14/09/2006

Paraná pode abrir dez novos cursos de Medicina

SAÚDE - Abertura de faculdades é criticada por profissionais da área



O Brasil pode elevar de 157 para 218 o número de faculdades de Medicina nos próximos cinco anos. Projetos criando 61 cursos estão em análise no Ministério da Educação e no Conselho Nacional de Educação. Se aprovados, as vagas para estudantes de Medicina saltarão de 14 mil para 20 mil por ano. São Paulo lidera a lista com 23 novos cursos, seguido de Paraná e Rio de Janeiro, com 10 cada. No Paraná, o número de faculdades mais do que dobraria. Parece o melhor dos mundos, mas não é bem assim. "É um atentado contra o ensino médico", diz o otorrino Antônio Celso Nunes Nassif, quatro vezes presidente da Associação Médica Brasileira (AMB).

Nassif denuncia a existência de um movimento político agitando várias cidades para criar cursos de Medicina, seguindo critérios políticos e econômicos. Dos existentes hoje, 57% são particulares. "É uma afronta aos médicos e ao ensino da profissão, pois não oferecem a inafastável garantia de qualidade", acusa.

Nassif não está sozinho. O diretor do Conselho Federal de Medicina, Alceu Pimentel, disse não ser contra os novos cursos, mas contra a abertura indiscriminada. Na opinião de ambos, não está sendo respeitado o princípio da necessidade social. Nassif recorre a um exemplo paranaense para questionar os cursos. Há faculdades de Medicina em Londrina e Maringá, que atendem toda a região Norte. Mesmo assim, há projeto para a criação de outro em Arapongas, entre as duas cidades. A prerrogativa de julgar essa necessidade social era do Conselho Nacional de Saúde (CNS), com critérios técnicos, mas em 1994 o poder passou para o Ministério da Educação. Em 1997, estados e municípios ficaram livres para decidir sobre a criação de escolas de Medicina e outras na área da saúde.

Tamanha liberalidade levou à criação de 58 cursos desde o ano 2000. As escolas já existentes colocam o Brasil na liderança do ranking mundial, à frente da China com 150, da Índia com 140 e dos Estados Unidos, com 125. Nassif diz que o Brasil está na contramão. Nos Estados Unidos, há 6 anos não se cria novos cursos. As razões são simples: o mercado de trabalho saturado e a existência de médicos em número suficiente. Os norte-americanos formam 15 mil médicos por ano.

Pelos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil já tem mais médicos do que o necessário. Enquanto a OMS recomenda um médico para cada grupo de mil habitantes, a média nacional é de um para cada 586 pessoas. O problema é que esses profissionais estão mal distribuídos. Há uma grande concentração nas grandes cidades, enquanto as menores têm carência de médicos.

Além disso, segundo Nassif, a qualidade da formação profissional deixa a desejar. Atualmente, apenas seis em cada 10 médicos que se formam conseguem fazer residência médica. É neste estágio prático que efetivamente se aprende o exercício pleno da medicina. Esse também é um dos fatores que pode levar ao erro médico, somado à falta de estrutura para atendimento, baixos salários, múltiplos empregos e à falta de educação continuada.


Por Mauri König, da Gazeta do Povo - 14/09/2006.

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