29/11/2010
         Compromisso com a saúde e com os pacientes
         
         Os médicos do Brasil, felizmente, têm uma inserção constante nas discussões sobre políticas de saúde. Nem sempre são ouvidos,
            é verdade. Entretanto, fazem sua parte ao opinar e dar idéias para solucionar os problemas crônicos da assistência e ao defender
            condições adequadas para o exercício da medicina. 
            
Há gestores mal intencionados que jogam contra, afirmando tratar-se simplesmente de lobby. Pura má fé. O fato é que, ao
            intervir politicamente, os médicos apenas reforçam o juramento de Hipócrates; saem em defesa de uma de medicina de qualidade
            e de seus pacientes.
 
            
Veja o que ocorre, por exemplo, no sistema suplementar. É um setor que abarca cerca de 44 milhões de pessoas. Todas pagando
            mensalidades bem generosas com o sonho de ser bem atendida no caso de uma necessidade de saúde. O problema é que não é bem
            isso que têm com retorno. Ao contrário, os órgãos de defesa do consumidor sempre trazem na liderança de seus rankings de reclamações
            planos e seguros saúde.
            
Nesse momento, no meio médico, existe uma mobilização para a moralização do setor. Não poderia ser diferente. Recente
            pesquisa Datafolha, encomendada pela Associação Paulista de Medicina (APM), atesta que 93% da classe sofrem interferências
            das empresas na prática diária. São pressões para reduzir solicitações de exames, de internações, entre outros tantos procedimentos.
            Em suma: um atentado contra a prática da medicina e um risco até à vida dos pacientes.
 
            
Diante de situações como esta, não podemos mesmo calar. O mesmo vale para a questão dos honorários vis pagos atualmente
            tanto na área pública quanto na suplementar. Um profissional que recebe algo em torno de R$ 20 por uma consulta (e que não
            cobra o retorno) das operadoras é obrigado a se desdobrar em inúmeros empregos para perfazer um rendimento minimamente digno.
            O desvio leva a atendimentos expressos, falhas de diagnóstico, estresse do médico e outros complicadores que só prejudicam
            a assistência à comunidade.
 
            
No Sistema Único de Saúde, vale um parêntese, os honorários são ainda piores, assim como o conjunto da obra. O financiamento
            insuficiente gera distorções perigosas, como hospitais sucateados, filas de meses para marcar consultas, carência de medicamentos,
            dificuldade de atrair profissionais para periferias, áreas remotas e de difícil acesso. Todo mundo conhece a extensão do problema
            e o explora ao extremo em campanhas eleitorais.
 
            
No entanto, logo após encerrada a contagem de votos, viram as costas à população e nada fazem para solucioná-lo. Uma prova
            disso é o folhetim em que se transformou a regulamentação de Emenda Constitucional 29. Aprovada há dez anos, a EC 29 ainda
            aguarda normatização para que fiquem bem claros os índices a serem destinados à saúde por cada nível de governo: Federação,
            estados e municípios. A regulamentação também é essencial para definir o que são de fatos investimentos em saúde, o que impedirá
            desvios para outros setores.
 
            
Quando perguntados, os membros do Congresso Nacional, em maioria, dizem ser favoráveis à regulamentação da Emenda. Desculpe,
            mas fica no ar, no mínimo, uma incoerência gritante. Se todos (ou quase) são favoráveis, porque a matéria está parada há uma
            década?
 
            
Enfim, quando os médicos se mobilizam, é para alertar a população e a mídia sobre problemas como esse e muitos outros.
            É mais do que bom senso e direito de cidadão. É compromisso com a medicina, com a saúde e com os pacientes.
 
            
Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica