Falta de visão abala saúde do Brasil

Somos um país de fato abençoado. Temos uma natureza generosa, riquezas naturais em abundância, um povo guerreiro, trabalhador e sempre pronto para transformar desafios em oportunidades.


De uns tempos para cá, essa combinação de fatores, além de uma política econômica mais ajustada, transformaram o Brasil numa nação razoavelmente estável. Nossas finanças caminham bem, não temos sofrido muito com os impactos das crises mundiais e as perspectivas são até alvissareiras.


Tudo estaria em boa trilha, não fosse a falta de visão que permeia parte da máquina do estado (em todos os níveis) e parcela dos políticos. Recentemente, por exemplo, o Senado Federal deixou passar oportunidade histórica de solucionar problemas graves do Sistema Único de Saúde (SUS). Simplesmente fechou os olhos para o subfinanciamento do setor e regulamentou a Emenda Constitucional 29 com base em um projeto de lei oriundo da Câmara que mantém os investimentos de União, estados e municípios exatamente nos mesmos patamares de hoje.


O resultado é que o SUS deixará de ter incrementados cerca de R$ 35 bilhões em recursos novos, o que ocorreria se a opção dos nobres parlamentares fosse pela aprovação do projeto original do Senado, o PLS 121/2007, de autoria do senador Tião Viana. Nem assim fecharíamos a conta, pois segundo o próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sua pasta necessita atualmente de uma injeção de R$ 45 bilhões para estruturar adequadamente o sistema público. Entretanto, teríamos dado bom passo.


A conta, mais uma vez, será paga pelos cidadãos brasileiros. A tendência é que o caos continue absolutamente o mesmo na saúde: atendimento precário, hospitais sucateados, filas de esperas intermináveis, falta de leitos, recursos humanos desvalorizados e por aí vai. Dessa forma, mais uma legião de desesperados terá de optar pela saúde suplementar, gastando suas parcas economias num sistema também cheio de falhas e de pouca resolubilidade.


Esse, aliás, é o retrato da saúde do Brasil atual. O brasileiro já gasta 29,5% a mais do que o governo para ter acesso a bens e serviços de saúde, segundo a Pesquisa Contas Satélites da Saúde, divulgada dias atrás pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são relativos ao ano de 2009.


Enquanto o Estado tem um dispêndio de R$ 645,27 por pessoa, o valor médio investido em saúde por cada cidadão fica em R$ 835,65. No País, 55,4% das despesas são arcadas pelas famílias enquanto 43,6%, cobertas pela administração pública.


Considerados índices da Organização Mundial da Saúde (OMS), os investimentos em assistência à saúde no Brasil são irrisórios. Entre as 192 nações avaliadas, ocupamos a 151º posição. A despeito de ser considerado o 6º maior PIB (Produto Interno Bruto) do planeta, no financiamento público em saúde, nosso investimento é 40% mais baixo do que a média internacional.


Uma Nação com N maiúsculo se constrói com saúde, educação, alimentação adequada, moradia e outros direitos fundamentais do homem. A base, como disse no início do artigo, já temos: um povo guerreiro, trabalhador e sempre pronto para transformar desafios em oportunidades. Resta os detentores do poder se fazerem merecedores desse povo honrado.



Artigo escrito por Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

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