09/11/2008
Doenças ligadas ao estilo de vida moderno são as que mais matam
Mudança de hábitos
Estudo do Ministério da Saúde mostra mudança no perfil das enfermidades que atingem os brasileiros
O século 21 mudou o perfil das enfermidades no Brasil. Na década de 30, as doenças infecciosas (tuberculose) e parasitárias
(Chagas) respondiam por 46% das mortes. De lá para cá o número veio caindo com regularidade, teve uma queda mais intensa na
década de 90 e atualmente essas doenças representam não mais que 5% do total de óbitos.
Ocuparam seu lugar as doenças crônicas (infarto, derrame, câncer) e violentas (acidentes de trânsito e homicídios). Dados
do Ministério da Saúde, divulgados ontem em Brasília, no estudo Saúde Brasil 2007, apontam que quase metade dos óbitos no
Brasil (48,9%) ocorreram em decorrência de doenças circulatórias e neoplasias (cânceres). "É um paradoxo. O brasileiro melhorou
a qualidade de vida, conseguiu ter mais conforto, mas começou a promover mais as doenças cardiovasculares", diz o presidente
da Sociedade Paranaense de Cardiologia, José Carlos Moura Jorge.
O Ministério da Saúde entende que os tipos de morte refletem a urbanização rápida e pouco planejada e o desenvolvimento
do país. As doenças crônicas estão ligadas ao sedentarismo, estresse, alimentação inadequada, consumo de álcool e de cigarro.
Isso quer dizer que os brasileiros precisam investir mais na mudança de hábitos. "O controle remoto faz tudo. A frota de carros
aumentou e, por isso, as pessoas não caminham mais como antes. As mulheres, por causa do trabalho, aderiram ao fast food.
Com o consumo de alimentos cada vez mais gordurosos e em maior quantidade, temos mais obesos, hipertensos e diabéticos", explica
o cardiologista e professor de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Mário Sérgio Cerci.
Ao separar por causas específicas, dentro do grupo de doenças circulatórias, o acidente vascular cerebral foi o que mais
matou: são 90 mil pessoas, ou seja, 31,7% do total. O infarto matou 84,9 mil (9,4%). Em decorrência de neoplasias morreram
147,4 mil pessoas, 16,7% do total de óbitos de 2006. As maiores incidências foram câncer de mama, pulmão, próstata e útero.
A base de dados foi coletada em 2005, quando foram registradas 1 milhão e 3 mil mortes no país.
Causas externas
A pesquisa mostra ainda que muitas pessoas morrem no país por causa de acidentes de trânsito e homicídios. As causas externas
estão em segundo lugar em três das cinco regiões do Brasil: Norte, Centro-oeste e Nordeste. Nacionalmente, porém, ocupam a
terceira colocação. Em todo país, 47.573 pessoas morreram em homicídios, sendo homens mais de 90% dessas vítimas.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, os números evidenciam uma diminuição nas taxas de assassinatos no país.
Entre 2003 e 2006, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu de 28,6 para 25,4 - uma redução de 12%. Essa redução foi
basicamente puxada pelo Rio de Janeiro e São Paulo e segundo o Ministério da Saúde poderia guardar relação com a campanha
do desarmamento. Para o especialista em Segurança Pública e presidente do Movimento Viva Brasil, Benê Barbosa, a queda no
número de homicídios precisa ser analisada com cuidado. "A qualidade das nossas estatísticas é algo de se desconfiar. O cidadão
é achado morto no mato, com marcas visíveis de violência e na estatística ele entra como achado de cadáver e não homicídio",
diz Barbosa.
Apesar da desconfiança em relação aos números, Barbosa diz acreditar que tenha havido diminuição dos casos de homicídios
em São Paulo e que isso influiria no número nacional. No entanto, ele não vê relação com a campanha. "Essa queda começa em
97, quando nem se falava em desarmamento". diz. Para ele, dois fatores determinaram a redução. O primeiro é a melhora no aparato
policial e no Poder Judiciário. "O outro o governo não gosta de admitir: diminuiu o número de mortos em confrontos entre quadrilhas.
Basicamente surgiu o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o PCC não tem rivais em São Paulo."
Ainda segundo o estudo, os negros têm maior risco de morte por homicídios que os brancos em 25 estados e no Distrito Federal.
A exceção é o Paraná, onde as chances são iguais. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança
Pública afirmou que não saberia explicar o fato, visto que não faz classificação dos homicídios por cor da pele.
Planos não investem em prevenção
Apesar do estudo sobre mortalidade divulgado quinta-feira pelo Ministério da Saúde indicar que as cinco principais causas
de morte dos brasileiros estão relacionadas ao estilo de vida, os planos de saúde pouco investem em prevenção. E os 29% que
afirmam terem algum tipo de programa preventivo o fazem com relação a doenças crônicas, direcionado a pacientes que já estão
doentes.
Esse é o resultado de um estudo comparativo inédito e independente sobre o setor de saúde privado, realizado
pela empresa de consultoria CVA Solutions, que ouviu 4 mil usuários de 33 operadoras de saúde, além de 153 representantes
da área de recursos humanos responsáveis pela escolha dos planos nas empresas.
Fonte: Gazeta do Povo