29/08/2018

Humanidade, carinho e compreensão são imprescindíveis no cuidado com o paciente terminal

Essa foi a mensagem deixada pelos palestrantes do módulo de cuidados paliativos da Educação Médica Continuada do CRM-PR realizado na noite de terça-feira, 28 de agosto, com tema “O Médico como Paciente X O Médico de Médico”. Assista ao vídeo

clique para ampliarclique para ampliarDr. Luiz Ernesto Pujol falou de sua experiência como paciente. (Foto: CRM-PR)
O pediatra Luiz Ernesto Pujol, secretário-geral do CRM-PR, e o geriatra João Carlos Gonçalves Baracho emocionaram os 180 participantes de evento da EMC realizado na terça-feira (28), com relatos honestos e objetivos. O primeiro, diagnosticado com câncer, falou sobre sua realidade no papel de paciente, tendo como médico seu também amigo, Dr. Baracho. O segundo, por sua vez, contou como foi perceber os primeiros sinais no colega, passando pela primeira conversa, o sentimento ao ver a recusa de tratamento até o momento em que as possibilidades terapêuticas foram aceitas e iniciadas.

“Minha primeira reação (ao ter confirmação do câncer, já em metástase) foi de auto culpa, pois nunca na vida fui ao médico ou fiz qualquer tipo de prevenção. Depois tive consciência de que iria sofrer muito, sentir dor”, iniciou o Dr. Pujol. Veio então a preocupação com os gastos, como iria se manter? “Sempre tive uma vida desregrada!” E, por fim, como contar para a família?

Ele explicou que, a princípio, não quis se tratar pela pouca perspectiva que o tratamento oferecia na situação em que se encontrava, porém a esposa foi quem o fez mudar de ideia. E ele é muito objetivo “O que meus três médicos me mandarem fazer eu faço. E só. Sem terapias, crenças ou procedimentos alternativos.” Dr. Pujol contou também que fez seu testamento vital e reforçou que a responsabilidade por um paciente terminal nunca deve ser repassada aos acompanhantes ou familiares, pois é um peso muito grande a se carregar.

“Os médicos têm que priorizar a qualidade de vida sobre medicamentos ou procedimentos e lembrar que fazer muito nem sempre é fazer o melhor. Chame o paciente pelo nome. Toque, abrace, sorria”, sugeriu. Entrando no tema da judicialização disse que a morte já não é mais aceita como algo natural, o que acaba por obrigar os médicos a uma manutenção superficial e com inúmeros riscos. “Tenho a convicção de que a morte é a natural decadência de uma estrutura molecular e que nossos átomos permanecem vivos para se reagruparem, em qualquer que seja a forma.”

Para ele, o mais difícil ao encarar a doença foi não se martirizar, “não posso usar da minha finitude como um cartão de visitas”. Apesar do sofrimento, o Dr. Pujol contou que o momento vivenciado por ele trouxe muitas pessoas boas ao seu encontro. “Nós somos felizes pelo caminho percorrido, sempre acompanhado de gente do bem. Quem fica pode nos ter vivos no coração pelo que transmitimos ao longo da vida e posso dizer que estou sereno porque fui muito feliz”, concluiu.

clique para ampliarclique para ampliarDr. João Carlos Baracho trouxe o ponto de vista do médico de médico. (Foto: CRM-PR)

Aplaudido de pé pelo público presente, Dr. Pujol passou a palavra ao Dr. Baracho, que iniciou sua fala contando uma experiência pessoal com a Síndrome de Burnout e um edema cerebral. Contou sobre quando se deparou com o amigo emagrecendo, sentindo falta de ar, e que conversando ele disse saber que teria câncer. “Mal sabia que naquele momento estava me tornando seu médico. Médico de médico.”

Em sua própria experiência o Dr. Baracho já havia passado por um processo de revisão de conceitos de vida e sabia que era hora de lutar mas, para ele, o mais difícil é filtrar as expectativas reais do paciente. “A decisão foi intransferível. Internamente o médico-amigo disse: lute, enfrente! Mas mantive o silêncio. Mesmo ao ser questionado por outros colegas, ou ao ouvir comentários sobre a saúde do Pujol, não me permiti comentar ou responder”, explicou.

clique para ampliarclique para ampliarOs médicos e amigos que emocionaram o público. (Foto: CRM-PR)

Para ele o importante é se manter ativo, com atividades compatíveis ao momento, sem se sobrecarregar, mas também não se inutilizar, “senão chegamos ao agravamento da doença por desencanto”. Sensível, Dr. Baracho acredita que o caminho está no amor. “Precisamos retomar e redescobrir a essência do ser humano, que é boa”, concluiu o médico. “Não só médico, mas amigo.”




Assista ao vídeo do evento:

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