Falta de critério, a alma gêmea da incompetência

Infelizmente o governo Lula sofre há algum tempo de um mal crônico, apesar de o presidente buscar excelência persistentemente. Devido a arranjos e acertos (ou desacertos) políticos, vários ministérios têm seus cargos estratégicos ocupados sem levar em conta o critério da competência. Em muitos casos, inclusive, os cargos foram herdados, ficando, desta forma, vários ministérios à mercê da incompetência.

Em um país como o Brasil, com características muito particulares em todas suas áreas, a incompetência, por vezes, chega a dar resultados. As escolhas, que fazem parte de articulações políticas, são verdadeiras apostas, em que se fica à mercê da sorte, assim como em jogos de azar.

Chama a atenção em particular, a situação socioeconômica atual. Embora com grande crescimento - não aos níveis de outros países em desenvolvimento -, a economia caminha razoavelmente bem. Foi sorte pura. Afinal, por falta de lastro e conhecimento, foi mantida pelo ministro Antônio Palocci a linha econômica do ex-ministro Pedro Malan, que deu retorno e que se mantém até o momento, com pequenas mudanças que têm como pano de fundo a política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Se um especialista na área tivesse assumido a pasta, jamais manteria a política do antecessor. Da mesma forma jamais teríamos Henrique Meireles no Banco Central. Mas aí houve acerto, mesmo sem querer, ou sem que o ministro tivesse a formação que o cargo exige.

Porém, apesar da sorte na área econômica, a falta de competência quase sempre leva a problemas importantes, como vemos em outras áreas, como a da saúde. Estamos carentes de propostas e ações concretas e de eixos estratégicos bem definidos que possam dar ao SUS, após 20 anos de existência, a qualidade que necessita. Convivemos com a epidemia da dengue, a despeito dos alertas de várias entidades médicas. Assistimos a volta da tuberculose, a disseminação da Aids, além do aumento progressivo da leishmaniose. Enquanto isso, fecha-se os olhos para o caos e fala-se apenas em legalização do aborto, em pílulas do dia seguinte, distribuição de preservativos masculinos, e assim por diante.

Querem levar os médicos residentes para lugares afastados, sem estrutura para o aprendizado e a prática médica, e cogitam a revalidação facilitada dos diplomas dos médicos formados em Cuba. Enfim, propõem uma série de medidas oportunistas que caracterizam uma intelectualidade falida. Hoje, aliás, há ministérios com características de laboratórios, em que a grande preocupação e todos os esforços miram apenas a criação de verdadeiros balões de ensaio.

O Programa Universidade para todos salvou inúmeras instituições incompetentes da falência e tem mantido um baixo nível. Nada mais é do que a "federalização" do ensino privado à custa o dinheiro público. Não é racional estabelecer políticas sem profundo planejamento e sem que seus resultados sejam criteriosamente avaliados. O não atendimento a estes princípios tem certamente como pano de fundo questões eleitoreiras.

Como nem sempre o incompetente dá resultados, seria importante que a comunidade analisasse o currículo desses governantes, desses ministros, dessas autoridades que ocupam altos postos no governo federal. Embora não exista, infelizmente, um "portal transparência" que contemple esta assertiva, a internet disponibiliza, na plataforma Lattes, o currículo de quem realmente tem elaborado o conhecimento que deveria justificar o cargo que ocupa. Os poucos bacharéis em medicina, por exemplo, que ocupam cargos no governo e possuem o currículo na internet demonstram competência questionável para as funções que exercem.

Sabemos que o presidente Lula teve de aceitar vários de seus ministros, atendendo a articulações partidárias, mas são necessários critérios técnicos e acadêmicos que norteiem as indicações para os principais postos da nação.


Dr. Antônio Carlos Lopes

Professor Titular da Disciplina de Clínica Médica da Unifesp/EPM, Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

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