08/05/2009

Médicas-mães relatam o prazer e as dificuldades das múltiplas funções

Dia das Mães





O Conselho Regional de Medicina do Paraná presta a sua homenagem a todas as mães. Das contempladas com a dádiva de gerar seus filhos àquelas que se engajam à arte maternal, conjugando predicados como adotar, cuidar, assistir, confortar, educar e amar. E, neste cenário, impõe-se uma deferência mais do que especial às nossas médicas, enquanto mães ou no exercício de sua função hipocrática, onde cada gesto é de zelo à vida e de respeito ao ser humano e à família. Cumprem também com orgulho, por certo, os ensinamentos e expectativas de suas próprias mães.


A missão de ser mãe só faz contabilizar novos afazeres e responsabilidades no cotidiano contemporâneo. E se for médica, então, a dificuldade só aumenta pelas nuances próprias da profissão, que vão do desgaste físico e emocional à escassez do tempo. Ao reunir alguns depoimentos de médicas-mães, o Conselho de Medicina do Paraná pretende reverenciar, de forma extensiva, todas as profissionais perseverantes no cumprimento de suas múltiplas missões e superação de desafios presentes no dia-a-dia. Que a data seja júbilo e reflexão.


As médicas Antonietta de Azevedo, Raquele Rotta Burkiewicz, Claudete Reggiani e Lorete Maria da Silva Kotze são alguns exemplos de profissionais que se desdobram ou se desdobraram na atenção à família e ao exercício da Medicina. A Dr.ª Antonietta dedicou-se à Medicina por meio século, tendo em 2003 recebido o Diploma de Mérito Ético-Profissional do CRMPR. Já não atua, mas, perto de completar 81 anos, recorda dos períodos de dificuldades em que tinha de "fazer um pouco de tudo" na profissão e ainda cuidar dos três filhos. Ela se formou em dezembro de 1952 pela Universidade Federal e alguns meses depois seguiu com o então marido - também médico - para Votuporanga (SP), onde ficou por cinco anos. De volta a Curitiba, não saiu mais. Gineco-obstetra, atuou num único hospital e por um ano chegou a integrar o corpo docente da PUC. Nenhum dos filhos ou dos netos - que são cinco - quiseram seguir seus passos na Medicina, profissão que lhe deu muito prazer e aprendizado, especialmente na formação dos filhos.



De Mãe para Mãe



"Mãe, você tem plantão hoje?" essa era a pergunta que os filhos da 1.ª corregedora e conselheira do CRMPR, Raquele Rotta Burkiewicz, faziam a ela antes de marcar um programinha como ir ao cinema, por exemplo. Na visão de Raquele, a médica, principalmente, obstetra - que pode ser interrompida a cada momento em virtude da imprevisibilidade do nascimento dos bebês - precisa ter um companheiro que entenda e compreenda a correria do dia-a-dia de trabalho. "Eu tive muita sorte. Enquanto ia para o hospital, meu marido ficava com as crianças", conta a ginecologista e obstetra. Ela recorda que nos primeiros meses de vida dos filhos chegou a levar os bebês para o consultório. Lá recebia ajuda de uma enfermeira e a cada três horas, entre um e outro paciente, amamentava.


Apesar da correria, Dr.ª Raquele se orgulha de ter participado ativamente do desenvolvimento de cada filho. Acompanhava reuniões escolares e levava para aulas de inglês e natação. "Essa proximidade é o diferencial para ensinar limites e responsabilidades", avalia. Hoje, dos pequenos só restaram lembranças. O filho mais velho André, 33 anos, é médico psiquiatra e a filha mais nova Débora, 31 anos, é administradora. "Minha grande satisfação é saber que eles são pessoas felizes, e isso vale a pena", completa.



Experiência materna



A especialidade da medicina que lida diretamente com a chegada de uma nova vida é a ginecologia e obstetrícia. A relação entre o especialista e a futura mãe é diferenciada, especialmente quando a profissional também já passou por um momento mágico como a gestação. Na opinião da Dr.ª Raquele, a experiência pessoal é uma vantagem, pois é possível ter uma visão maior das angústias, emoções, do relacionamento com familiares e dos problemas orgânicos pelos quais a mulher está passando.


"É a união do conhecimento científico com a experiência da própria médica", observa, lembrando que é justamente essa troca de experiências que reforça os laços de proximidade, identificação e amizade entre mãe, bebê e médica. "Também chamamos os filhos das pacientes de "nossos filhos". Cuidamos e nos preparamos para que a criança chegue saudável ao mundo e nos realizamos junto com a mãe".



