Cidades sem médicos

Há muito que se fala em interiorização de médicos no Brasil. É certo que o País tem um número excessivo de médicos em relação à capacidade do sistema de saúde pública absorvê-lo, o que faz com que esses profissionais se concentrem nas áreas de maior desenvolvimento, deixando vastas regiões desprovidas de assistência.


São várias as razões que determinam essa distribuição iníqua. A primeira é a falta de resolutividade nas estruturas de saúde encontradas nas regiões hoje desassistidas. Isto faz com que o médico ali instalado não tenha condições de ver tornadas efetivas suas ações. Falta-lhe toda a sorte de recursos para diagnosticar e tratar adequadamente os pacientes sob seus cuidados. Não há tampouco organização do sistema de saúde que lhe permita referenciar os pacientes que precisem de especialidades diferentes da sua.


Em segundo lugar, para que um médico (ou qualquer outro profissional) se fixe é necessário que haja ambiente de trabalho adequado. Pressões, sejam elas associadas ao excesso de demanda, à insuficiência de recursos ou mesmo ao uso político do médico por autoridades e gestores locais, tornam insustentável a permanência do médico em certos municípios.


O terceiro ponto é a impossibilidade de desenvolvimento profissional, que faz do médico um exilado em seu próprio País. No Sistema Único de Saúde não existe carreira que permita ao médico desenvolver-se e eventualmente qualificar-se para postos que sejam, ao longo de sua vida pessoal e familiar, compatíveis com a sua atividade profissional.


A mobilidade é absolutamente essencial na carreira, quando se pensa em prover com médicos áreas remotas. Isso só seria possível dentro de um plano de carreira federal. As carreiras municipais isolam os que dela fazem parte, impedindo deslocamentos para outros municípios.


O salário é um aspecto certamente importante, mas não está entre os primordiais do ponto de vista da fixação dos médicos. O que nos surpreende é que todas essas causas de fixação ou migração são bastante conhecidas e estudadas. Os que gerenciam a saúde, porém, insistem em ignorá-las. Perdem-se em alternativas periféricas que, longe de corrigir os desvios determinantes do problema, apenas acrescentam-lhe distorções, degradando a profissão médica e ampliando o fosso que nos aparta do mundo desenvolvido.



* José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB

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