PRÁTICA DE ATO ANESTÉSICO: RESPONSABILIDADE E PRAZO PARA AVALIAÇÃO
Resumo
Médico faz consulta a este Conselho de Medicina com o seguinte teor:
“Sou anestesiologista em Curitiba. Há poucos anos, encaminhei ao CRM ponderação, tratando da insuficiência do anestesiologista quanto à realização da avaliação pré-anestésica. Explicando melhor, comentei que muitas vezes este procedimento não era - e ainda não é - realizado da forma mais satisfatória, pois os pacientes não têm sido encaminhados por seus cirurgiões (e/ou psiquiatras e/ou radiologistas, enfim, por aqueles outros especialistas que demandam por anestesia/anestesiolologistas para realização de seus procedimentos). Na época, o CRM respondeu-me elegantemente que o anestesiologista é soberano, podendo e devendo suspender a cirurgia quando não julgar prudente devido às condições do paciente, sobretudo quando diante de procedimento eletivo desprovido de avaliãção pré-anestésica. Gostaria de dizer que concordo com a instrução do CRM, mas ainda considero que é insuficiente. Tomando como exemplo a obstetrícia, em que as pacientes ao saberem que estão grávidas, contam com MESES para realizar a avaliação pré-anestésica, todavia muitas têm chegado à cirurgia sem a referida consulta - a despeito de constante solicitação do serviço de anestesiologia aos cirurgiões para o encaminhamento de suas pacientes a nós. Realço que, quando se percebe coceira, dificuldade de visão, uma dor de barriga, febre etc, não é o anestesiologista o médico que as pessoas procuram, mas sim um dermatologista, oftalmologista, gastrologista etc. Assim, a estes deveria ser também imputada OBRIGAÇÃO no processo de realização da avaliação pré-anestésica. Quando procuro saber das pacientes o motivo da não-realização, mormente recebo como resposta o fato de "ninguém ter dito que precisava". Diante disto, ao cobrar dos obstetras, mormente escuto: "estava para mandar fazer, mas virou emergência" ou "se a paciente chegou ao fim da gestação é porquê a saúde é boa". Cheguei a escutar de cirurgião, que este temia perder o paciente, caso se consultasse com outro profissional (ainda que de especialidade diferente)! Quero lembrar ao CRM que especialmente estas pacientes (que chegam "emergenciadas") tem passado por estresse desnecessário, nem sempre se resolvendo com uma conversa "de última hora". Pior ainda, às vezes gerando desgaste desnecessário à relação médico-paciente - ora! Não é fácil constantemente escutar: "ai, morro de medo de você, com esta agulha! Não vai me alejar, né?" ou "não vou morrer, né?". Ou ainda: "ai que coisa ruim... não sinto minhas pernas... eu vou ficar boa?" Como se pode ver, a avaliação pré-anestésica, feita com antecedência, não só aumenta a segurança, como tranqüiliza o paciente, uma vez que é durante esta que se informa e explica o passo-a-passo, sensações etc, que enfrentarão no dia da cirurgia. Em outras palavras: a não realização da avaliação pré-anestésica, mantém o paciente ansioso! Considerando que o que buscamos é promover saúde (e dela faz parte o bem-estar) das pessoas, entendo que aqueles profissionais que demandam por anestesia/anestesiologistas (e até o CRM) estão em falta por permitirem que seja de total responsabilidade do anestesiologista a realização da avaliação pré-anestésica - sim, só ele pode realizá-la, mas ele depende do colega da outra especialidade para que haja o adequado encaminhamento... ou o anestesiologista teria que fazer busca ativa na população para saber quem fará cirurgia e aí antecipadamente avaliar? Seria utópico! Considerando também o atual contexto que vivenciamos (dentro e fora de Curitiba), em que a imagem do médico está desgastada, em que demandas jurídicas surgem com menor inibição (revolta?), rogo para que este CRM oficialize a instrução (que proponho acima) aos especialistas que demandam por anestesia/anestesiologistas, alertando-os que não deixariam de ser responsabilizados em alguma instância, quando de uma demanda jurídica. Em outras palavras: a não-realização da avaliação pré-anestésica, mantém desnecessariamente alta a chance de demanda jurídica! Por fim, julgo que buscar realizar a avaliação pré-anestésica é uma excelente demonstração de consideração, profissionalismo e amor ao próximo!”
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