30/06/2008

Balanço: Congresso celebra 100 anos de contribuição japonesa

Para comemorar os 100 anos da imigração japonesa ao Brasil e toda a contribuição que este povo trouxe não só à medicina brasileira, mas ao país, a Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Médica Japonesa (AMJ), Associação Paulista de Medicina (APM), Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Governo do Estado de São Paulo promoveram, nos dias 19 e 20 de junho, em São Paulo, o Congresso Médico do Centenário Brasil-Japão.

"Faz 100 anos que reconhecemos a contribuição dos japoneses e não poderia haver ocasião melhor para celebrarmos senão no centenário da imigração", disse José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB, durante a abertura oficial.

O presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, que também estava presente, ressaltou a coragem dos japoneses. "Esta é uma homenagem aos avós de vocês, que cruzaram dois oceanos, caíram no desconhecido absoluto e conseguiram fazer deste pedaço do planeta um país melhor", disse.

"É um privilégio conviver com povos de cultura tão diferentes da nossa, notadamente os japoneses", destacou o presidente da APM, Jorge Carlos Machado Curi.

Também compuseram a mesa solene Kazuo Iwasa, vice-presidente da AMJ; Henrique Carlos Gonçalves, presidente do Cremesp; José Roberto de Andrade, assessor especial de assuntos internacionais do governo de São Paulo e representante do governador José Serra; Nise Yamaguchi, representante do ministro da Saúde, José Gomes Temporão; e Akira Ishida, coordenador do evento.


Módulo I - A Medicina Japonesa

Durante a primeira parte do evento, Iwasa falou sobre o sistema de saúde no Japão, que direciona 8% do PIB ao setor; os ante o envelhecimento da população, pois estima-se que em 2020, 30% dos habitantes japoneses terão mais de 65 anos; e o controle dos gastos sem afetar a qualidade e a garantia do sistema. "Uma das lutas da AMJ é fazer com que a economia se adeqüe à medicina, e não o contrário", disse Iwasa.

Em seguida, Masami Ishii, membro da comissão executiva da AMJ, explicou como funciona a entidade, que congrega 60% dos 270 mil médicos do Japão. Uma das frentes de trabalho é o programa de educação médica continuada, um índice social que atesta o envolvimento do médico com sua formação. "A AMJ procura assegurar a autonomia e o exercício livre da profissão médica, de modo a aumentar a confiabilidade dos pacientes", explicou Ishida.

Encerrando o primeiro módulo sobre a medicina japonesa, foi lançado o livro "Médicos descendentes de japoneses: sua passagem pela casa de Arnaldo" de autoria do médico Henrique Walter Pinotti.


Módulo II - Contribuição dos japoneses e seus descendentes à medicina brasileira

Esta seção foi aberta por Seigo Tsuzuki, ministro da Saúde durante o governo Sarney (1985-1990), que contou um pouco da história dos médicos japoneses que pioneiramente desbravaram regiões afastadas dos grandes centros urbanos para atender os imigrantes que ali se instalavam. Estes profissionais já tinham alguma experiência na área médica e traziam tranqüilidade aos patrícios que, padecendo com doenças como tuberculose e blastomicose sul-americana, não conseguiam ser atendidos pelos médicos brasileiros por causa da barreira do idioma.

Milton Massato Hida, Eduardo Hayashi, Marcos Paulo Tiguman e Yuji Ikuta homenagearam alguns dos que ajudaram a formar as comunidades médicas nikkeis nos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará. Segundo dados apresentados, o Brasil possui 1,5 milhão de nikkeis; 75% deles estão em São Paulo, 15% na região Sul do país. O Paraná tem 17 mil médicos ativos, sendo 1.300 nikkeis; Campo Grande, capital de MS, possui 2.068 profissionais ativos, sendo 223 nikkeis; já o Pará possui 5.622 médicos inscritos no CRM-PA, e 135 têm origem japonesa.

Jorge Nakauchi, Milton Ozaki e Saburo Sugisawa abordaram o lado empreendedor destes pioneiros, que deram início a grandes instituições como os hospitais Nipo-Brasileiro (Enkyo), fundado em 1959 para dar assistência social, moral, material às pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social; Santa Cruz (Dojinkai), criado em 1926 devido à preocupação do governo japonês com a saúde de seus emigrados e hoje uma referência no atendimento de alta complexidade; Universitário Santa Casa de Curitiba e Sugisawa, ambos no Paraná.

