Janeiro Roxo: todos contra a hanseníase

Sergio Paulo Aguilera Machado

Agora, neste mês, temos a campanha Janeiro Roxo – Todos contra a Hanseníase, da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH). Neste ano, o Dia Mundial contra a Hanseniase é lembrado em 28 de janeiro. A ação existe em caráter permanente desde 2015, e é oficializada pelo Ministério da Saúde desde 2016. O Brasil é o 1º no ranking mundial em taxa de detecção, ou seja, tem o maior número de casos novos em tratamento a cada grupo de 100 mil habitantes; em números gerais somos o 2º, ficando atrás apenas da Índia.
Esta ação  visa conscientizar a população sobre a gravidade e a prevenção da doença, que é infecciosa, contagiosa e causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. A hanseníase pode afetar a pele e os nervos periféricos, causando lesões neurais e incapacidades físicas.
Existe uma falsa ideia de que a doença se restringe às populações mais pobres, porém esta não é a realidade. O bacilo não escolhe condição social e a hanseníase é diagnosticada em pessoas ricas, pobres, brancas, pretas e pardas, sem discriminação. A diferença é que pessoas em situação de vulnerabilidade social têm condições mais precárias de saúde e vivem em aglomerados onde se transmite mais intensamente o bacilo que causa a hanseníase.

A hanseníase está na lista das doenças tropicais negligenciadas. São mais de 20 doenças, tratáveis e curáveis, porém ainda cegam, debilitam, desfiguram, incapacitam as pessoas, tiram crianças da escola, afastam pessoas do trabalho, do convívio social e de suas famílias. O preconceito é um agravante importante no enfrentamento à doença.
Há a crença de que a hanseníase não existe mais e muitas pessoas recusam o diagnóstico. Outras são desdiagnosticadas por profissionais que não conhecem a doença e milhares passam por vários serviços de saúde públicos e privados ao longo da vida e, depois de cinco, dez anos ou até mais, recebem o diagnóstico de hanseníase quando a doença já é muito evidente e o paciente apresenta sequelas muitas vezes incapacitantes e irreversíveis.

A doença

Hanseníase tem cura se chegarmos cedo com o diagnóstico e tratamento. O problema está em iniciar o tratamento já em uma fase tardia, pois já terá sequelas e incapacidades.

O Bacilo de Hansen, causador da doença, afeta os nervos e tem lenta evolução. Por vários anos, o paciente sente dores, formigamentos ou fisgadas pelo corpo e não são raros os casos de internação por infarto. Com a evolução da doença, o doente pode apresentar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele e diminuição ou perda de sensibilidade ao toque, à dor, ao frio e calor, dentre outros sinais e sintomas.

Casos no Brasil

Até 2019, o Brasil registrava anualmente cerca de 30 mil novos casos de hanseníase – número semelhante às notificações de HIV/AIDS -, porém, este numero pode ser bem maior, uma vez que nas áreas que não são endêmicas, o diagnostico demora muito.

Segundo o Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2022, 19.963 casos novos foram diagnosticados no Brasil de 2011 a 2020 com grau 2 de incapacidade física, ou seja, com sequelas irreversíveis e incapacitantes. O documento ressalta que a proporção de casos novos de hanseníase diagnosticados com grau 2 é um importante indicador de diagnóstico tardio no país.

Transmissão

A transmissão da hanseníase ocorre por meio das vias aéreas (secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro) de doentes que não estão em tratamento. Quando recuperado ou em tratamento regular, o paciente deixa de transmitir a doença. Dentre as pessoas que entram em contato com os bacilos, somente uma pequena porcentagem adoecem. Entretanto, o período de incubação da doença (tempo entre o contágio e o surgimento dos sintomas) é longo, podendo variar de três a cinco anos. É importante ressaltar que o contato com a pele ou objetos não transmite a doença.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico precisa ser feito quando o paciente tem as primeiras manifestações, como formigamentos ou dormências no corpo, que, associados a outros sinais característicos, compõem o diagnóstico da hanseníase em exame clínico.

Exames de laboratório são capazes de detectar o bacilo em apenas 50% dos casos; os outros 50% apresentam sinais e sintomas que dependem de treinamento profissional para serem identificados. O exame clínico é suficiente. O Brasil recebe a medicação da OMS e o tratamento é gratuito nas unidades de saúde do SUS.
*Dr. Sergio Paulo Aguilera Machado (CRM-PR 19.780) é especialista em clínica médica e com área de atuação em hansenologia. É membro da Sociedade Brasileira de Hansenologia e integra a Câmara Técnica de Dermatologia do CRM-PR.

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