10/05/2006
         Certificação: necessidade ou obrigação?
         
         No ultimo ano, a categoria médica se envolveu em debate acerca da obrigato-riedade do Certificado de Atualização Profissional,
            promulgada pelo Conselho Federal de Medicina e que passa a valer a partir deste ano, com as suas normati-vas já estabelecidas,
            e a Comissão Nacional de Acreditação avaliando e pontuando um grande rol de atividades, dentro de cada especialidade reconhecida
            pela AMB.
            
E como sempre entre os médicos as opiniões divergem e as contradi-ções abundam, as críticas a favor ou contra se instalam.
            Há colegas execrando a normativa e a obrigatoriedade com vários argumentos, entre eles a inconstitucionalida-de, a legitimidade
            do direito adquirido, a interferência das Sociedades de Especia-lidade no livre arbítrio do exercício profissional pleno,
            entre tantos outros.
            
É importante deixar claro mais uma vez aos colegas que o seu patrimônio de conhecimentos se dete-riora e deve ser "recicla-do"
            a cada três anos. Para nos mantermos razoavel-mente" informados", necessitamos ler aproxi-madamente vinte traba-lhos por dia.
            Um grande número de nossos pacientes não recebe tratamento adequado, e somente 50 a 60% dos medicamentos atualmen-te em uso
            são comprova-damente eficazes. Apesar do assombroso progresso da ciência médica, ainda curamos pouco. Nós médicos padecemos
            cronicamente das incertezas do saber, do ter e do poder, como dizia o Prof. Amílcar Gigante. Nas incertezas do saber está
            a falta de conhecimentos, resultante de pressões econômicas, da indústria, da falta de atitudes pró-ativas e da ignorância
            e resistência às mudanças.
            
Nossos pacientes estão cada vez mais exigentes e protegidos como consumi-dores. Nós, médicos estamos em grande número,
            facilmente acessíveis e não temos mais () poder de encanta-mento, como "o mágico que não revela o seu truque". Não temos estratégias
            de ações enquanto categoria profissional, pensamos e agimos narcisisticamente, não temos "lobby" eficiente... Daí a campanha
            pela Lei do Ato médico, que não decolou e não definiu os papéis tão necessários para o enquadramento e regula-mentação de
            nossa profissão.
            
E com estas e tantas outras rel1exões que poderíamos alo cal', ainda temos resistência à mudanças salutares, pois, afinal,
            o contraditório faz parte do processo.
            
A certificação é importante para um processo construtivo, protetor dos bons profissionais, e que se aprimorará com o tempo.
            Não há outro caminho que não o da ciência, da ética, de atitudes e de posturas que convirjam para uma assistência médica de
            excelência. E que não nos intimidemos com as avaliações, afinal somos calejados em processos avaliatórios, dos bancos universitários
            a cada um dos enfermos que atende-mos, que fazem juízo de nossa ação a toda hora e o tempo todo.
            
            
Cesar Alfredo Pusch Kubiak, professor de Clínica Médica da Unicenp e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica
            Médica