D. Maria, gestante brasileira

Maria das Dores Silva, 35 anos, divorciada, empregada doméstica, grávida de 8 meses, queixou-se de dor lombar no meio da madrugada.

Procurou o pronto-socorro onde foi prontamente atendida por uma assistente social pós-graduada em assistência hospitalar, que colheu sua história cuidadosamente e, percebendo tratar-se de uma gestante, encaminhou a paciente prontamente para o serviço de obstetrícia. Lá chegando, foi avaliada por uma gentil enfermeira especialista em obstetrícia.

De forma muito prudente, leu com muita atenção o relatório social da sua colega de equipe multiprofissional, realizou um exame ginecológico completo e solicitou um exame laboratorial.

O farmacêutico responsável compareceu prontamente e durante a coleta do sangue, ouviu as queixas da paciente. Pareceu-lhe, pelos seus conhecimentos de medicina tradicional chinesa, que se tratava de uma estagnação do Xue de Gan. Aproveitou e aplicou algumas agulhas de acupuntura enquanto o sangue era analisado.

Enquanto Dona Maria aguardava pelo resultado dos exames, um fisioterapeuta passou pelo leito onde estava a paciente. Ficou perplexo e perguntou a Dona Maria quem lhe aplicara acupuntura, pois o fisioterapeuta do hospital era ele e, desta forma, as lombalgias deveriam ser encaminhadas a ele e a ninguém mais.

Dona Maria respondeu que fora um dos doutores que atendiam no hospital, mas não saberia especificar o nome. O fisioterapeuta retirou imediatamente as agulhas, examinou detalhadamente a paciente e percebeu que a causa da lombalgia era, na verdade, uma rotação anômala de uma vértebra lombar.

Utilizando técnicas de osteopatia, matéria esta na qual era especialista, reposicionou a referida vértebra e instalou um TENS para analgesia adicional da paciente. Encontrou com a psicóloga no corredor do hospital e comentou o caso indignado.

A psicóloga não pode deixar de ver pessoalmente a paciente. Ficou preocupada se aquele episódio teria causado algum transtorno psíquico na gestante. Além do mais, acreditava que talvez a paciente estivesse atravessando algum conflito familiar ou tivesse algum complexo recalcado em sua infância.

Parou com Dona Maria e, numa meticulosa avaliação inicial, concluiu que ela tinha sofrido uma grave frustração em sua fase anal, motivo pelo qual estava somatizando suas queixas em direção ao aparelho genito-urinário. Retirou as placas de TENS e fez uma regressão da paciente, que confirmou que esta fora ridicularizada pela mãe quando criança num episódio quando fizera cocô nas calças.

Vestido em seu engomado jaleco branco, o terapeuta holístico de plantão (especialista em naturopatia, psicanálise, reflexologia e reiki) verificou que muitas das queixas da paciente, na verdade, estavam relacionadas deficiências na sua constituição energética. Fez imposição das mãos por alguns minutos e pingou umas gotas de Florais de Bach sobre sua língua.

Prontos os exames laboratoriais, nossa prestimosa enfermeira obstetra, já com luvas calçadas para realizar outro toque e verificar se havia dilatação do colo do útero, encontrou a Dona Maria em parada cardíaca.

Chamou rapidamente a fonoaudióloga que tinha feito um curso de primeiros socorros e, apesar de todos os esforços, concluíram que infelizmente a Dona Maria tinha falecido.

Encaminharam o corpo ao biomédico para análise do caso. Este, muito comprometido com a multiprofissionalidade de sua equipe, tratou de valorizar cada diagnóstico realizado e preencheu a declaração de óbito com as seguintes causas-mortis: cadáver falecido por 1) condições sócio-econômicas deficientes; 2) gestação no 8°. mês; 3) Estagnação de Xue de Gan; 4) rotação anômala de vértebra lombar; 5) Trauma emocional ocorrido na fase anal; 6) desequilíbrio global da constituição bioenergética.
Consternada, mas com a sensação de dever cumprido, a equipe dá a notícia para a família e leva a declaração de óbito à secretaria do hospital.

Chegando lá, são informados de que pelo menos para a assinatura da declaração de óbito é necessária a presença de um médico (exceto quando absolutamente não existe nenhum, quando qualquer pessoa alfabetizada pode fazê-lo).

Telefonaram para o médico patologista pedindo que este voltasse ao hospital. Muito cansado, pois neste dia tinha trabalhado mais em suas necropsias que o pediatra, o profissional retoma ao hospital.

Aberta a cavidade abdominal, acrescentou ao relatório da equipe o diagnóstico de ruptura de aorta abdominal.

Questionado pela família se houvera erro médico por parte da equipe, serenamente disse que não, pois a paciente sequer fora atendida por um médico. Além disso, dentro de suas áreas de atuação, a equipe estava de parabéns, pois todos os diagnósticos estavam corretos, exceto pelo fato de que não fora nenhum daqueles que a tinha levado ao óbito.
Quem é a dona Maria? Pode ser minha esposa, ou a sua filha dentro de alguns anos, após a rejeição da lei do ato médico.

Artigo enviado pelo Dr. Paulo Maurício (paulo.pia@terra.com.br), de autor desconhecido.

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