30/04/2009

Federadas da FEBRASGO traçam raio-X da saúde no Brasil

Federadas da FEBRASGO traçam raio-X da saúde no Brasil
Pesquisa com as representações estaduais dos ginecologistas e obstetras de todo o país mostra os principais problemas da especialidade nos sistemas público e suplementar



Um levantamento junto às 27 federadas da FEBRASGO acaba de traçar um importante panorama de como anda o exercício da ginecologia e obstetrícia no Brasil.
Na pesquisa exclusiva, da qual participaram os presidentes das regionais, representando um total de 18 mil especialistas, foram identificados os principais problemas dos sistemas público e suplementar de saúde, os anseios e as perspectivas desses profissionais.

Os resultados mostram um médico com uma rotina extremamente desgastante, sem o devido respeito do governo, de seus empregadores e das empresas de saúde suplementar. Falta de condições adequadas de trabalho e equipamentos em boas condições, de acesso a medicamentos e dificuldade para a realização de exames subsidiários são algumas das principais queixas.

A realidade é ainda pior fora das capitais. Esse, aliás, é um dos motivos pelos quais muitos profissionais relutam em trabalhar em áreas remotas ou nas periferias. A baixa remuneração (70%) não compensa, assim como a falta de um plano de carreira com estabilidade. Muitos outros problemas são apontados, entre eles, a escassez de infra-estrutura para o médico e para a sua família (78%), a ausência de oportunidades de educação continuada (55%) e a falta de treinamento adequado e segurança para atuar nestas regiões (41%).


Setor público

Quanto ao setor público, 85% dos entrevistados avaliam as condições de trabalho como regulares, ruins ou péssimas. Somente 15% afirmaram que as consideram boas. Ninguém as considerou ótimas.

Os principais problemas que interferem na qualidade do atendimento são, para 81%, falhas na gestão, seguidos por honorários vis (74%) e falta de financiamento (45%).
A maioria (63%) também se queixa da falta de autonomia profissional na rede pública. Superlotação dos serviços, carência de medicamentos, dificuldade de acesso a exames e tratamentos, assim como limitação das quantidades daqueles ditos de alto custo, sobrecarga de trabalho e baixa remuneração foram alguns dos problemas destacados como limitantes da atuação.

A interferência de outras categorias profissionais, como enfermeiras e fisioterapeutas, que diagnosticam doenças, determinam condutas e prescrevem medicamentos, além dos partos domiciliares e as problemáticas casas de parto administradas por enfermeiras, também mereceram lembrança.
Ainda assim, para 67%, o SUS é uma alternativa viável para a resolução dos problemas de saúde do brasileiro. Somente 7% não acreditam no sistema, enquanto que os demais 26% concordam que pode ser resolutivo, mas fazem ressalvas.


Saúde suplementar

A relação dos médicos com os planos e seguros saúde não é das melhores. Cerca de 72% sentem-se pressionados. A maioria, inclusive, tem conhecimento de denúncias de restrições ao número de exames, internações ou procedimento. Para 88%, a ANS não tem sido eficaz na regulação entre operadoras e prestadoras, até mesmo quanto ao índice de correção de honorários.

O resultado é que não houve uma só indicação de que a relação planos/médicos seria ótima. Apenas 33% a consideram boa, sendo que os demais 67% a caracterizam como regular, ruim ou péssima. E quem está satisfeito ainda ressalva: 77% queixam-se de interferência na autonomia da prática médica, tais como glosas em procedimentos ou medidas terapêuticas (63%), restrição a exames (59%) e interferência de auditores (59%), entre muitas outras. A baixa remuneração é apontada por 74%.

Aliás, também para 74% dos entrevistados há falhas na legislação para garantir a autonomia do médico, bem como ausência de políticas de reajustes periódicos dos valores da prestação de serviços (93%). A insatisfação, de acordo com 78%, também atinge os usuários que regularmente se queixam de seus planos nos consultórios.


Ginecologia e obstetrícia

Falando particularmente da especialidade, os problemas também são inúmeros e levam o país às altas taxas de mortalidade materna e índice de cesáreas muito acima do preconizado pela Organização Mundial da Saúde. Isso sem falar no grave problema do aborto inseguro, banalização da violência contra a mulher e da falta de informação e acesso a pré-natal e anticoncepcionais.

Para reduzir a mortalidade materna no país, segundo 96% dos entrevistados, é primordial melhorar o atendimento pré-natal. Qualificar o Ensino Médico (59%), intensificar campanhas de prevenção da gravidez indesejada (59%), ampliar a distribuição de camisinhas e pílulas anticoncepcionais (33%) e a legalização do aborto (15%) foram as demais alternativas apontadas.

Ou seja, segundo a pesquisa, escolas médicas despreparadas, que não possuem hospitais adequados, atenção básica que não fornece condição de avaliação de risco e sistema de referência, um sistema público que atua em caráter precário, operadoras que não cuidam dos pacientes devidamente, falta de planejamento familiar e condição econômica, social e cultural dos pacientes são fatores que dificultam a redução dos índices de mortalidade materna no país.

A sugestão foi a de investir não apenas em educação continuada, mas também na formação de equipes e protocolos realistas para melhorar o atendimento à gestante.


Parto normal x cesárea

A insegurança no médico também foi bastante discutida, especialmente frente à falta de infraestrutura, equipamentos e recursos humanos. Esse é um dos principais motivos que levam esses profissionais a realizar cada vez mais cesáreas, mesmo em condições de um parto normal.
Hoje, no Brasil, usuárias de planos de saúde dão corpo a índices inaceitáveis de parto operatório por cesárea. As parturições naturais ocorrem abaixo da normalidade mesmo em hospitais públicos. Falta de preparo do obstetra, má remuneração e ausência de anestesistas são alguns dos determinantes. Isso sem falar da influência cultural, desinformação e até mesmo falta de tempo do médico para dar a assistência e qualidade necessários ao atendimento.

Mais um grave problema identificado: a cesárea (especialmente a desnecessária) traz vantagens no quesito remuneração, visto que o médico recebe apenas pelo parto, e não pelas horas de assistência durante o trabalho de parto. Entre os questionários recebidos, 63% afirmavam realizar mais de 51% de partos cesáreas. Somente 15% deles realizam no máximo 30% de cesáreas, o que equivale a duas vezes mais do que recomenda a OMS.


Fonte: Acontece Comnunicação

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