Jacqueline Takayanagi Garcia relatou o trabalho desenvolvido com os idosos que têm algum grau de dependência funcional ou cognitiva e, por isso, vivem em institutos de longa permanência. Ela destacou, no caso dos nikkeis, a importância de valorizar a cultura japonesa. Fernando Fujisawa relatou as atividades da ABEUNI (Aliança Beneficente Universitária), que visa melhorar a qualidade de vida da população por meio do atendimento humanizado e solidário feito através de caravanas assistenciais que circulam por todo o Brasil.

Ainda neste módulo, Masayuki Okumura, Osvaldo Takayanagui, Ademar Yamanaka, Emilia Inoue Sato, Milton Hida, Tsutomu Aoki, Sergio Ossamu Ioshii e Emilio Moriguchi destacaram alguns nomes que contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas faculdades de medicina da USP, USP-Ribeirão Preto (atualmente com 83 professores nikkeis), Unicamp, Unifesp (quatro nikkeis são professores titulares e, até 2007, 745 nikkeis graduaram-se em medicina), Unesp-Boticatu (possui programa de intercâmbio Brasil-Japão há 31 anos e quatro nikkeis titulares), Santa Casa de São Paulo (desde sua fundação, em 1963, já formou 512 descendentes de japoneses), Universidade Federal do Paraná (atualmente conta com 14 professores nikkeis), PUC-PR (10 professores nikkeis) e PUC-RS.


Módulo III - Intercâmbios Brasil-Japão na área da medicina

Claudio Sampei, Milton Hida e Lucy Ito discutiram os sistemas de troca entre os dois países, como as bolsas de estudo e estágio oferecidas pela ASEBEX (Associação Brasileira de Ex-Bolsistas no Japão); os programas entre a Universidade de Keio e a Unesp-Botucatu; e a cooperação da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

Neste mesmo módulo, Hiroo Dohy, da Associação Médica de Hiroshima, apresentou dados comparativos sobre os efeitos tardios provocados pela radiação da bomba atômica lançada em Hiroshima e os efeitos da explosão da usina de Chernobil. Na ocasião, foi anunciado por Jorge Carlos Machado Curi, presidente da APM, o convênio entre a Associação Paulista de Medicina e a Associação Médica de Hiroshima, objetivando intercâmbio técnico-científico entre as entidades.


Módulo IV - A saúde da comunidade nipo-brasileira no Japão e no Brasil

Na última parte do Congresso, Décio Nakagawa, Itiro Shirakawa, Kyoko Nakagawa, Lucy Ito e Luiza Matida trataram dos problemas psiquiátricos que acometem adultos e crianças que vão viver no Japão e das dificuldades dos médicos japoneses em diagnosticar doenças que não mais existem no país.

Já Márcia Tabuse, Sandra Vivolo, Toshiro Tomishige, Nelson Miyajima, Pedro Sakane, Luiza Matsumura, Emilia Sato, Emilio Moriguchi e Roberto Amemiya apresentaram estudos que indicam que ao incorporar hábitos ocidentais, os nikkeis passam a desenvolver diabetes, cânceres gástrico e de cólon e doenças tireoidianas de forma prevalente devido a diferenças metabólicas relevantes.


APM ASSINA CONVÊNIO COM A ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE HIROSHIMA

A APM e Associação Médica de Hiroshima assinaram na manhã desta sexta-feira, dia 20, um acordo de parceria objetivando intercâmbio técnico-científico entre as entidades.

"O foco desta parceria será a troca de informações com base no contexto médico envolvendo tanto o setor público como a área privada", afirma o presidente da APM, Jorge Carlos Curi.

Sem período de validade específico, o acordo buscará trazer experiências vitoriosas de gestões no setor de saúde, estrutura organizacional dos médicos, além de aprimoramento científico.

"Vamos dar especial atenção à Educação Médica Continuada, atualmente o principal foco de atuação da APM", finaliza Curi.

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