A saúde do povo é a suprema lei

Fahd Haddad

Essa frase era proferida com frequência pelo ex-prefeito de Londrina e ex-secretário de Saúde do Paraná Dr. Dalton Fonseca Paranaguá, cirurgião com atuação marcante na política.

Ele foi escolhido como Patrono da 1ª turma do curso de Medicina da UEL, Turma Dr. Ascêncio Garcia Lopes, da qual faço parte com orgulho, pois ambos foram importantes referências para as primeiras turmas de Medicina, não só pela consolidação da UEL, mas pela defesa da saúde.

Para desenvolver  a prática profissional dos estudantes de Medicina, a Santa Casa de Londrina foi escolhida como o primeiro hospital escola, sendo sucedida pelo atual Hospital Universitário. Pois na década de 1970, o atendimento à saúde era em caráter particular ou dependia da benemerência  dos hospitais filantrópicos, que até hoje atendem aproximadamente 60% da população brasileira.

Desde então, apesar do avanço da medicina e dos serviços de saúde que contam com equipamentos de alta tecnologia, estamos vivenciando a Pandemia do COVID-19, com muitas mortes e insegurança quanto a  evolução dessa doença, que vem afetando a todos sem distinção de classes sociais. São cenas que relembram as epidemias da idade média, quando muitas vidas foram ceifadas pela peste e não havia quem cuidasse ou recolhesse os mortos nas vias públicas, que ameaçava toda a população.

O pavor causado pela peste, fez surgir sentimentos de solidariedade social e em Portugal a Rainha D. Leonor, fundou a Irmandade da Misericórdia de Lisboa (1498) inspirada nos princípios do Evangelho, da misericórdia e de amor ao próximo, em defesa da vida. O acolhimento e cuidados aos doentes pobres eram feitos em casas anexas as igrejas, denominadas de “Santas Casas de Misericórdia”.

E agora 500 anos após, estamos observando o mesmo sentimento de solidariedade aflorando no mundo todo, quando empresários, entidades e sociedade civil estão sensibilizados com as consequências do COVID-19 e fazem doações a governos e instituições de saúde como auxilio no enfrentamento do coronavírus.

Assistimos nas mídias, pessoas em quarentena que comparecem as suas janelas homenageando os profissionais de saúde que lutam contra a morte dos seus semelhantes.

É emocionante sentir o renascimento destes nobres gestos de gratidão a estes profissionais, que sempre lutaram pela vida se expondo aos perigos das doenças nos Hospitais, última trincheira na preservação da vida.

E os meios de comunicação expõe as potencialidades e deficiências dos sistemas de saúde, evidenciando que países que não possuem sistemas consistentes, estão perdendo vidas com maior intensidade.

No Brasil felizmente temos o SUS, um sistema de saúde universal que atende a mais de 75% da população e que apesar de estar há muitos anos subfinanciado, tem evitado maiores danos e perdas de vidas. Por isso, o SUS deve ser mais valorizado e receber financiamento suficiente e adequado para ser realmente universal e equânime, como preconizado na sua concepção.

A falta de investimentos  (prevenção, assistência e na indústria) têm repercussões graves, como se evidencia  no presente momento, em que faltam respiradores para socorrer as pessoas acometidas pelo vírus, assim como medicações ou vacinas para combater essa pandemia.

E preciso que a solidariedade não ocorra apenas no período das epidemias e crises, pois necessitamos de investimentos permanentes na saúde, tanto na  prevenção de outras doenças e assistência medica a população mais vulnerável, assim como no desenvolvimento de pesquisas e inovações nessa área. Sem esquecer que novas epidemias poderão ocorrer novamente.

Por isso ressaltamos que a solidariedade, aplausos, doações e incentivos sejam permanentes no segmento de saúde, notadamente nas instituições hospitalares, que são o último front da  batalha pela vida das pessoas doentes.

Espera-se que  essa pandemia, desperte a unidade, igualdade, equidade na sociedade e que passe a ser  pautada pelos valores sublimes de preservação da vida.

Nessa esperança, consideramos oportuno relembrar que a SAUDE É A SUPREMA LEI e que seja cumprida por toda a sociedade e principalmente pelos gestores públicos brasileiros.

*Fahd Haddad é medico neurocirurgião (CRM-PR 6.345), superintendente da Irmandade da Santa Casa de Londrina (Iscal) e presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde de Londrina e região (Sinheslor).

**Artigo publicado em 7 de maio de 2020 no jornal Folha de Londrina.

***As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.

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