Jalecos no aeroporto

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense

Fotos de médicos estrangeiros desembarcando sábado no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, são mais uma prova de desrespeito às leis e às práticas recomendadas pelo bom senso e até pela higiene. Os profissionais da saúde vestem jalecos brancos com o acintoso propósito de chamar a atenção para o que vieram fazer no Brasil. Como peças de campanha publicitária, desconhecem que, no Brasil, leis proíbem médicos e paramédicos de usar a vestimenta fora do ambiente hospitalar.

Eles vieram se juntar a 97 cubanos, que estão hospedados no Sesc, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, antes de assumirem seus postos no Programa Mais Médicos, do governo federal. A restrição ao uso do jaleco branco por profissionais da saúde fora dos hospitais e clínicas tem o propósito de evitar que eles levem para esse ambiente de trabalho agentes de contaminação, colocando em risco a saúde não apenas dos pacientes, visitantes e do próprio pessoal que lá trabalha.

A contaminação hospitalar é um dos males mais duramente combatidos pelos hospitais brasileiros, pois é sabido que pequenos descuidos nessa área podem causar grandes danos. O paralelo com a política e a administração pública é inevitável. Nesse ponto, a presidente Dilma Rousseff nunca emitiu opinião tão reveladora e tão equivocada. Reveladora, porque desvelou a disposição do governo e de seu principal partido de não ter meias medidas para garantir a perpetuação no poder.

A antecipação da campanha eleitoral para ganhar dianteira em relação aos demais concorrentes foi só mais um estupro na frágil legislação eleitoral do país. Sem poder culpar os governos anteriores e assustado com as cobranças que levaram milhares de jovens às ruas em junho, os atuais ocupantes do Planalto dispararam uma série de promessas e de encenações que parecem atender aos reclamos desprezados nos últimos 10 anos.

É nesse cardápio de maquiagens que se insere o Mais Médicos, junção da fome com a vontade de comer, já que os companheiros brasileiros estavam atrasados em prestar ajuda financeira mais expressiva e urgente à fracassada ditadura cubana. O contrato temporário de 6 mil médicos já tinha sido prometido ao governo da ilha muito antes dos protestos por melhor atendimento pela saúde pública no Brasil. Além da injeção de dinheiro público brasileiro no regime de Havana, a destinação dos cubanos a locais rejeitados pelos médicos nacionais é um faz de conta perfeito para a ocasião.

Primeiro, porque os desassistidos podem pensar que basta a presença do doutor para garantir-lhe a cura; depois, porque livra o governo de ter de responder -- pelo menos até as eleições -- por que vem reduzindo a participação da União no orçamento da saúde, deixando sem estrutura os postos no interior e na periferia das grandes cidades, razão da desistência dos médicos brasileiros. Para completar o estupro, o trator palaciano impôs medida provisória que sequestrou a autoridade dos conselhos regionais de medicina, para licenciar sem exigências os médicos cubanos -- de todos, os menos culpados, obrigados a desembarcar no Brasil de jaleco branco e, não raro, exibindo bandeirinhas de Cuba. A falta de escrúpulos de quem vem fazendo "o diabo" nessa campanha presidencial fora de hora ainda pode levar o eleitor a rejeitar o papel de bobo que querem lhe impor.

Fonte: Correio Braziliense

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