Para onde vai a saúde de Curitiba

Adriano Massuda

Não faz muito tempo, as famílias curitibanas costumavam ter um médico de referência, que atendia a todas as faixas etárias e à maioria dos problemas de saúde. Somente há 30 ou 40 anos começamos a ouvir falar mais dos subespecialistas, médicos de um órgão, coração, cérebro, estômago, ou de uma faixa etária.

Hoje poucos têm um profissional de confiança quando sentem dor ou querem tirar alguma dúvida sobre saúde. Os que não usam o SUS abrem uma lista telefônica e fazem eles mesmos uma triagem para escolher um especialista. Há pessoas que frequentam regularmente 5, 6, 7 médicos e não têm um profissional que olhe para todos os seus problemas, que organize ou racionalize os vários medicamentos que usam. No entanto, as melhores experiências de organização de sistemas de saúde combinam essas duas coisas, um médico generalista que cuida de você e subespecialistas disponíveis quando necessário.

Essa é a proposta da Estratégia Saúde da Família, do SUS: que cada cidadão tenha uma equipe de referência, com um médico generalista, enfermeiro, equipe de enfermagem, cirurgião-dentista e auxiliares de saúde bucal para lhe atender sempre que preciso. E, ao mesmo tempo, organizar outros serviços de saúde para serem acessados de acordo com a necessidade percebida por essa equipe.

Curitiba iniciou essa experiência na rede pública ainda na década de 1980. Em 1994 nasceu o Saúde da Família, implantado especialmente na região Sul do município, porém houve uma estagnação em torno dos 35% de cobertura da população.

Pesquisas recentes compararam a Unidade de Saúde da Família e a unidade tradicional e mostraram que a primeira consegue oferecer melhor os atributos da atenção primária: melhor acesso, maior continuidade do cuidado, serviços mais abrangentes. Ao analisarmos dados de 2002 a 2013 em Curitiba, percebemos que a Saúde da Família é 60% mais resolutiva quando comparada às unidades tradicionais. Ou seja, ela resolve os problemas do paciente com muito mais eficiência.

A Prefeitura optou por uniformizar as unidades de saúde de Curitiba e fazer com que todas gradativamente passem a atuar como Saúde da Família. A intenção é ampliar o papel do pediatra e do ginecologista em todo o município, o que não acontece hoje, mas como profissionais que apoiam e orientam as equipes de saúde da família.

A cidade tem agora 240 equipes de Saúde da Família, que acompanham mais de 284 mil famílias. São 891 mil pessoas, aproximadamente metade da população curitibana.

Essa não é uma opção apenas de Curitiba; esse é o modelo financiado e estimulado pelo Ministério da Saúde. Florianópolis e Belo Horizonte têm uma cobertura que passa dos 70% da população. Tampouco é uma opção para a população de menor renda, pois já há vários planos de saúde no Brasil que estão investindo na atenção primária. A maioria dos países ricos, especialmente os europeus, têm há 40 ou 50 anos sistemas de saúde em que o centro do cuidado são as clínicas de atenção primária.

O que essas experiências e diversas pesquisas demonstram é que quando você tem um médico de família de referência que cuida da maioria dos seus problemas e ele demanda um especialista de órgãos quando necessário, o Estado consegue utilizar seus recursos da melhor forma, promovendo mais saúde e gerando mais satisfação de profissionais e de usuários.

Artigo escrito por Adriano Massuda, Secretário Municipal de Saúde de Curitiba.

*As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.

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