18/11/2011

Acordos entre médicos e empresas de saúde ainda estão na UTI

A relação está desgastada por valores de procedimentos, métodos de pagamento, autorizações prévias e atendimento a usuários



Interferência na autonomia, baixos honorários e a burocracia na aprovação de procedimentos em saúde são os principais problemas apontados por representantes de entidades da classe médica ouvidos pelo BRASIL ECONÔMICO em relação aos serviços dos planos de saúde no país. Mesmo com duas paralisações no atendimento a usuários de alguns planos em 2011, as negociações entre médicos, hospitais e operadoras estão longe de chegar a uma decisão satisfatória para todos os envolvidos.


O presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Luiz Henrique de Almeida Mota, afirma que o entrave está no triângulo formado pelos agentes dessa cadeia, cuja relação vem sendo desgastada por valores de procedimentos, métodos de pagamento, autorizações prévias e operacionalização do atendimento aos usuários.


"Nos hospitais da Anahp, quase 90% dos atendimentos estão vinculados aos planos de saúde. Esses desgastes trazem menor eficiência para o setor." A falta de critérios bem definidos no reajuste de honorários também prejudica esse relacionamento. Aloísio Tibiriçá Miranda, vice- presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), destaca que o valor médio para consultas com especialista pago pelos planos gira em torno de R$ 40 nas principais capitais do país. "É mais barato que um corte de cabelo no Rio de Janeiro. As operadoras faturaram 129% a mais entre 2003 e 2009, segundo cálculos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Neste mesmo período, as consultas foram reajustadas em 44%. Isso mostra a defasagem e afeta o produto final, a saúde das pessoas." Na mesma linha, o presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Carvalhaes, destaca a diminuição de recursos humanos credenciados, que aumenta a insuficiência frente à crescente demanda dos usuários. Universo com mais de 46 milhões de pessoas no Brasil. "Uma região que precisa de 30 ginecologistas, por exemplo, conta somente com dez, gerando dificuldade de acesso", diz.


Para a Associação Médica Brasileira (AMB), as interposições das operadoras nas decisões médicas prejudicam o equilíbrio do sistema e o tratamento dos pacientes, pela tendência de cortar custos. Há pressão para diminuição do tempo de internação em unidades de terapia intensiva, por exemplo, mesmo quando há necessidade. "A interferência na autonomia, má remuneração e questionamento do uso de determinado procedimento ou exame dificulta a relação médico- paciente, além de atrasar o diagnóstico e o tratamento. Basta ver os altos índices de reclamações a planos de saúde nos Procons dos estados", diz Florentino de Araújo Cardoso Filho, presidente da AMB.


Em São Paulo, a Fenam afirma que 40 operadoras procuraram a entidade após o último protesto, em setembro, mas as negociações só avançaram com 10 delas. "A discussão avança quando há exposição pública, como ocorreu em setembro, pois gera antimarketing para as empresas. A operadora precisa entender que o médico é um parceiro e não um conflito permanente", diz o vice-presidente do CFM. As negociações em outros estados variam conforme a situação regional.


Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), que representa 245 operadoras de planos de saúde do país, declarou, por meio de nota, que não faz parte de suas atribuições discutir a remuneração a prestadores de serviço. Informou ainda que o movimento dos médicos é aceitável, desde que não prejudique o atendimento aos beneficiários dos planos de saúde.



Fonte: Brasil Econômico

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