06/08/2010

Medicina, caminho trilhado por pais e filhos

Em meio às comemorações do Dia dos Pais, o Conselho Regional de Medicina do Paraná conta a história de três famílias em que pais e filhos escolheram a Medicina como ofício. Na foto, a Família Facin. Da esquerda para direita: a nora Ana Paula, os filhos Giuseppe, Mirella, Graziella, Giovanni, Giulliano e os pais Lenira e Carlos Roberto.


Dividir conhecimentos, expor dificuldades e trocar experiências faz parte do dia a dia de muitos pais e filhos que seguem a mesma carreira profissional. Na Medicina, uma das profissões mais antigas e tradicionais da sociedade, esta realidade é ainda mais latente. Seja por admiração, curiosidade, influência ou simples vocação, trilhar o caminho dos pais é uma decisão encarada com muita naturalidade e até privilégio pelos filhos. Os pais, por outro lado, não escondem o orgulho, a satisfação e até certa preocupação com o futuro da profissão escolhida pelos herdeiros, considerando o quadro de dificuldades que precariza o trabalho médico.


Um por todos e todos por um


A Medicina é unanimidade na família Facin. Formado há 35 anos pela Universidade Federal do Paraná, Carlos Roberto Facin é casado com a também médica Lenira Maria Esmanhotto Facin, pediatra. Pai de três médicos (Giuseppe, Giovanni e Mirella) e dois acadêmicos da área (Giulliano e Graziella), o especialista em Cardiologia e Medicina Legal admite que não influenciou diretamente a escolha dos filhos, mas acredita que a maneira verdadeira e honesta como conduziu o trabalho e o fato de ter sido um pai bastante presente possa ter despertado nos jovens a vocação pela Medicina. "Em alguns casos os filhos rejeitam a profissão dos pais justamente pela ausência que ela provoca no seio familiar. É preciso se esforçar para suprir essa falta. Sempre digo que não vivo para a Medicina, mas sim da Medicina", diz. Ele recorda-se, entretanto, que a esposa também se empenhava para cuidar da criançada. "Lenira chegou a trabalhar apenas um período. Ela espiava da janela do consultório onde atendia o carro em que eles estavam junto com a babá".


Carlos Roberto Facin conta que a Medicina nem sempre foi a primeira opção de alguns filhos e que, para os casos de indecisão, a cumplicidade, a união e o diálogo sempre foram aliados. "Giovanni me disse que não estava se sentindo à vontade nas aulas de Arquitetura e Urbanismo e que queria ingressar na Medicina. Conversamos muito e eu o apoiei". Situação semelhante ocorreu com Giulliano, que após concluir o curso de Direito, sentiu-se motivado a trilhar pela Medicina. "Fico animado com todos. Até brinco que temos um lema: um por todos e todos por um. Considero-me abençoado e não enxergo aspectos negativos no envolvimento deles com a mesma profissão. Pelo contrário". Tanto que com Giuseppe, filho mais velho, também especialista em Cardiologista e chefe do setor de cardiologia do Hospital da Cruz Vermelha, o Dr. Facin diz que é comum trocar impressões sobre o resultado de exames, como eletrocardiogramas.
"Seguir na Medicina foi consequência da nossa união. Acompanhávamos meu pai em Congressos e sempre que possível estávamos juntos", conta Giuseppe. Ele diz que evita falar sobre Medicina em casa, mas admite que invariavelmente o tema surge na conversa entre irmãos. "Giovanni é residente no hospital em que atuo. Pedi para que me ajudasse em um procedimento. Pouco tempo depois fui chamado para atender uma emergência e minha esposa, que também médica, assumiu meu lugar, amparou meu irmão e passou as orientações necessárias para atender o paciente", conta o cardiologista, exaltando a experiência.
Giuseppe, que será pai em breve, admite que gostaria que o filho seguisse os passos da família na Medicina. "É uma profissão gratificante", confessa. "Só espero que ele possa ter uma perspectiva mais otimista de trabalho", almeja. O futuro profissional do médico também preocupa Facin. No ponto de vista do patriarca da família, a defasagem dos honorários é o principal vilão da profissão.


Espírito empreendedor

O trabalho em família é sempre desafiador. Exige sintonia dos objetivos, uma dose extra de dedicação e, essencialmente, entusiasmo pela atividade exercida. Para o médico José Francisco Schiavon, estes quesitos foram o estímulo para inaugurar, depois de mais de 30 anos de trabalho, a própria clínica. Nela atuam os quatro filhos (Marcus, Márcio, Marcelo e Marlus), ambos médicos e especialistas em Ortopedista e Traumatologia, assim como o pai. "Minha meta era que eles frequentassem a faculdade e que o curso escolhido pudesse dar a chance de atuarem como autônomos", conta.

Apesar de Dr.Schiavon dizer que a opção por Medicina partiu dos filhos, assim como a escolha da especialidade, Marcelo, primeiro a ingressar na área, não nega que o pai teve bastante influência sobre sua decisão. "Percebia que ele tinha o desejo de que fôssemos médicos". O que, de acordo com Marcelo, tem muitos pontos positivos. "A colaboração entre os irmãos é mútua, discutimos em casa vários casos e nos ajudamos. O pai faz questão de estar junto no trabalho, de acompanhar tudo. É a alegria dele e a nossa também". Marcus, filho mais velho, confessa que se espelhou no pai. "Ele era médico do Clube Atlético Paranaense. Lembro de ir ao estádio e acompanhá-lo no trabalho. Ficava fascinado com aquele ambiente".

Ao fundar a clínica em 2007, Dr.Schiavon tinha receio de que a convivência pudesse gerar conflitos entre os irmãos, o que não ocorreu. "Não existe indisposição, mau atendimento. Preservamos princípios como humanismo e o respeito ético-profissional. Temos a consciência de que se um falhar, todos irão carregar esta marca", frisa. Marcus atribui a sintonia do trabalho à experiência individual de cada irmão. "Esse período foi bom para amadurecer a ideia de atuar em conjunto, sem desavenças e ciúmes", afirma, destacando que no dia a dia os irmãos procuram manter a fidelidade dos pacientes. "Cada um tem seus pacientes, não misturamos".


Sobre a sucessão administrativa da clínica, Schiavon admite que está "soltando" aos poucos o comando dos negócios. "O conhecimento administrativo do pai foi muito importante para nós, mas sabemos que a transição das informações e dos processos deve ocorrer; é natural. Ter alguém de confiança no comando dos negócios é sempre cômodo, mas temos que desmamar", brinca.


As três gerações

Muitos acreditam que a inclinação por uma atividade é tão forte que pode ultrapassar gerações. A família do infectologista e conselheiro do CRMPR Alceu Fontana Pacheco Júnior é retrato dessa vocação. Além dele, o pai, o irmão, e o filho foram conquistados pela Medicina. Ele conta que desde criança almejou ser médico, sem saber muito o por quê. "Queria seguir o exemplo do meu pai, médico cirurgião-geral, mesmo sem ter noção do que isso realmente significava". "Nos tempos de faculdade trabalhamos juntos em operações, mas no final do curso migrei para área da saúde pública e, posteriormente, infectologia", lembra, destacando que o sonho do pai era que ele atuasse como cirurgião-geral. Quem acabou cumprindo o desejo do avô foi o filho mais novo do infectologista, Alceu Fontana Pacheco Neto, que cursou Medicina e especializou-se em Cirurgia-Geral. "Assim como meu pai, sempre quis essa profissão", afirma Alceu Neto. Para ele, ser filho de médico abre muitas portas e amplia o circulo de relacionamentos. "No ambiente de trabalho, muito profissionais já me reconhecem por ser filho de Alceu Pacheco".

A Medicina nunca foi uma imposição do infectologista aos demais filhos. Ele diz que gostaria que Carolina, hoje psicóloga, tivesse se tornado médica. "Argumentei que o campo de trabalho era mais vasto. Ela prestou vestibular para Medicina, mas decidiu por psicologia e apoiei". Já Letícia não titubeou e teve a Arquitetura como primeira escolha.

Apesar da rotina atribulada, o convívio entre os médicos da família Pacheco é comemorado - Luciano, irmão de Alceu, é médico ortopedista. "Na época que o meu pai clinicava não tínhamos tanta informação e nem se imaginava realizar uma cirurgia por videolabaroscopia. Hoje converso com meu filho sobre as tecnologias e os avanços da nossa área. Acho ótimo", afirma o infectologista.

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