28/08/2018

Homenagem aos Pioneiros: Dr. João Dias Ayres (CRM-PR 476)

Integrou o primeiro corpo conselheiros, eleito para a gestão 1959-1963, e foi um dos pioneiros e presidiu a Associação Médica de Londrina

O médico João Dias Ayres dizia ter entre suas grandes paixões na vida a família, a cirurgia, a saúde pública e a literatura. Os 95 anos que viveu foram todos dedicados a esses pilares. Integrou o primeiro corpo de conselheiros eleitos e que foi empossado em 1959 para cumprir mandato de cinco anos no CRM-PR. Por 25 anos atuou como chefe do 17º Distrito Sanitário, construiu um hospital em Sertanópolis (PR), teve longa carreira na Santa Casa de Londrina e compartilhou mais de seis décadas com a esposa e suas quatro filhas.

Nascido em 1º de março de 1913, em Palmas, João Dias passou a infância em Ponta Grossa. Graduou-se em dezembro de 1937 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Em seguida, mudou-se de Curitiba para São Paulo, em busca de especialização. Em 1938, radicou-se em Sertanópolis, a 40 km de Londrina, onde começou a trabalhar. No início, os atendimentos eram típicos de uma região sendo desbravada, estando relacionados ao aparecimento de moléstias como malária, ou de lesões decorrentes de acidentes pessoais e brigas.

clique para ampliarclique para ampliarDr. João Ayres, em homenagem na AMP< em 2004. (Foto: CRM-PR.)

A necessidade de hospitalização levou-o a construir na cidade o Hospital São Lucas, que administrou durante anos ao lado da mulher, D. Mariana Prado Dias Ayres, simultaneamente à sua atuação como delegado de higiene da região. A instituição, inaugurada em 1947, foi construída sem apoio algum, bancada apenas pelo médico, e contava com equipamentos modernos para a época, como laboratório de análise e aparelho de raios-X. Em uma entrevista ao Jornal Folha de Londrina, o pioneiro assegurou que todos que procuravam atendimento ali, conseguiam – dos pacientes particulares aos indigentes.

No começo da década de 50, quando chegou a Londrina, o objetivo era atuar como médico da saúde pública, cargo para o qual fora nomeado pelo então governador Manoel Ribas – no período de 1954 a 1980 foi chefe do 17º Distrito Sanitário, trabalho baseado, sobretudo, na medicina preventiva. Mesmo que houvesse vontade, não conseguiu realizar o sonho de também construir ali o seu hospital. O financiamento saiu tarde demais e era insuficiente. Na época havia apenas dois hospitais em Londrina: a Santa Casa (construída em 1944) e um pequeno hospital de madeira, montado pela Companhia de Melhoramentos do Paraná.

clique para ampliarclique para ampliarDrs. Alexandre Fragoso da Costa, da AML, e Dr. João Ayres, diplomado em 2004. (Foto: CRM-PR)

O Dr. João Dias Ayres faz parte dos pioneiros da Associação Médica de Londrina, nascida em outubro de 1941 sob a denominação de Sociedade Médica de Londrina. Em 1956 a instituição ganhou a denominação atual e, depois anos depois, ele assumia a presidência, permanecendo no cargo até o ano seguinte, quando foi sucedido pelo Dr. Saul Brofman. Ele também teve importante papel na constituição do curso médico na Universidade Estadual de Londrina

Em 1988, em reconhecimento aos 50 anos de Medicina exercida com humanidade e ética, o CRM-PR lhe concedeu o Diploma de Mérito Ético-Profissional. Outra homenagem que recebeu partiu da Santa Casa de Londrina, que o consagrou com a Comenda Saúde, como agradecimento aos serviços prestados à instituição.

Em 2004, aos 91 anos, participou de solenidade do Dia do Médico em Curitiba, quando a Associação Médica do Paraná lhe conferiu o título de destaque na “Prática Médica”. Na oportunidade, lembrou no início da carreira em Londrina, quando a cidade tinha só quatro anos de fundação e sete médicos.

clique para ampliarclique para ampliarFicha de inscrição do Dr. João Ayres, em setembro de 1958. (Foto: Reprodução)

Aposentadoria e literatura

Até os 89 anos de idade se manteve muito ativo, cumprindo rotina de trabalho em seu consultório instalado na Rua Souza Naves, no centro de Londrina, atendendo sempre com muito bom humor um grupo de pacientes fiéis, no período das 10 às 12 e das 16 às 18. Todos os dias acordava cedo para acompanhar os noticiários na TV e também para ler jornais. Nos finais de semana, dirigia-se para uma propriedade rural, para “curtir o gado e plantações”. Montar a cavalo fazia parte de sua rotina na fazenda. Além disso, nunca deixou de se atualizar quanto às novidades de sua profissão: não só acompanhava os avanços mostrados em publicações e internet, como também participava de eventos científicos.

Durante o 42º Congresso Médico, realizado no ano de 2000 em Londrina, o Dr. Ayres participou de mesa-redonda em que esteve em debate a situação atual da Medicina brasileira. Houve participação de representantes do Sindicato dos Médicos, CRM-PR e ainda Associação Médica Brasileira. Na oportunidade, o médico pioneiro fez proposta para que todas as entidades médicas fixassem uma agenda comum com propostas e ações em defesa do profissional e da sociedade, ideia que nos anos seguintes começou a se consolidar.

Mesmo depois de se aposentar, não sossegou e foi se enveredar por outro caminho: a literatura. Durante 10 anos escreveu suas memórias e, em 2000, resolveu publicá-las, convencido por sua filha Ivone Prado – hoje, doutora em Literatura. O resultado foi o livro “Portal da Esperança – Memórias de Anteontem”, uma autobiografia literária que traz um pouco da trajetória de mais de seis décadas como médico. Foi membro da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Ayres, um dos primeiros médicos de Londrina: história de amor à profissão. (Foto: CRM-PR.)

A obra “Portal da Esperança” é ilustrada com fotografias históricas, inclusive de sua origem na região dos Campos Gerais, onde o pai, Napoleão Dias Ayres, dentista e fazendeiro, radicou-se vindo de São Paulo, no início do século. João Ayres insistia que grande parte do que realizou tinha o mérito partilhado com a esposa, com quem esteve casado por 63 anos. Ela faleceu em maio de 2000, sem ver o resultado final do livro do qual foi uma das principais incentivadoras. Já o médico se foi oito anos mais tarde, no dia 22 de agosto de 2008, aos 95 anos de idade.

O casal teve quatro filhas: Sônia, artista plástica, residente no estado de São Paulo e casada com um médico; Jane, mestra em artes plásticas em Lisboa; Ivone Prado, mestra e doutora em literatura; e Maysa Prado Martinez, psicóloga, também casada com um médico e moradora em Londrina. Dos netos, a maioria já é formada, incluindo pelo menos dois em Medicina.

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