Burnout e Depressão: o overlap em médicos intensivistas

Roberta Fittipaldi Palazzo

Desde a sua primeira descrição, em meados dos anos 70, nunca se falou tanto em burnout como nos tempos atuais. Burnout é o termo que engloba a síndrome caracterizada por alterações dos aspectos emocionais, exaustão, despersonalização e redução do desempenho profissional. Ligado diretamente ao estresse ocupacional crônico, o burnout pode contribuir para o desenvolvimento de erros médicos e suicídio.

Um dos grupos médicos mais afetados é o dos intensivistas. Não é difícil compreender os motivos: longas jornadas de trabalhos, noites acordados, vivência diária de situações de estresse extremo, contato com familiares e pacientes em quadros extremos de vida e proximidade constante com a morte. Somado a isso, pressões de gestores, serviços e seguros de saúde; um prato cheio para o desenvolvimento da síndrome.

No entanto, seu diagnóstico é complexo. Muitos profissionais se escondem atrás de situações do dia a dia para justificar que não estão doentes. Além disso, o medo do preconceito e da perda de emprego também contribuem para que o médico não procure ajuda ou muitas vezes subestime o problema.

Nesse contexto, a síndrome de burnout muitas vezes pode ser erroneamente diagnosticada como depressão.

Apesar de muitas vezes o burnout severo possuir características da síndrome depressiva, as duas são condições distintas. Em estudo publicado em setembro de 2017, na revista Critical Care Medicine, 218 profissionais de unidades de terapia intensiva, dentre eles médicos e enfermeiros, responderam a um questionário onde tentava-se diferenciar o burnout da depressão. Destes profissionais 31% apresentavam sintomas de burnout , enquanto somente 7% apresentavam sintomas depressivos. Tal resultado sugere que os diagnósticos não são interligados, mas sim que coexistam sintomas semelhantes em síndromes diferentes.

O artigo também sugere a monitorização constante dos profissionais de UTIs como uma "busca ativa" pelos sintomas de burnout para atuação e diagnóstico precoce, objetivando um impacto na saúde do staff e consequente redução de custos em saúde. 

Por fim, o burnout ainda é um problema de saúde pouco acessado, seja por dificuldade de acesso ao diagnóstico, seja por falta de dados que possam precisar o diagnóstico e consequentemente tratamento correto da síndrome.

Referências: The Overlap Between Burnout and Depression in ICU Staff, Critical Care Medicine; set/17

*Dra. Roberta Fittipaldi Palazzo é médica pneumologista e intensivista. Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Professora da Pós-graduação em Terapia Intensiva HIAE. Cursando doutorado em Pneumologia FMUSP. Médica Assistente UTI Respiratória FMUSP.


**Artigo originalmente publicado em 13 de fevereiro de 2019 no site Academia Médica (www.academiamedica.com.br)

***As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.

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