21/09/2007

CFM deve lançar resolução para regulamentar os cuidados paliativos em medicina



No Brasil, é crítica a qualidade de vida de uma pessoa com doença grave, sem possibilidade de cura. Mais de 70% desses pacientes dão entrada em atendimentos com dores e fragilizados. E o que é pior: 50% deles morrem sentindo dor. Internada em hospitais e unidades de saúde afins, a maioria não é tratada de forma adequada, com direito, além da terapêutica e da medicação, à assistência interdisciplinar, emocional e à psicossocial que, aliás, teriam de se estender também aos familiares, se contássemos no Brasil com uma política pública direcionada aos cuidados paliativos.

No Canadá, com 30 milhões de habitantes, existem cerca de 10 mil serviços de cuidados paliativos. No Brasil, que já beira a marca de 200 milhões de habitantes, há pouco menos de 20 serviços cadastrados.

Cerca de 20 a 30% dos leitos UTI são ocupados por pacientes que necessitam de cuidados paliativos. Boa parte poderia receber uma assistência adequada em casa, abrindo vagas para outros pacientes que precisam de intervenções terapêuticas avançadas.

6 de outubro: Dia Mundial de Cuidados Paliativos

Médicos formam frente de entidades para garantir qualidade de vida aos pacientes sem possibilidade de cura

Em 6 de outubro de 2007, Dia Mundial de Cuidados Paliativos, haverá em todo o planeta mobilizações realizadas em prol das ações paliativas e da qualidade de vida do cidadão sem cura. Trata-se de um desdobramento da campanha mundial batizada com o slogan Através das Idades: da Infância à Terceira Idade. Em São Paulo, a Associação Paulista de Medicina (APM), a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e a Casa do Cuidar (organização da sociedade civil de interesse público) constituíram uma frente para chamar atenção para o problema. Farão uma série de atividades com o intuito de conscientizar médicos, outros agentes de saúde, cuidadores e a população sobre a relevância de garantir o bem-estar e a dignidade dos pacientes até o último instante.

"Pela manhã, às 9h na APM, teremos um encontro com profissionais da saúde para difundir a importância dos trabalhos da Organização Social Casa do Cuidar e promover a capacitação de agentes em cuidados paliativos, já que uma das barreiras nesse campo é justamente a falta de conhecimento entre os médicos. Será uma celebração que, contará inclusive com a encenação do monólogo Gandhi, um líder servidor, adianta dra. Maria Goretti Maciel, presidente da ANCP e responsável pelo Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE).

Às 15h, acontecerão atividades culturais no Anfiteatro do Parque Villa Lobos, com a apresentação gratuita da Orquestra Filarmônica de Violas, aberta à população.





PROGRAMAÇÃO



9h30 - ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Abertura

Apresentação do Monólogo : Gandhi um Líder Servidor

Ator: João Signorelli



15h00 - PARQUE VILA LOBOS

Apresentação Orquestra Filarmônica de Violas

Parque Vila Lobos

Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1655 - São Paulo - SP



Quadro no Brasil

Segundo levantamento da ANCP, é limitado o número de instituições brasileiras com atendimento integrado aos cuidados paliativos. "No Canadá, com 30 milhões de habitantes, existem cerca de 10 mil serviços de cuidados paliativos. Nos EUA, anualmente, mais de 1 milhão de pessoas são atendidas sob cuidados paliativos. No Brasil, com mais de 189 milhões de habitantes, temos pouco menos de 20 serviços cadastrados. A carência é enorme", afirma a dra. Ana Cláudia Arantes, coordenadora do Grupo de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos do Hospital Albert Einstein e presidente da Casa do Cuidar.

Apesar de poucos, os serviços em cuidados paliativos demonstram resultados positivos. "Em São Paulo, no Hospital das Clínicas, constatamos que 71,6% dos pacientes sentiam dor no primeiro dia de atendimento. Entre eles, cerca de 44% apresentavam dor intensa. Entretanto, com uma semana de assistência, conseguimos obter o controle da dor em metade desses pacientes", destaca o geriatra dr. Toshio Chiba, coordenador do Ambulatório de Cuidados Paliativos da Clínica Geral do Hospital das Clínicas.

No HSPE, também em São Paulo, o serviço começou em 2000. Estima-se que mais de 2 mil pacientes já tenham sido atendidos. Cerca de 50% deles foram assistidos e acompanhados em domicilio, os demais passaram por internações de 10 a 15 dias. Dependendo das condições do enfermo, o objetivo é mantê-lo o maior tempo possível em casa, pois o tempo e a qualidade de vida são maiores/melhores com o amparo da família.

"Além de o paciente estar sempre acompanhado de uma pessoa da família, a mesma equipe de profissionais o atende na residência, responsabilizando-se pelo tratamento, alívio dos sintomas e até pelo apoio e preparação para a despedida. Isso alivia bastante o sofrimento de todos os envolvidos", pondera a dra. Maria Goretti.


Desconhecimento médico e leitos mal-utilizados

A falta de investimento na medicina paliativa nacional é decorrência da escassez de informação da sociedade. Advém ainda do preconceito de muitos profissionais, da inexistência de políticas públicas e, inclusive, da ausência de educação médica específica. "O grau de abrangência do atendimento em cuidados paliativos é muito baixo, pois os profissionais de saúde têm pouco ou nenhum conhecimento da questão e, assim sendo, pouco podem oferecer de conforto aos pacientes que assistem", comenta a dra. Ana Cláudia.

