Carnaval sem traumas

Eduardo Murilo Novak

Ouvimos quase todos os dias que álcool e direção não combinam. Quando se aproximam datas festivas e feriados prolongados, isso é mais destacado ainda. Então, repete-se a dica: “álcool e direção não combinam”. Certo. E qual a novidade deste artigo
 
Ora, lembrar que não são só acidentes de trânsito que matam ou machucam gravemente. 
Nós ortopedistas atendemos situações que poderiam ser, se não evitadas, ao menos ter o risco diminuído. 
Aquele churrasco em que, depois de três latas de líquido refrigerante, o sujeito resolve afiar a faca e vem a cortar o seu dedo, comprometendo para sempre o funcionamento normal da mão, nunca é lembrado como alerta nessas festas. 
 
Lavar aquele copo de cristal, longo e estreito, que foi dado no casamento pela querida vovó, pode também cortar tendões e nervos da mão, com aquele prejuízo terrível. 
 
Aproveitar o feriadão de sol e fazer a limpeza da calha da casa, que está há um ano transbordando por causa das folhas, pode gerar uma queda de uma altura que equivale a um acidente grave de carro. Paraplegia, tetraplegia, fratura exposta de perna, trauma de crânio, destruição dos ossos do pé, fazem parte das consequências dessas ações que um pronto-socorro atende no dia-a-dia. O mesmo se diz para subir no telhado para reparar aquela telha que quebrou com o último vendaval.
Arrumar o sótão, valendo-se daquele banquinho preto cambaleante de plástico, ou mesmo aquela escada manca,  para alcançar a tampa do alçapão, também pode trazer consequências indesejáveis. 
 
Cortar aquela ponta de madeira daquele banco de festa, com a serra elétrica portátil, também pode levar a uma amputação do dedo, ou mesmo da mão. Chamar os avós para uma visita, e se esquecer de tirar os “tapetinhos” que você espalhou pela casa, ou de recolher antes os brinquedos que as crianças espalharam pelo chão, pode ser catastrófico. O feriado pode se transformar num périplo por um hospital para fazer uma cirurgia no colo do fêmur. 
 
Enfim, acidentes domésticos enquanto são batida do “minguinho” do pé no canto da porta (aiii!), embora absolutamente indesejáveis, não vão deixar ninguém numa cadeira de rodas. Mas aqueles outros... 
 
Algumas dicas para evitar acidentes domésticos: 

» copos longos devem ser lavados com instrumentos apropriados; não colocar a mão com a esponja por dentro, pois a pressão pode vir a quebrar e cortar a mão
» tapetinhos devem ser evitados em casas que têm idosos; o mesmo vale para brinquedos dos netos
» subir em telhado ou calhas é coisa para profissional; essa história de “faço isso desde pequeno e nunca aconteceu nada” é parecida com a do motociclista que diz que conduzia a moto há 20 anos sem nunca ter se acidentado, e que justamente hoje alguém furou o sinal e ele se deu muito mal
» ao necessitar alcançar coisas no alto, em casa, tenha escadas apropriadas; sempre procure pontos externos de apoio para as mãos, no caso de escorregar. E não deixe de pedir para alguém ficar próximo, seja segurando a escada, seja dando a mão. Aqueles banquinhos pretos que ficam no canto da casa devem ser usados somente para sentar, e não para subir
» serras elétricas devem ser usadas por profissionais, que saibam qual máquina se destina a tal fim. Há máquinas feitas para determinado tipo de material, que são usadas para outra finalidade. Aí, mesmo profissionais podem vir a se machucar.
*Dr. Eduardo Murilo Novak é médico ortopedista do Hospital Nossa Senhora das Graças (Curitiba), presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - Paraná, e conselheiro do CRM-PR.

**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.

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