Cuidado: estudante de medicina malformado é o médico de amanhã

Divulgado ontem (8), o Exame do Conselho Regional de Medicina reprovou 61% dos estudantes de sexto ano de medicina. É um absurdo já esperado. Afinal, a toda hora vemos escolas médicas sendo abertas sem critério, baseadas em um modelo pedagógico medíocre e inconsistente. São faculdades sem hospital, portanto, não dão aos acadêmicos a possibilidade de conhecer a realidade do atendimento e de aprender em serviço, com mestres qualificados. Ao contrário, normalmente têm corpo docente desqualificado e falhas graves na grade curricular.


Outro agravante é o fato de estas escolas manterem parcerias com vários hospitais ao mesmo tempo, enviando grupos de alunos a instituições de saúde diferentes, com orientações totalmente diversas.


Tais fatos são apenas o desfecho de uma trajetória que já absolutamente equivocada. O disparate se inicia com um vestibular que não seleciona. Basta ter condições financeiras para freqüentar um dos inúmeros cursos de medicina abertos com objetivos meramente comerciais.


Tais instituições, volto a frisar, ostentam corpo docente desqualificado; nem mesmo 30% de professores têm mestrado ou doutorado. Pior do que isso, boa parte não têm nem mesmo titulo de especialização.


A falta de infra-estrutura, de recursos humanos e de materiais nos hospitais para os quais os alunos são encaminhados é grave. Obviamente não conseguem colocar em prática o que não aprenderam em sala de aula.


É preciso dar um basta no desserviço que o governo vem prestando à comunidade e obedecer a rígidos critérios para abertura de escolas médicas. Um documento para normatizar e fiscalizar estas instituições já existe e foi elaborado por uma comissão constituída especificamente para esse fim. Infelizmente, está esquecido por não ir ao encontro dos interesses que envolvem a abertura de escolas médicas.


Está na hora de rever a importância do modelo pedagógico e da metodologia do ensino médico para assistir, com tranqüilidade, à medicina que será levada à população pelas mãos destes futuros médicos.



Prof. Antonio Carlos Lopes é professor titular da Unifesp, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e ex-secretário executivo da Comissão Nacional de Residência Medicado MEC

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