08/12/2014
Vídeo do evento estará disponível para visualização nos próximos dias no canal do CFM no You Tube
(Foto: CFM)Para trabalhar em estratégias de prevenção ao suicídio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) promoveu o debate: Suicídio, é possível prevenir? Um olhar da sociedade, na tarde da última quarta-feira (3), em Brasília. O filme Elena – da diretora brasileira Petra Costa – embasou a discussão, com participação da plateia, com perguntas, depoimentos e comentários. Cerca de 120 médicos, psicólogos, antropólogos, farmacêuticos, estudantes e interessados no assunto compareceram ao auditório do CFM, em Brasília. Com o avanço na discussão, a Comissão de Ações Sociais da autarquia pretende trabalhar em campanhas sobre o tema no próximo ano.
Na abertura, o presidente do CFM, Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, alertou que o suicídio é um problema de saúde pública e que, com a participação de todos, pode ser reduzido em suas incidências. “Precisamos de uma sociedade engajada na defesa pela vida e gestores comprometidos com políticas públicas que realmente transformem esse cenário”, defendeu. Para ele, quebrar o preconceito salvará muitas vidas. “Aumentar a conscientização e quebrar o tabu é uma das chaves para alguns países progredirem na luta contra esse tipo de morte”.
A mesa debatedora do evento foi constituída por profissionais de diferentes formações. O psiquiatra, diretor do CFM e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Emmanuel Fortes Cavalcanti, apontou que diversos fatores podem impedir a detecção precoce e consequentemente a prevenção do suicídio.
Por outro lado, segundo o psiquiatra, ainda há um problema de subnotificação, que impede de ter dados e ações do Governo para prevenção. “São muitos casos que chegam às emergências como acidentes de carro, ingestão de remédios, tiros, que não são identificados como intenção de se matar”.
(Foto: CFM)Respondendo questionamentos da plateia, Emmanuel Fortes também esclareceu que a genética está na base da doença depressiva, contudo também são considerados o ambiente e o perfil da família para se embasar uma abordagem médica. “O risco de suicídio aumenta entre aqueles com histórico familiar. Mas estes não ocorrem apenas em famílias com históricos de tentativas e atos consumados”.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. O Brasil é o oitavo país em número de casos, com 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. O relatório da Organização das Nações unidas (ONU) aponta que a falta de abertura para o debate sobre o tema atrapalha o trabalho de prevenção de novos casos.
Crescimento entre jovens
Outro ponto abordado pelos debatedores foi o aumento do suicídio entre os jovens na última década. Hoje no Brasil o suicídio é a terceira principal causa de morte nessa faixa etária (14 a 25 anos). “Em um mundo onde as pessoas são estimuladas a serem competitivas com perfil de vencedoras, inclusive bem retratado nas mídias sociais, o individualismo e a solidão preponderam”, alertou o membro da Comissão de Ações Sociais do CFM e mediador do debate, Ricardo Paiva.
Representando o Conselho Federal de Psicologia, (CFP), Marcelo Tavares, se manifestou na plateia sobre os jovens não terem a tendência a ouvirem os adultos. Segundo ele, a aproximação com essa faixa etária é muito complicada, pois “se a abordagem for de forma errada, às vezes, se pode colocar uma ideia que o adolescente não tinha pensado”.
Já o debatedor Ricardo Rezende, padre, antropólogo e professor de Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontou o aumento também do número de casos nos povos indígenas. Ele relatou a situação da tribo Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, que teve 684 casos registrados entre os jovens nos últimos dez anos. “A ausência de perspectiva de futuro levaram esses jovens a tirarem a vida”, apontou. Rezende citou a frase: “Quanto mais profunda é a noite, mais cedo é a madrugada” e pediu para que a plateia interpretasse como “a dor tem um limite e não se pode perder a fé e a esperança na vida”.
Abordagem
De acordo com os debatedores, todo paciente que fala sobre suicídio tem risco em potencial e merece investigação e atenção especial. “Só o fato de estarmos conversando com alguém que já consegue se expressar já é ótimo. Quantas são as que precisam ser estingadas a abrir uma luz no fim do túnel”, apontou Robert Gellert Paris Júnior, membro do Conselho Diretor do Centro de Valorização à Vida (CVV) e diretor do Befrienders Worldwide, organização que congrega entidades de Prevenção do Suicídio em 34 países de todos os continentes.
A cartilha “Informando para prevenir”, publicada recentemente pelo CFM em parceria com a ABP, coloca que a prevenção do suicídio não se limita à rede de saúde, mas deve ir além dela, sendo necessária a existência de medidas em diversos âmbitos na sociedade, que poderão colaborar para diminuição das taxas de suicídio. “A prevenção do suicídio deve ser também um movimento que leva em consideração o biológico, psicológico, político, social e cultural, no qual o indivíduo é considerado como um todo em sua complexidade”.
A íntegra do vídeo do evento Suicídio, é possível prevenir? Um olhar da sociedade estará disponível, na próxima semana, no canal do Youtube do CFM.