27/02/2009
         Hanseníase: batalha a ser vencida
         
         A hanseníase, equivocadamente conhecida como lepra, traz em seu nome uma homenagem a Gerhard Amauer Hansen, médico norueguês
            que descobriu, em 1673, o bacilo de Hansen, seu micróbio causador. É uma doença praticamente erradicada em todo o planeta.
            
            
            Infelizmente, este não é o caso do Brasil, que figura entre os nove países no mundo que ainda não conseguiram
            erradicá-la. Pior ainda: com cerca de 40 mil novos casos ao ano, ocupa o segundo lugar em números absolutos, atrás apenas
            da Índia. Aliás, em 2007, pouco mais de 41 mil pacientes encontravam-se em tratamento.
            
            
            Segundo o documento "Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil - 2008", divulgado
            em janeiro deste ano pelo Ministério da Saúde, mais da metade dos casos concentra-se em regiões isoladas do País, em extensas
            áreas geográficas, conferindo maior complexidade para intervenções efetivas.
            
            
            O estudo mostra ainda que os novos casos da doença estão concentrados em dez grandes áreas do País. Cerca
            de mil municípios brasileiros nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste registraram 53,5% dos novos casos diagnosticados
            entre 2005 e 2007. Em termos populacionais, no entanto, as cidades avaliadas concentram 17,5% dos residentes no País.
            
            
            O levantamento cita como exemplo a região Amazônica, na qual a intensificação da vigilância epidemiológica
            nas áreas endêmicas e a manutenção de ações efetivas dependem de mobilização social, vontade política e compromisso.
            
            
            Ainda hoje, a falta de informação é o maior agravante para a disseminação de mitos e discriminação que rondam
            a hanseníase e seus portadores. Equivocadamente, o medo de ser infectado prossegue rondando a sociedade, que teme contrair
            a doença em um aperto de mão, abraço, ou pelo compartilhamento de copos ou talheres.
            
            
            Ela apenas é transmitida se a pessoa infectada apresentar a forma contagiante, ou seja, se não estiver em
            tratamento. Só assim continuará eliminando os bacilos de Hansen pelas vias respiratórias, por meio de secreção nasal, gotículas
            da fala, tosse ou espirro. No entanto, após iniciado o tratamento, o paciente deixa de transmiti-los, mesmo antes da cura.
            
            
            A doença acomete a pele, os nervos periféricos e também a mucosa nasal, além do fígado, dos testículos e dos
            olhos, mas é curável. Quantos antes for feito o diagnóstico e iniciado o tratamento, mais fácil será o processo de cura e
            menores serão as chances de sequelas.
            
            
            Por este motivo, manchas na pele de cor esbranquiçada ou avermelhada, nas quais a pessoa perde a sensibilidade
            ao calor, à dor e ao toque, que aumentam e ficam ainda mais dormentes, devem ser mostradas a um médico imediatamente. Entupimento
            do nariz, formigamento nas mãos e nos pés, inchaços nas mãos, pés, rosto e orelhas, problemas nos olhos e até mesmo esterilidade
            masculina podem ser indícios da presença da hanseníase.
            
            
            Como a doença tem uma lenta evolução, podendo levar de dois a sete anos para começar a apresentar os primeiros
            sintomas, é importante que familiares e amigos que tiveram contato com alguém recentemente diagnosticado com hanseníase também
            façam uma avaliação médica.
            
            
            Postos e centros de saúde, Programa de Saúde da Família (PSF) e outras unidades da atenção básica de saúde
            à população devem oferecer exames para diagnóstico, orientação e tratamento gratuitos.
            
            
Autor: Antônio Carlos Lopes - Professor titular da disciplinade clínica médica da Unifesp/EPM e presidente da Sociedade
            Brasileira de Clínica Médica)