07/05/2008

Curitiba terá hospital cardiológico de última geração

Com 300 leitos, 90% deles para usuários do SUS, o hospital terá recursos da Fundação Takushukai, do Japão. O cardiologista Randas Batista: ''Minha meta é oferecer medicina de ponta para os mais pobres''


Um templo japonês cercado de cerejeiras. É essa a visão do médico cardiologista Randas Batista para o que pode vir a ser o principal centro de cardiologia do Brasil. Serão 300 leitos, 90% deles destinados a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Os equipamentos serão de última geração e permitirão, entre outras coisas, a realização de um cateterismo em meio segundo. Mas o principal recurso do empreendimento são os profissionais por trás do projeto. ''Um hospital se faz de neurônios'', defende Batista.

Ao telefone, Batista apressa o arquiteto que vai acompanhar a obra. Ele tem pressa. Está há quatro meses sem operar. Em Curitiba, deixou o hospital em que trabalhava por não concordar com a administração da instituição. Agora só atua na sala de cirurgia quando sai do País. ''Todas as minhas energias estão concentradas nesse projeto'', desabafa.

A idéia já tem endereço. Será implantada num terreno, nos fundos do Aeroporto Bacacheri, próximo a antiga BR-116, e ao Hospital Vita. A propriedade foi doada a Randas pela Fundação Eunice Winter. Boa parte da flora será mantida e ganhará a companhia de cerejeiras, árvore típica do Japão.
O sonho de Randas irá custar, só na primeira fase, que terá 100 leitos, US$ 10 milhões. O valor será inteiramente pago pela Fundação Takushukai, do Japão. A meta é inaugurar o hospital ainda este ano, aproveitando as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa para o Brasil. No entanto, apesar de não ter paredes, o projeto já possui um equipamento único em todo o país: um ecocardiografo 4D. O aparelho é parte de uma pesquisa da Universidade de Harvard e a Philips e foi entregue a Randas para ser utilizado no aprimoramento das técnicas cirúrgicas desenvolvidas por ele.

Outro equipamento, um tomógrafo de 320 cortes, deve chegar em Curitiba antes do fim do ano. Será o único da América Latina. Só há outro aparelho igual a esse no Hospital John Hopkins, nos EUA. ''Os tomógrafos existentes no Brasil já são de ponta. Geram 64 cortes. Esse é quase perfeito e produz modelos em 3D dos órgãos de forma instantânea'', comemora. Com essa tecnologia é possível realizar, por exemplo, uma endoscopia sem a necessidade de introduzir uma câmera pela boca do paciente.

O setor de radiologia também terá equipamentos de ponta. ''Tudo será digital. O paciente faz o exame e a imagem vai direto para o computador'', descreve. Esse tipo de tecnologia permite que o médico faça exames durante a cirurgia e tenha acesso aos resultados diretamente no centro cirúrgico, através de computadores. ''É tudo muito rápido, e com definição melhor que os equipamentos existentes'', diz.

O hospital servirá de centro irradiador das técnicas cirúrgicas criadas por Randas. O cirurgião possui oito procedimentos originais desenvolvidos por ele. A mais famoso é a chamada Operação Batista, uma técnica na qual é removida uma parte do ventrículo num coração hipertrofiado. A cirurgia reduz a mortalidade em pacientes que estão na fila do transplante do coração. Segundo Randas, o hospital estará de portas abertas para instituições de ensino. ''Vamos investir em pesquisa e no treinamento de jovens profissionais desde a faculdade'', adianta.

Todo o atendimento vai ter como público-alvo os usuários do SUS. ''Minha meta é oferecer medicina de ponta para os mais pobres'', revela. Enquanto hospitais e médicos do sistema público reclamam dos valores pagos pelo governo para o atendimento médico, Randas acredita que vai conseguir ter um superávit suficiente no hospital para garantir o investimento na ampliação. ''O que o SUS paga não é muito, mas é só saber gerenciar, negociar preços, administrar custos'', diz.

Os pacientes particulares e clientes de convênios também serão aceitos no hospital. ''Acho que toda inovação tem que estar acessível a todos'', defende. O médico adianta que deixará equipamentos e recursos do hospital disponíveis, inclusive para outros médicos e instituições de saúde.

Para provar que conseguirá manter o hospital no azul, Randas conta que, quando gerenciou o Hospital Municipal de Foz do Iguaçu, tinha em mãos um orçamento mensal de R$ 800 mil. ''Conseguimos manter o atendimento gastando só R$ 600 mil'', diz. O segredo, explica, está na negociação com laboratórios. ''A gente negocia para pagar R$ 0,80 por um remédio que custa R$ 1. O problema é que tem gente que paga R$ 1,50 pelo mesmo medicamento'', acusa.


Fonte: Folha de Londrina

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