02/07/2010
Cidades gaúchas tentam barrar serviço pago no SUS
STF decidiu que hospital público aceite pagamento por atendimento melhor
Outras ações do CRM do RS buscam estender a cobrança por privilégios a outros municípios, que são contra a ideia
Prefeituras do Rio Grande do Sul ensaiam uma rebelião contra decisão inédita do Supremo Tribunal Federal que permite a
pacientes pagar para ter privilégios no atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde).
O governo do Estado e as 12 maiores cidades gaúchas são alvo de uma ofensiva do Conselho Regional de Medicina do RS que
busca, no Supremo, obrigar o sistema público a operar com a chamada "diferença de classe".
Trata-se da possibilidade de pacientes pagarem uma diferença para obter acomodações melhores em hospitais públicos. Médicos
também poderão cobrar pelo serviço diferenciado.
A entidade que representa os médicos já obteve vitória em uma das ações movidas.
Em dezembro de 2009, o ministro do STF Celso de Mello decidiu que o Hospital Filantrópico São José, em Giruá (474 km de
Porto Alegre), poderia cobrar pelo atendimento diferenciado no SUS.
Com 18 mil habitantes, a cidade se tornou símbolo da controvérsia sobre a igualdade entre usuários no sistema e detonou
uma mobilização de municípios e Ministério Público contra privilégios.
O prefeito de Giruá, Fabiam Thomas (PDT), anunciou que não cumprirá a decisão porque ela permite que pacientes com poder
aquisitivo maior furem a fila de internações no hospital ao serem encaminhados por médicos não credenciados pelo sistema público.
"A diferença de classe na saúde pública é inconstitucional e criminosa. Vamos tentar quebrar essa decisão e estamos preparados
para não facilitar o cumprimento, pagando a multa", afirmou.
MULTA
A desobediência custará R$ 500 por dia ao município. Diante do impasse, pessoas que podem pagar terão que ir à Justiça
para ter o benefício.
O objetivo do prefeito é tornar, na prática, esse privilégio mais demorado do que a fila do SUS.
Giruá vai ainda ingressar com uma ação rescisória, questionando alguns pontos da decisão de Celso de Mello.
"A imoralidade da cobrança suplementar, hoje praticamente extinta, vai voltar com tudo. Médicos poderão cobrar do paciente
e do SUS", avalia Carlos Casartelli, o secretário da Saúde de Porto Alegre.
"Se a decisão se alastrar, significa o fim da equidade do sistema e do próprio SUS", diz Cesartelli.
Os municípios com gestão plena do SUS articulam um lobby contra o privilégio.
No próximo dia 8, secretários, promotores e conselheiros de saúde vão se reunir com o vice-presidente do STF para entregar
um memorial contra a medida.
Fonte: Folha de São Paulo (26/06/2010)