15/02/2007

Continua a polêmica em torno da pílula do dia seguinte

Distribuição polêmica

O anticoncepcional conhecido como pílula do dia seguinte chega aos postos de saúde em março

O comprimido anticoncepcional de emergência, popularmente conhecido como pílula do dia seguinte, vai chegar aos Centros de Saúde do Distrito Federal no próximo mês. A medida vem acompanhada de uma polêmica. De um lado, o Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde, que aprovaram a utilização do medicamento. Do outro, a Igreja Católica e outras entidades que são contra a interrupção da gestação, e consideram a pílula abortiva.

Independentemente da discussão ética, 300 cartelas com dois comprimidos cada já estão no Núcleo de Atenção Integrada à Mulher da Secretaria de Saúde do DF, prontas para serem distribuídas às farmácias dos 63 Centros de Saúde existentes.

"Só está faltando transmitir orientações aos funcionários. As cartelas foram doadas pelo Ministério da Saúde e faremos um teste quanto à demanda. Se forem necessárias mais pílulas, pediremos ao ministério", explica o médico Avelar de Holanda, chefe do Núcleo de Atenção à Mulher.

A distribuição da pílula do dia seguinte não será tão livre quanto é, atualmente, a entrega da cartela comum de anticoncepcionais e de camisinhas nos Centros de Saúde. Quem desejar obter o medicamento deverá procurar um centro de saúde o mais rápido possível após a relação sexual, das 8h às 12h e das 14h às 18h. A paciente será encaminhada para um médico ou enfermeira, e relatará o que aconteceu (camisinha furou, esqueceu de tomar a pílula comum e etc). O profissional, diante do relato, decidirá se a pessoa pode ou não receber a pílula.

"Não é necessário nenhum exame físico para comprovar a relação sexual, mas a entrega não pode ser feita sem critério. A pílula tem efeitos colaterais e, se tomada em excesso, pode ser prejudicial, especialmente para pessoas com tendência a ter coágulos no sangue", explica Avelar de Holanda. Menores de idade também podem solicitar o medicamento e, em caso de urgência e de o centro de saúde estar fechado, a pílula pode ser obtida em um hospital. "A pílula do dia seguinte é usada pela rede pública de saúde do DF desde 1996, mas por enquanto é doada apenas por hospitais a vítimas de violência sexual", diz o médico.

O ideal é que o anticoncepcional de emergência seja ingerido até 24 horas após a relação sexual desprotegida. Nessas condições, ele tem 5% de chances de falhar. Se tomado 48 horas após a relação, este percentual aumenta para 15% e, depois de 72 horas, chega a 42%.

A mulher deve ingerir dois comprimidos, um a cada 12 horas. Eles podem causar efeitos colaterais como náusea e vômito. Se a pílula for expelida por meio de vômito antes de vencidas as primeiras 12 horas, é aconselhável tomar outro comprimido.

A pílula do dia seguinte tem uma concentração de hormônios sete vezes maior do que a pílula comum e, por isso, não deve ser ingerida com freqüência, especialmente por pessoas com tendência a ter coágulos no sangue. Os riscos são de problemas circulatórios e descontrole total da menstruação.

No último dia 17, o Conselho Federal de Medicina publicou uma Resolução no Diário Oficial da União autorizando os médicos a receitarem o remédio a seus pacientes, e declarando que o medicamento não é abortivo porque agiria apenas antes da fecundação, impedindo o encontro do espermatozóide e do óvulo.

O tema, no entanto, é controverso. A decisão provocou reações por parte da Igreja Católica e de entidades antiaborto. Para a ginecologista Marli Virgínia Lins e Nóbrega, que trabalha no Setor de Família e Vida da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o remédio pode, sim, provocar aborto. "A própria bula do fabricante diz que ele age após a fecundação, provocando alterações no endométrio", diz.

Opiniões são divergentes

De acordo com Marli Nóbrega, as alterações impedem o processo de fixação do óvulo já fecundado no útero. Humberto Vieira, presidente da Organização Não-Governamental (ONG) Associação Nacional Pró-Família e Pró-Vida, é categórico: "Essa pílula é abortiva", afirma.
Já a ginecologista e obstetra Adriana Garrido, professora do Hospital Universitário de Brasília, tem opinião diferente. "Como ela (pílula) tem uma dose alta de hormônios, é óbvio que provoca alterações no endométrio. Pelo que se sabe, no entanto, essas alterações não são fortes o bastante para impedir a fixação do óvulo", diz.

A dona de casa Bárbara da Silva Alves, 27 anos, já tomou a pílula do dia seguinte há um ano. "A camisinha estourou. Agora estou grávida, mas foi planejado", ressalta. A desempregada Mery Ellen Espíndola, 21 anos, também passou pelo mesmo problema. Do incidente, acabou nascendo a pequena Emily, hoje com 3 anos.

Fonte: Jornal de Brasília



CFM aprova pílula do dia seguinte

O Conselho Federal de Medicina considera aceitável a anticoncepção de emergência, desde que seja unicamente como método alternativo para a prevenção da gravidez indesejada (no caso de estupro, abuso e outros), descartando métodos abortivos. Conforme o Conselho Regional de Medicina de Rondônia (Cremero), os médicos que fizerem uso do método serão responsabilizados pela prescrição da anticoncepção de emergência.

"A medida deve ser tomada apenas como prevenção, visando somente interferir no impacto negativo da gravidez não planejada e suas conseqüências à saúde pública, principalmente no que tange à saúde reprodutiva", ressaltou o conselheiro e delegado do Cremero, Hiran Gallo, acrescentando que o CFM, no entanto, faz um alerta aos médicos, advertindo-os de que os métodos utilizados na prática da anticoncepção de emergência devem ser os já utilizados com aval do Ministério da Saúde e de órgãos internacionais, como o método Yuspe usado desde 1986.

Para que seja usada uma nova metodologia, ela tem de ser aprovada antes pela comunidade científica de forma que obedeça a legislação brasileira, ou seja, que não causem aborto.

Hiran Gallo, que participou da sessão plenária em que foi elaborada a resolução que trata da anticoncepção de emergência, disse que o método foi aprovado e aceito pelo Conselho Federal de Medicina porque não fere os dispositivos legais vigentes no país.

Fonte: Folha de Rondônia (RO)

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