Conscientizar para salvar



O transplante de órgãos e tecidos é um dos grandes avanços da medicina moderna, sendo atualmente considerado um tratamento eficaz para um grande número de doenças. Deixou de ser algo de ficção científica e ocorre frequentemente, aqui, nos hospitais de nosso estado. Assim sendo, seria razoável supor que deveria estar disponível para quem precisasse, mas infelizmente essa não é a nossa realidade.


A maior fonte de órgãos para transplante são os doadores em morte encefálica. Esta é uma situação irreversível, cujo diagnóstico necessita de uma série exames determinados em lei, e que após a autorização familiar, é capaz de salvar ou auxiliar a vida de até 8 pessoas. A lista de distribuição de órgãos para transplante, em nosso país, é dividida por estados, sendo cada membro da federação responsável pela organização e fiscalização das atividades transplantadoras. Nosso estado, em 2007, possuía uma taxa de doadores efetivos, de 7.6 por milhão de população(pmp), e no primeiro trimestre do corrente ano, de 13 pmp. É evidente que houve melhora nos números, entretanto ainda mantemos uma fraca nona posição entre os demais estados.


Apontar os fatores envolvidos nesses números não é tarefa simples. A engrenagem de eventos que envolve o processo doação-transplante é complexa e multifatorial, não obstante passível de intervenções. O início do processo se dá com diagnóstico da morte encefálica, com a capacitação dos profissionais envolvidos e a conscientização das instituições hospitalares da importância da manutenção e atuação efetiva das comissões intra-hospitalares exigidas por lei.


Superada essa etapa, a autorização familiar é imperativa. Uma miríade de fatores influenciam essa decisão, alguns deles reais como a insatisfação com o serviço de saúde prestado ao seu ente querido, alguns fantasiosos, como o medo de tráfico, distribução injusta, mercado negro dos órgãos e alguns míticos como mutilação do corpo do doador, proibições religiosas e reversibilidade da morte encefálica. Essa negativa familiar é responsável por aproximadamente 45% da não efetivação da doação de órgãos.


Agora em curso, a Semana Nacional de Doação de Órgãos existe para conscientizar a sociedade que existem pessoas que necessitam de transplantes, sendo que em sua maioria esta é a única possibilidade de tratamento. Conscientizar as entidades de classe (médicos, enfermagem, assistência social, administração hospitalar) que treinamento é necessário para o efetivo funcionamento da engrenagem. Também para conscientizar e cobrar o governo que atitudes devem ser continuamente tomadas para aumentar o número de doadores. E, finalmente, para conscientizar as famílias de potenciais doadores a importância da autorização da doação de órgãos. Nessa semana, conscientizar é o verbo em voga.



Artigo escrito pelo médico Fábio Silveira.

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