Opção de seguimento



A versatilidade e agilidade das mulheres se materializam também na experiência de vida da gastroenterologista e ex-conselheira do Conselho Regional de Medicina nos anos de 1983 a 1988, Lorete Maria da Silva Kotze. Atuando como professora no Hospital das Clínicas e clinicando nos Hospitais Nossa Senhora das Graças e Pequeno Príncipe, além das horas dispensadas no consultório, ela revezava com o marido - também médico - para buscar as crianças no colégio. Em outras ocasiões a alternativa era ter a companhia dos filhos no hospital. Para Lorete, essa convivência tão próxima com a Medicina contribuiu para que dois, dos seus três filhos, seguissem na profissão. "É difícil um casal de médicos não falar de medicina em casa. Eu atendia telefonemas de pacientes com as crianças por perto e eles já foram se acostumando com a linguagem médica", conta.


Tendo atuado como coordenadora do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná, a integrante da Sociedade Paranaense de Gastroenterologia foi pioneira em sua área de atuação. Primeira médica residente em Gastroenterologia, primeira professora na especialidade, única médica titular da Academia Paranaense de Medicina, além de ser a primeira mulher brasileira a receber o título de Fellow do Colégio Americano de Gastroenterologia. Por todas as conquistas, paralelas as alcançadas como mãe, ela não deixa de destacar o prestigio do marido e filhos e apoio dos pais.



"Esta experiência eu divido com as minhas pacientes"



No momento da consulta, a médica precisa utilizar técnica e bases científicas para o tratamento do paciente. Entretanto, sua experiência de vida contribui muito. Ainda mais se a mãe é especialista no cuidado da mãe no período pré e pós-parto.


Para a ginecologista e obstetra, Claudete Reggiani, a relação entre mãe e filho é a mais profunda e motivadora que pode existir. Ela afirma que dez em cada dez mulheres que visitam seu consultório durante os 30 anos que exerce a profissão confirmam sua crença. Mãe do médico oftalmologista Glauco Reggiani Mello, de 26 anos, a especialista diz que a palavra mais doce que pode ouvir é mãezinha, forma como seu filho, carinhosamente, a chama. "Para mim, o amor mais puro que tenho é de mãe", afirma.


A médica ressalta que um dos grandes ensinamentos da maternidade é o crescimento pessoal. "Um filho modifica as pessoas para melhor", reflete. O nascimento de Glauco foi acompanhado pelo amadurecimento da médica, que trouxe novas perspectivas e contribuiu para que pudesse ser mais afetiva também dentro do consultório. "Hoje, quando estou fazendo um parto, quero trazer ao mundo alguém que seja bem-vindo. Por isso, a cada nascimento, eu digo para o bebê: seja muito feliz. Essas são as primeiras palavras que ele escuta".


"Sou uma pessoa feliz e motivada. Uma coisa que eu vejo como salutar para tratar as pessoas é estar bem consigo", explica. E completa: "Esta experiência eu divido com as minhas pacientes". Mestre em Clínica Cirúrgica e doutora em Princípios da Cirurgia, a Dr.ª Claudete conta que ao vestir o jaleco médico, procura apresentar não somente soluções embasadas em técnica e estudo científico, mas também na sua experiência de vida.


Ela conta que foi a primeira médica em sua família e que inspirou seu sobrinho Pedro, atual ortopedista, a seguir a carreira. "Ele disse que a motivação para sua escolha profissional foi ver, entre as pessoas que ele conhecia, que eu sempre estava feliz", afirma, contando que possui outros dois sobrinhos médicos, Ramiro (medicina geral) e Celeste (ginecologista).


Após a aprovação de seu filho no vestibular da UFPR, em 10.º lugar geral, a Dr.ª Claudete passou a ter mais contato com o Ensino Médico e as dificuldades que os estudantes de Medicina enfrentam. Por isso, decidiu ingressar na vida acadêmica e assumiu a coordenadoria do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná. "Minha experiência diante das dificuldades dele como aluno foi uma das razões de estar na coordenação", relata. Há três anos coordenando o curso, a gineco-obstetra já realizou sete reuniões em que recepcionou pais de alunos com intuito de orientá-los sobre o ser médico e o que é bom da profissão. Ela acredita que há uma cultura de supervalorização do estudante de Medicina, que muitas vezes atrapalha a formação profissional. "Neste sentido, a família é essencial para desmistificar e contribuir para que o jovem possa se preparar com serenidade e menos cobrança. Assim ele se tornará um profissional melhor qualificado", garante.


Dr.ª Claudete é ainda professora de Reprodução Humana do Setor de Ciências da Saúde do Departamento de Tocoginecologia da UFPR e trabalha durante doze horas diárias, dividindo os espaços em sua agenda entre atendimento em consultório, preparação de aulas, estudos que a profissão exige e encontros com o filho - com quem mantém uma relação de proximidade e cumplicidade.

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