As redes sociais e nós!

Thadeu Brenny Filho

Parafraseando o colunista e escritor Paulo Polzonoff Jr., também levantei a dúvida se estamos ou não vivendo um excepcional período de exacerbação histórica, na qual todos, por se acharem doutos em determinado assunto e terem assim algo a afirmar e a defender de forma cega, apesar de seu aprendizado técnico, conduzam a um conflito diário, interminável e exaustivo, sobre se a+b é melhor que c+d com o que se acha no ‑ não mais tanto ‑ anonimato das redes sociais.

Assim, minha dúvida se esvai em tentar colaborar para esse estado de beligerância como leitor passivo das inúmeras postagens que abarrotam meus grupos de redes sociais e acabam com a minha escassa memória eletrônica. E de tantas, apago-as quase todas, já consumido no cansaço e dor nos dedos e as vistas cansadas. Mas não me arrependo em não respondê-las, como muitos veem dessa necessidade quase histriônica de se fazerem notar e serem lidos. Ou vistos.

Imersos que estamos nessa realidade paralela, dá-se a impressão de aquela postagem ser a verdade das verdades e que as palavras ou vozes ouvidas vão mudar o destino como elas prometem. A área sensível da publicitação de assuntos médicos, quais forem o teor ou o objetivo, comerciais ou de sensacionalismos, achismos e exclusivismos, passa pelo crivo (quando chega até ela) da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos, a Codame. Tanto o dizer como o responder, e a este último verbo entrarei no contraditório.

A necessidade de responder a uma postagem em redes sociais reside, em suma, na carência do saber. Ignorar isso não é sinal de fraqueza, mas de convicção sobre a sua identidade, o seu saber. A indiferença – do não responder – é uma comunicação silenciosa de consequências instantâneas. Tudo o que o emissor da postagem deseja é saber como você se sentiu ou reagiu a isso. Buscar conhecer suas reações e convicções sobre o assunto, embora com isso não se importe, pois já tem as suas próprias sedimentadas e, por isso, “viralizou”. E quanto mais há necessidade de responder a postagens, mensagens e desafios em redes sociais, mais exposto se fica! E isso pode ser danoso, eis que pode ser responsabilizado ética e civilmente.

Responder é um verbo transitivo que navega direta ou indiretamente no contexto. Dependendo de valoração numa frase, pode causar admiração ou espanto. Indireto o é no sujeito oculto nas redes sociais. Quando o transito indireto, há sensação de melhor segurança, de não comprometimento, e assim poderá denotar um vago senso de sabedoria. Ilude-se quem responde e acha-se estar a salvo de contestações legais (Decreto-Lei 4.113/1942 e Código Civil) e éticas (parágrafo 2º do artigo 37 do Código de Ética Médica e demais artigos do Cap. XIII, que trata sobre a Publicidade Médica e Resolução CFM 1.974/2011).

Listei (do Obvious) os 14 motivos que as pessoas têm para não responder às suas mensagens e que o problema pode estar em você, no senso de urgência e na forma como administra suas expectativas em torno de atenção. Quando essas mensagens são evitadas ou esquecidas, urge a frustração e desilusão.

Esses motivos os são e o caro leitor pode pensar em outros 5 a 10:

  1. Algumas pessoas não respondem porque simplesmente não querem;
  2. As pessoas precisam trabalhar e estão ocupadas e respondê-las demandariam tempo e raciocínio, prejudicando o cumprimento de suas obrigações;
  3. Responder ou não principalmente quando as mensagens são (como neste texto!) longas, extensas e cansativas, demandando tempo maior ao ler, raciocinar e digitar a resposta, algo que pode não se dispor de imediato;
  4. Por esquecê-la (ou a indiferença pelo pouco impacto dela causado) e a preguiça em discutir um assunto melhor dissecado “ao vivo e a cores”;
  5. Por mágoa, ressentimentos que seriam reanimados se dessem cabo a conversa (é o que se vê: brigas na polarização terapêutica e rachaduras em antigas amizades de colégio e faculdade);
  6. Porque algumas pessoas simplesmente ignoram;
  7. Por esquecimento mesmo ou distração;
  8. Não responder porque isso pode aumentar seu senso de importância (ego) no ínterim do tempo em que sua atenção é solicitada;
  9. Porque isso talvez possa afetar seu ego de maneira negativa;
  10. Não respondem por estarem sendo bombardeados por inúmeras outras mensagens nesses tempos que os chamo de “tempos pandemônicos”;
  11. Porque a bateria de seu mobile está por acabar (e é a desculpa mais comum e plausível);
  12. Porque as pessoas mais velhas não se importam com as mensagens por esse meio, preferindo o método antigo de telefonar ou encontrar-se com a pessoa, se possível;
  13. Por serem mais lentas em ler e a retornar textos, como parte de seu próprio fluxo pessoal, que é mais devagar; e
  14. Alguns não respondem as suas mensagens, pois simplesmente não gostam de você!

O WhatsApp foi criado em 2009 e isso mudou a dinâmica de nossa comunicação instantânea; ela foi calorosamente acelerada e mais trabalho de adaptação a um maior volume de dados e conexões criadas quase instantaneamente (e em voga hoje as plataformas coletivas como o Zoom e o Bluejeans). Informações de todas as correntes de pensamentos e de todo o mundo plugado na rede. Pessoas com currículos estrelares, outras nem tanto, afirmando por a+b suas convicções e bolhas de informações, onde se fecham e acreditam para não se sentirem sufocadas.

Nossa atenção é disputada por diversas vertentes que nos distraem (e as mensagens em que há uma palavra ofensiva como chamativo dela nos atraem ainda mais), parecendo uma mais interessante do que a outra. E isso gera fama a quem posta, traduzindo-se pelo número de seguidores que se possui. E viram celebridades instantâneas! E dificultam nosso tirocínio e concentração em onde está a verdade dos fatos?

Nosso processamento cerebral de atenção é limitado por razões evolutivas, assim sendo crível reduzir o senso de urgência ao responder ou repassar uma postagem, em detrimento da “overdose” de dados e informações recebidas. Impossível processar a todas. Ganhar a atenção é o que importa; nada mais, nem a credibilidade conta. Não filtramos as mensagens nem se permite o devido direito ao contraditório. Presente menos de meio dia na rede, uma postagem quintuplica suas dezenas e dezenas de compartilhamentos. Assim, damos importância como úteis às variâncias circunstanciais.

Vivemos uma época excepcional, como o mundo já não tivesse passado por tantas outras em séculos passados. Saibamos discernir, na chamada sociedade da informação, as novas formas de pensar, a comunicação afeita aos fatos e a experimentação do tempo, senhor da verdade.

*Thadeu Brenny Filho é conselheiro do CRM-PR e membro da Codame – Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos.

**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.

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