Janeiro Branco e a saúde mental

Ramon Cavalcanti Ceschim

Em meio à agitação de renovações e expectativas que o início do ano nos traz, janeiro é também um marco crucial na luta pela conscientização da saúde mental, não apenas no cenário mundial, mas também em nosso Estado do Paraná. Com a Lei Estadual 19430/2018, foi instituído o "Janeiro Branco", um movimento dedicado a colocar em pauta o bem-estar psíquico e a prevenção de doenças mentais.

Essa legislação reflete a crescente compreensão de que a saúde mental é um elemento vital para a qualidade de vida das pessoas e o desenvolvimento social. Não é mera coincidência que esse período do ano, comumente voltado para reflexões e planejamentos pessoais, seja também um convite para nos atentarmos à saúde de nossa mente.

A necessidade de tal ação é reforçada pelos alarmantes dados oferecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que indicam que cerca de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo, enquanto outros 260 milhões padecem de transtornos de ansiedade. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, os números também são preocupantes, com taxas elevadas de transtornos mentais e um número insuficiente de profissionais e serviços especializados em saúde mental. Submetendo nossos pacientes a uma assistência psiquiátrica sem Psiquiatras.

As diretrizes do "Janeiro Branco" buscam, portanto, mobilizar todos os setores da sociedade para a discussão desta questão tão sensível. Como profissional da saúde mental, vejo o quão essencial é promover discussões e debates que incluam governos, empresas e cidadãos, todos objetivando a construção de uma cultura de cuidado com a saúde mental. No consultório percebo pacientes que relutam por anos em consultar com um psiquiatra por medo de serem rotulados, reforçando ainda mais a cultura do estigma mental da “Psicofobia”.

O que podemos, como sociedade, fazer neste mês dedicado à saúde mental seria:

 Conscientizar: Incluir nos eventos e calendários de janeiro atividades que enfatizem a importância de cuidar da saúde mental, como workshops, palestras e campanhas de mídia social.

  Prevenir: Informações e mensagens educativas precisam estar no centro das discussões, esclarecendo dúvidas frequentes e desmistificando tabus associados aos transtornos mentais.

 Estimular políticas públicas: O engajamento com as autoridades locais para implementar e reforçar políticas públicas que assegurem o acesso à saúde mental é crucial, tendo em vista, especialmente, o atendimento às populações mais vulneráveis.

 Fomentar ações corporativas: Encorajar a iniciativa privada a desenvolver programas de assistência e suporte à saúde mental de seus colaboradores, pois o ambiente de trabalho é um dos principais fatores relacionados ao bem-estar psicológico.

A saúde mental deve ser vista como uma responsabilidade compartilhada, que demanda a integração de esforços individuais e coletivos. Como psiquiatra, afirmo que investir em saúde mental é promover uma sociedade mais equilibrada e produtiva. Ao mesmo tempo, é garantir que cada pessoa possa viver sua vida em sua máxima potencialidade, livre do estigma e do sofrimento que acompanham os transtornos mentais.

*Ramon Cavalcanti Ceschim (CRM-PR 24.298) é médico psiquiatra (RQE 28.995), conselheiro do CRM-PR e integrante da Câmara Técnica de Psiquiatria.

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