12/09/2008

Do sonho à realidade: o imigrante que virou médico e construiu hospital





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Em 1937, o Brasil sofria grandes mudanças políticas, com Getúlio Vargas proclamando o Estado Novo, fechando o Congresso e outorgando uma nova Constituição. Sem saber de nada disso, a família Sugisawa saía do outro lado do mundo para tentar a sorte no país tropical. O Japão passava por momentos difíceis após a Primeira Guerra Mundial e milhares de pessoas foram seduzidas pela idéia de que no Brasil tinha emprego e dinheiro em profusão.

O jovem casal Seigoro e Teru e quatro filhos saíram da cidade de Sendai a bordo do Navio Buenos Aires Maru. Viajaram por aproximadamente dois meses até chegar em solo brasileiro. Inicialmente foram trabalhar como lavradores em uma fazenda em Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo. Em apenas três anos, o patriarca dos Sugisawa já tinha dinheiro suficiente para voltar ao país de origem, porém teve que mudar os planos devido ao início da Segunda Guerra Mundial. Assim, a família continuou na lavoura até 1945, quando a guerra acabou e o Japão saiu derrotado e destruído. Sem expectativa de poder retornar, a família mudou-se para a cidade de Marília e os filhos de Sugisawa começaram a estudar em escolas brasileiras.

O primogênito da família ajudava o pai na profissão de marceneiro. O segundo, Saburo Sugisawa trabalhava durante o dia e à noite se dedicava aos estudos. Em 1956, após concluir o - na época chamado - segundo grau, Saburo deslocou-se para Curitiba para prestar vestibular na Universidade Federal do Paraná. A profissão escolhida teve influência do pai, que sonhava em ter um filho médico. Foi aprovado, então, no curso de Medicina e passou a morar na capital paranaense.

Saburo Sugisawa formou-se em 1962 e trouxe a família para Curitiba ajudando os irmãos mais novos a conseguirem uma formação acadêmica. O médico custeou os estudos deles e ajudou a formar mais dois médicos e duas enfermeiras. A família já estava bem maior, pois cinco dos irmãos de Saburo nasceram no Brasil. Logo nos primeiros anos de profissão e com a área de saúde presente na vida dos irmãos, Saburo ouviu do pai o "conselho" de que deveria montar um hospital com o nome da família.

Trabalho humanístico

Trabalhando na Santa Casa de Misericórdia, então hospital-escola, o médico foi convidado a atuar como cirurgião. Em seguida, foi aprovado nos concursos da PUC e da UFPR para ministrar aulas. Por ser um dos únicos médicos da cidade de origem japonesa e com domínio da língua a partir de 1963, por meio da Associação Japonesa, Saburo realizou gratuitamente atendimento médico à comunidade nipo-brasileira em várias cidades do Paraná. Devido a essa ação, em 1969 obteve uma bolsa de seis meses do Ministério das Relações Exteriores do governo japonês para estudar no Hospital Central de Câncer de Tóquio. Lá, adquiriu conhecimentos para a realização de exames de endoscopia digestiva e diagnóstico precoce do câncer de estômago. 

Na volta ao Brasil, fundou na Santa Casa de Curitiba o primeiro serviço de Endoscopia Digestiva da capital e passou a pôr em prática os conhecimentos adquiridos no Japão. Da primeira vez que voltou ao seu país, de onde tinha saído aos três anos de idade, Saburo guardou a imagem de um Japão renascido. Ressalta que em pouco mais de 10 anos o país já estava reconstruído e era considerado de primeiro mundo. Na década de 70, Saburo organizava excursões de 15 a 20 médicos que, anualmente, iam ao Japão visitar as universidades. Desde então, voltou ao país natal diversas vezes, sendo a última em julho deste ano, quando aproveitou para visitar a China, passando por Shangai e Pequim. Apesar das condições materiais e profissionais de voltar ao Japão, Saburo quis ficar no Brasil. "O Brasil é o melhor país do Mundo para se morar. Me considero um brasileiro", diz ele, realçando ter sangue japonês, mas coração brasileiro.

Realização do sonho

Em 1988, o médico cirurgião começou a realizar o sonho de seu pai, inaugurando em Curitiba a Clínica Sugisawa, com ampla área. No início, o corpo clínico era formado majoritariamente por membros da família: irmãos, filhos e sobrinhos. Em 2007, inaugurou o Centro Médico Hospitalar Sugisawa, com seus 14 mil metros quadrados, composto de cinco edificações. Atualmente, o Centro Médico conta com mais de 200 médicos. Destes, 22 são da família Sugisawa. Saburo tem três filhos médicos - Mari, Mario e Sandra -, sendo que muitos sobrinhos também seguiram a profissão. O número tende a crescer, já que dois netos e mais alguns sobrinhos estão cursando Medicina.

Prestes a completar 75 anos (à véspera do Dia do Médico), o Dr. Saburo mantém a rotina profissional:  "Eu trabalho das 7 da manhã até a meia-noite todos os dias há 49 anos. E foi com esse trabalho consegui construir este hospital", declara. Foi professor da Universidade Federal de 1966 a 1978, além de médico do Pronto-Socorro do Hospital Cajuru até 1978. Também fez parte dos quadros do Ministério da Saúde durante 25 anos.

Atualmente, é professor de Clínica Cirúrgica na PUC; chefe de Serviço de clínica cirúrgica do Hospital Universitário Santa Casa; diretor do Departamento Clínica Cirúrgica da Santa Casa e diretor clínico e técnico do Hospital Sugisawa. "Enquanto eu tiver cabeça e saúde vou trabalhar com a Medicina em prol da comunidade. A minha satisfação é tratar as doenças e sofrimento dos pacientes", reforça. Nessa jornada de quase meio século dedicado à medicina, Saburo estima ter realizado perto de 35 mil cirurgias e mais de 210 mil consultas. Ele tem o CRMPR n.º 1252, com inscrição em fevereiro de 1963.


 




Por Márcia Magalhães

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