Medicina com honra e dignidade

Como tem sido habitual nos últimos 25 anos, o Conselho de Medicina do Paraná homenageia em 18 de outubro, Dia do Médico, profissionais que completaram o Jubileu de Ouro de forma exemplar, sem nenhuma sanção ética. Uma forma de reverenciar, por extensão, todos os médicos que cumprem com zelo e dedicação a sua missão hipocrática. Sendo a Medicina o curso de graduação mais longo, que exige especialização e permanente atualização de conhecimento, esperar a conclusão de uma trajetória de meio século para inscrever o nome na história do conselho de classe pode soar como desvalor ao médico.

É de se fazer uma outra leitura. Pelas próprias características da atividade, a Medicina e o profissional que a exerce - se consagra a cada procedimento bem-sucedido, a cada gesto de conforto e de amparo, à manifestação de solidariedade e de atenção ao paciente. Como ser humano, dependente de uma série de fatores, inclusive recursos tecnológicos, o médico também é falível. E a dimensão destas falhas, mesmo contrariando as estatísticas exitosas milhares de vezes mais repetitivas, incorre em generalizações e julgamentos prévios. Pressupomos que nenhum médico queira errar, mas se distanciar-se dos preceitos éticos por algum motivo, como praticar ato para o qual não está devidamente qualificado, deve estar consciente de que poderá responder ética, civil e penalmente pelas consequências.

A mesma responsabilização a sociedade deveria decretar àqueles que, por omissão ou ação, tornam tortuoso o caminho de acesso na atenção à saúde do cidadão. O profissional de saúde, seja ele médico ou não, está na linha de frente para enfrentar conflitos diários, pelo desaparelhamento dos serviços, pelo excesso de demanda, pela jornada extasiante. Prevalece a falsa propaganda do que assegura a Constituição, de hospitais construídos ou ampliados, do recrudescimento da oferta de serviços, do acesso igualitário e universal. Depois de 22 anos de instituição do SUS, até hoje não foi regulamentada a sua fonte de financiamento. Recursos cada vez mais escassos, demanda em ascensão. Resultado? Má remuneração aos que prestam o atendimento e restrição e precarização dos serviços.

Neste ano, ao reverenciar os cerca de 350 mil médicos brasileiros - 18,5 mil deles em atividade no Paraná - devemos fazer um apelo para que se dê o devido valor para 'quem cuida da gente'. As instituições representativas pedem o reconhecimento, respeito e condições de trabalhar pela saúde de todos. Em recente manifesto à Nação, defendemos como prioridades mais recursos para o SUS, mais qualidade no atendimento, mais eficiência na gestão, mais condições de trabalho e mais qualidade no ensino médico. O mesmo respeito é cobrado das operadoras de saúde, que aviltam a remuneração do trabalho médico. No dia 26 de outubro, será realizada em Brasília a mobilização nacional pela valorização da assistência médica, que visa chamar a atenção para o descaso que coloca em risco número crescente de vidas.

O mundo todo acompanhou há pouco, com emoção, o resgate dos mineiros no Chile. Esta mesma sensibilidade precisamos fomentar por aqui, onde milhões de brasileiros estão 'soterrados', subsistindo com a ignorância, a miséria, a falta de saneamento básico e com o descaso na atenção à saúde, que inclui a desassistência e a proliferação de doenças que há muito deveriam estar erradicadas.

O bem da vida e a dignidade humana são patrimônios e valores supremos que devem ser respeitados. Ao médico cabe a atenção à saúde do ser humano, em benefício do qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. Aos gestores, tomadores de decisão e sociedade cabem oferecer boas condições de trabalho e remuneração justa para que o médico possa exercer a profissão com honra e dignidade.


Carlos Roberto Goytacaz Rocha - Presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná

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