento, como "o mágico que não revela o seu truque". Não temos estratégias de ações enquanto categoria profissional, pensamos e agimos narcisisticamente, não temos "lobby" eficiente... Daí a campanha pela Lei do Ato médico, que não decolou e não definiu os papéis tão necessários para o enquadramento e regula-mentação de nossa profissão.

E com estas e tantas outras rel1exões que poderíamos alo cal', ainda temos resistência à mudanças salutares, pois, afinal, o contraditório faz parte do processo.

A certificação é importante para um processo construtivo, protetor dos bons profissionais, e que se aprimorará com o tempo. Não há outro caminho que não o da ciência, da ética, de atitudes e de posturas que convirjam para uma assistência médica de excelência. E que não nos intimidemos com as avaliações, afinal somos calejados em processos avaliatórios, dos bancos universitários a cada um dos enfermos que atende-mos, que fazem juízo de nossa ação a toda hora e o tempo todo.



Cesar Alfredo Pusch Kubiak, professor de Clínica Médica da Unicenp e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

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