Conforme dados do IBGE (2001) e da Fundação SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados - 2000), as principais causas de morte entre os brasileiros são os cânceres, acidentes vasculares cerebrais, infartos agudos do miocárdio e DPOC. Estas patologias são apenas algumas das inúmeras que podem ser tratadas com cuidados paliativos, contribuindo inclusive para liberação de leitos em hospitais.

"Cerca de 20 a 30% dos leitos de uma UTI são ocupados por pacientes que necessitam de cuidados paliativos. Quando já não há mais possibilidade de cura, os cuidados paliativos contribuem significativamente para o controle da dor e de outros sintomas. Então, boa parte desses pacientes poderia receber uma assistência adequada em uma unidade de internação destinada a cuidados paliativos ou mesmo em casa, mantendo os cuidados e assistência em domicílio. O ideal é que haja mais serviços específicos nesta área até para que os leitos das UTI´s sejam liberados para pessoas que precisam de outras intervenções terapêuticas avançadas", explica dr. Toshio Chiba.

Segundo o presidente da Associação Paulista de Medicina, dr. Jorge Machado Curi, a discussão quanto à terminalidade da vida dá maior amplitude a questão dos pacientes sem possibilidade terapêutica. No entanto, ainda é preciso intensificar a difusão dos cuidados paliativos. "Nesses casos, a junta médica deve trocar a postura de investir exageradamente em terapêuticas muitas vezes agressivas e infrutíferas - distanásia - para dar prioridade à qualidade de vida do paciente, com assistência paliativa e conforto - ortotanásia".


CFM lançou resolução

Com a aprovação da Resolução 1805, de 2006, sobre a terminalidade da vida, o Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio de sua Câmara Técnica de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos, trabalha agora para ampliar a abordagem à área de cuidados paliativos. Em breve, haverá o lançamento de uma resolução própria para dar parâmetro a questão em toda a medicina.

"A discussão caminha no sentido de que o CFM reconheça a área de cuidados paliativos como especialidade médica, o mesmo ocorrendo com a Associação Médica Brasileira e a Comissão Nacional de Residência Médica. Desta forma, este segmento primordial para os pacientes incuráveis ganhará maior visibilidade tanto para a sociedade quanto para a saúde e as entidades médicas", ressalta o dr. Reinaldo Ayer de Oliveira, membro da Câmara Técnica de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do CFM.
A Câmara Técnica tem se reunido regularmente em função do tema e a previsão é de que a Resolução seja lançada ainda este ano.

"O objetivo é tornar os Cuidados Paliativos uma disciplina nas universidades brasileiras, do mesmo modo que o tratamento de doenças é ensinado. É a maneira ideal para a formação de médicos mais humanos e dedicados aos pacientes", informa dra. Maria Goretti, que também participa das discussões do CFM.


Experiências internacionais

Certamente, desde o início de sua existência, o ser humano tenta aliviar o sofrimento dos que se encontram em fim de vida. No entanto, este fato é bem documentado só a partir da Idade Médica, tempos das Cruzadas, quando as hospedarias (hospices) recebiam os doentes e lhes davam assistência geral com alimentos, conforto espiritual e o que mais fosse possível. À época, as medicações tinham eficácia limitada, portanto, os cuidados eram símbolo de uma nova filosofia para aqueles sem possibilidade de cura.

O desenvolvimento deste novo método se deu a partir do século XX, com a fundação da hospedaria St. Christopher´s Hospice em Londres em 1967, data considerada o início dos cuidados paliativos modernos. Daí em diante, as hospices se proliferaram em diversos países desenvolvidos, como França e Estados Unidos, que aperfeiçoaram e investiram em medicina paliativa.

Por outro lado, ainda hoje, os países em desenvolvimento, como o Brasil, desconhecem a eficácia e importância dos cuidados paliativos. Boa parte da sociedade, inclusive dos profissionais da saúde, pouco conhece sobre a filosofia. A falta da capacitação médica, o preconceito e a inexistência de políticas públicas nesse sentido são os principais agravantes, vale repetir.

Com intuito de mobilizar o mundo quanto a necessidade de medicina paliativa, em 6 de outubro de 2007, Dia Mundial de Cuidados Paliativos, a Voices for Hospices, hospedaria de Londres, organiza a campanha Através das Idades: da Infância à Terceira Idade. Em todo o globo, mais de 500 concertos musicais serão realizados com o objetivo de chamar a atenção para os cuidados paliativos.



Reflita

A população do mundo está envelhecendo. Em 2000, havia 600 milhões de pessoas com 60 anos ou mais; em 2025 haverá cerca de 1,2 bilhões de pessoas e, em 2050, cerca de 50 a 70% desses indivíduos necessitarão de cuidados paliativos.
A dor em crianças é subidentificada e subtratada pelo fato de muitos profissionais de saúde não terem acesso aos analgésicos ou simplesmente por não terem sido treinados para usá-los.

Cerca de 40% de todas as admissões para programas de hospice na África do Sul, de 2005-2006, foram de crianças e jovens com até 21 anos de idade.
Nos Estados Unidos, 80% das crianças com câncer até 15 anos são curadas. Entretanto, 80% das crianças com câncer do mundo vivem em países pobres, com alto risco de morte devido ao diagnóstico tardio, à falta de tratamento e cuidados paliativos.


"Mesmo quando não há chance de cura, é possível viver até o último momento de forma tranqüila e sem sofrimento", conclui dra. Maria Goretti. (Fonte: Voices for Hospices)


Fonte: Acontece Comunicação e Notícias

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