Bons médicos e o exame do Cremesp

Muitos formandos cometem erros básicos. Todo dia, são dez denúncias contra médicos, a maioria jovens que saíram das escolas com as piores avaliações.


No dia 11 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) promove exame obrigatório para egressos de escolas médicas.

Até o momento, cerca de 2.500 formandos se inscreveram na prova, que tem amplo apoio de dirigentes de cursos, professores e alunos. Além de não ser punitivo, o exame preservará a confidencialidade dos resultados individuais.

Em sete anos de exame voluntário, empregando as melhores tecnologias disponíveis e seguindo modelos validados internacionalmente, o Cremesp avaliou 4.821 alunos de sexto ano de medicina.

O resultado é alarmante: a metade foi reprovada devido a erros em condutas elementares de diagnóstico e tratamento.

Por força de lei, o Cremesp não pode negar o registro profissional ao aluno reprovado, porém agora exigirá a participação no exame para a inscrição no CRM.

A legislação permite ao médico recém-graduado exercer a profissão em qualquer campo da medicina. Praticamente não há reprovação durante o curso e, como agravante, metade dos concluintes não encontra vagas na residência médica, considerada o melhor modelo de especialização.

São insuficientes as avaliações das próprias escolas ao longo da graduação e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) do MEC só fez reduzir temporariamente vagas em alguns poucos cursos de medicina, que logo voltaram à sua carga total nos vestibulares.

O momento é de discutir a qualidade e não só a quantidade de médicos. O número de cursos de medicina no Brasil não para de crescer -já são 198 em 2012, sendo 116 privados, com mensalidades acima de R$ 4.000. As atuais escolas formarão mais de 18 mil novos médicos por ano, sem contar as mais de 2.400 novas vagas anunciadas pelo governo federal. Muitos cursos funcionam sem corpo docente qualificado e sem hospitais-escola para estágio prático dos estudantes.

É preciso frear a deterioração do ensino da medicina. Cada vez mais jovens médicos saem das escolas sem formação, competências e habilidades imprescindíveis. Ao iniciar a vida profissional em prontos-socorros e em unidades públicas, médicos mal formados colocam em risco a saúde daqueles que mais precisam de assistência.

Todos os dias o Cremesp recebe, em média, dez denúncias contra médicos. Um médico é cassado em São Paulo todo mês. São mais de 3.000 processos éticos em andamento, boa parte por erro médico, consequência, entre outros fatores, da má formação. Infelizmente, nos julgamentos, temos assistido a condenação de muitos médicos jovens formados em escolas que obtiveram as piores avaliações.

Antes opcional, o exame sofria boicote de algumas escolas paulistas e de estudantes que temiam pelo resultado negativo. Em visita recente às faculdades, para debater o exame, o Cremesp ressaltou que todos sairão ganhando com a ampliação da avaliação externa e isenta do ensino médico.

O resultado poderá nortear o aprimoramento dos participantes. Governo e dirigentes de escolas conhecerão as deficiências do ensino médico. Conselhos de Medicina e parlamentares terão argumentos para debater a instituição de um exame nacional obrigatório a egressos de cursos de medicina. Por fim, ganha a sociedade, que estará mais segura nas mãos de bons médicos.


Artigo escrito por Renato Azevedo Júnior, 57, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e Braulio Luna Filho, 59, e Reinaldo Ayer De Oliveira, 67, conselheiros e coordenadores do Exame do Cremesp.


Fonte: Folha de S. Paulo.


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