Emergências em crise. Até quando?

O setor das emergências hospitalares é um dos grandes problemas da saúde no Estado. É ali, uma das portas de entrada do Sistema Único de Saúde, que nos defrontamos com um drama que parece não ter fim.

A cada ano, aumenta o número de enfermos que acorrem às emergências. Como não existe contrapartida na oferta de vagas na mesma proporção, a superlotação se torna inevitável. Algumas instituições, para garantir um mínimo de qualidade na assistência aos pacientes, fecham suas portas temporariamente até desafogar o setor. Existem, também, aqueles hospitais que ficam de portas abertas todo o tempo, mesmo que isso sobrecarregue os médicos e outros profissionais da saúde, colocando os pacientes, então, precariamente acomodados, em risco.

Este segundo quadro foi o que vimos em janeiro no Hospital Conceição. Na ocasião, a direção do hospital foi ágil na tomada de providências para resolver o problema. Houve acentuada redução de pacientes nas salas da emergência e a garantia de uma reestruturação no setor.

Menos de um mês depois, o problema se repete. O Conceição insiste em sua política de manter as portas abertas quando não tem capacidade para atender a todos que o procuram, o que acarreta a superlotação com todas as suas consequências danosas.

Temos consciência de que a crise nas emergências é uma questão complexa. Sua origem, porém, é conhecida por todos os protagonistas da saúde. A principal delas é a dificuldade de encontrar leitos para baixar os pacientes após o primeiro atendimento, o que acaba determinando que eles fiquem mais tempo que o necessário nas emergências. Nos últimos 16 anos, de acordo com o Ministério da Saúde, foram extintos mais de 3 mil leitos do SUS no Estado. Inúmeros hospitais fecharam suas portas. Entre eles, o Independência, referência em traumato-ortopedia, que encerrou suas atividades em abril do ano passado.

É necessário considerar, também, a tradicional ambulancioterapia. Grande parte dos pacientes atendidos nas emergências de Porto Alegre é oriunda do Interior. Uma parcela significativa poderia ser atendida no local de origem, mas a péssima remuneração de médicos e hospitais pelo SUS determina esse deslocamento. Urge o imediato descongelamento da tabela do SUS, para permitir que hospitais e médicos do Interior tenham condições de retomar o atendimento.

Em meio ao sofrimento de pacientes e médicos, existe um cruel "jogo de empurra", praticado pelos gestores dos diversos níveis de gestão da saúde. É uma briga prejudicial à população e também aos médicos, que acabam sobrecarregados, assumindo responsabilidades sobre questões que não são de sua alçada diante do excesso de pacientes. É uma briga sem vencedores. Até quando?


Cláudio Balduíno Souto Franzen - Conselheiro federal e presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul

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