26/04/2007

Restrições à venda de álcool


Para reduzir número de vítimas em acidentes, governo vai proibir comercialização de bebidas nas rodovias, postos de combustíveis e nas proximidades de escolas e hospitais. Em 2005, 35 mil morreram nas vias


O governo deve proibir a venda de bebidas alcoólicas nas estradas, postos de abastecimento de combustível e nas proximidades de escolas e hospitais. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, informou ontem, durante solenidade da Primeira Semana Mundial das Nações Unidas de Segurança no Trânsito, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará, na próxima semana, um decreto impondo maior rigor para a venda desses produtos.

Segundo ele, a maioria dos acidentes de trânsito tem relação com o consumo de bebidas alcoólicas e drogas. Outra medida será a edição, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de uma resolução impondo restrições à propaganda desses produtos. Temporão quer também mais rigor na fiscalização para impedir a venda de bebidas a menores de 18 anos.

"Temos que ter leis mais duras", disse Temporão que, ao lado do ministro das Cidades, Márcio Fortes, e dos Transportes, Alfredo Nascimento, disse que faltam leis ou a "legislação conivente permite que um cidadão embriagado atropele, mate e fique em liberdade". Ele apresentou dados mostrando que o número de mortes no trânsito aumentou 9%, entre 2002 e 2005. Subiu de 32.753 para 35.753. No Distrito Federal, segundo o Detran, o trânsito matou 411 pessoas no ano passado, contra 442 em 2005. Os ministros ressaltaram que os acidentes de trânsito causam ao Brasil prejuízo de R$ 24 bilhões por ano.

"Temos que ter soluções inibitórias", defendeu o ministro Márcio Fortes, que perdeu um filho há três anos em um acidente de trânsito, no Rio de Janeiro. Ele ressaltou que os radares eletrônicos devem ser usados para "preservar vidas" e, para isso, devem estar em lugar visível, e não escondidos atrás de viadutos. Segundo ele, até o motorista embriagado reduz a velocidade ao passar por uma lombada eletrônica. Outra medida é a realização de blitzen nas rodovias: "Andei anos e anos pelas estradas e jamais fui parado por alguém". Mas, segundo ele, recentemente, em uma viagem a Ouro Preto (MG), ele foi parado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Isso, disse ele, só está acontecendo agora. Além disso, é preciso melhorar a qualidade das pistas e verificar se os equipamentos dos veículos estão funcionando.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o trânsito é a segunda causa de mortes entre os jovens, só perde para os homicídios. Dos 8.045 óbitos registrados, em 2004, de adolescentes com idade entre 10 e 19 anos, o trânsito foi responsável por 16,9% das mortes, e os homicídios por 34,2%. Em terceiro lugar, ficaram os afogamentos (6,3%). Segundo Márcio Fortes, é natural no jovem o sentimento de desafio, o que o coloca mais perto do perigo e o leva a desrespeitar as leis de trânsito.

Rogério Campos Filho, 29 anos, foi uma das vítimas das tragédias na vias do país. Há um ano, no percurso para casa, um sítio próximo a Goiânia, o veículo que ele conduzia bateu de frente com dois carros em sentido contrário, que faziam um pega. Um dos condutores morreu. Rogério ficou paraplégico e tem dificuldades na fala, mas não perde a esperança de voltar a andar e cuidar da sua criação de cachorros. A experiência de Rogério foi exibida, em um filme, durante a cerimônia com os ministros.



Cidades menores

Gerson Penna, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, explicou que os acidentes de trânsito estão em sétimo lugar entre as causas de morte no Brasil. A tendência é que o número de ocorrências aumente em municípios com menos de 100 mil habitantes. O atropelamento, segundo Penna, é o que mais mata no trânsito. Além da perda de vidas humanas, os acidentes de trânsito causam prejuízos ao setor público que, no ano passado, teve de gastar R$ 118 milhões para cobrir despesas de 123 mil internações de vítimas.

Além de sofrer com a morte do biólogo Pedro Davison, 25 anos, atropelado enquanto andava de bicicleta no canteiro central do Eixão, em agosto passado, a família busca por Justiça. Pércio Davison, pai do garoto defende maior punição para os casos de violência nas vias. "A impunidade leva à desobediência. Enquanto as pessoas pensarem que ao cometer um delito no trânsito irão pagar com cestas básicas apenas, o problema persisitirá", desabafa.

O motorista do Marea que atingiu o ciclista por trás e o arrastou por 200m vai responder por homicídio. Ele não prestou socorro à vítima, tentou fugir do local e, de acordo com exames feitos pela polícia, tinha ingerido bebida alcóolica. Todas as circunstâncias vão pesar contra o condutor. O atropelamento, na via mais movimentada do DF, chocou os moradores da cidade, sobretudo os ciclistas, que realizaram manifestações após o acidente. "Pedro estava na faixa central que, pelo Código de Trânsito, é considerada canteiro", lembra o pai da vítima.



Tragédia cotidiana

Localidades com maior risco de morte em acidente de trânsito (por 100 mil habitantes):

Santa Catarina - 32,2

Roraima - 30,9

Mato Grosso do Sul - 30,8

Mato Grosso - 30,5

Paraná - 28,7

Goiás - 27,4

Tocantins - 26,4

Espírito Santo - 25,2

Rondônia - 23,9

Distrito Federal - 23,3

Número de mortos:

2002 - 32.753

2003 - 33.182

2004 - 35.456

2005 - 35.753

Causas de mortes de adolescentes (10 a 19 anos), com base em dados de 2004:

Homicídios - 8.045

Acidentes de trânsito - 3.976

Afogamento - 1.486

Fonte: Ministério da Saúde


Notícia publicada no jornal Correio Braziliense

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