Diagnóstico apressado, remédio equivocado

São muitas as afinidades entre o Direito e a Medicina. Além de caracterizarem o exercício da arte na prática científica, essas duas grandes atividades humanas revelam coincidências de parte a parte na prestação cotidiana.

É evidente que muitas modalidades da advocacia nada tem a ver com o trabalho médico. São peculiaridades distintas quanto ao objeto e seu estudo. Mas há similaridades evidentes quando, por exemplo, o causídico abre o código para verificar a correspondência entre o fato e a lei, e o médico ajusta o estetoscópio para examinar o paciente.

Dentro das coincidências entre a arte da advocacia e a arte médica, está o diagnóstico. Ele exige, antes de tudo, paciência para ouvir e prudência para opinar. Quem dos leitores já não ouviu a queixa de parentes ou amigos de que o seu advogado não dá atenção à sua história pessoal ou o seu médico não escuta o relato das dores e aflições?

O Advogado e o Médico são, antes de mais nada, seres humanos e, portanto, sujeitos eventuais ou freqüentes a situações de erro. É essencial, portanto, evitá-lo sempre que possível. E o primeiro conselho que se pode dar, principalmente aos novos profissionais, é o da paciência em conhecer e a prudência em dizer.

Na primeira e imaginária aula para uma Escola de Advocacia eu diria aos alunos: "Cuidado com o diagnóstico apressado. Ele pode indicar um remédio inadequado".

É verdade que existem situações nas quais a urgência da petição ou do medicamento não permitem a pesquisa mais detalhada da causa ou da doença. Mas elas são exceções; não a regra.

O Advogado precisa conhecer melhor o problema por documentos; o Médico por imagens. Em ambos os casos, as informações do cliente são parte e não o todo do problema. E para a obtenção de um e outro desses dados de compreensão haverá uma distância de alguns dias entre a primeira e a segunda visita. Por que, então, a pressa de "resolver" a dificuldade?

O Advogado e o Médico nada perdem em termos de confiança quando revelam prudência ao ouvir e examinar e cautela ao recomendar e indicar.

Quando um deles, ou ambos, dizem com suas frases características de publicidade enganosa "não tem problema" e "não é nada grave", cuidado. Se você for parte ou doente pode perder o patrimônio ou a liberdade; a saúde ou a vida.


rene.dotti@onda.com.br www.dottieadvogados.com.br

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