Medicina paranaense em destaque

25 de abril de 1906. Nesse dia, portanto, há 100 anos, veio à luz, filho de Manoel Martins de Abreu e de Joana Braga de Abreu. A presença do médico dedicado, competente e humanitário, foi uma constante. Raras foram as famílias que não recorreram aos seus serviços profissionais. A quase totalidade, pois, contou com a benfazeja e benemérita ação do excelente profissional Mário Braga de Abreu.
Eis a razão porque a sociedade curitibana, solidária e agradecida, se regozija em homenagem ao ilustre conterrâneo, pelo transcurso do centenário de sua benemerente existência.

Tive o privilégio de usufruir de seu saber no curso de formação médica, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Suas aulas magistrais eram ministradas à noite, na Policlínica Professor Garcez do Nascimento, situada na Rua Ébano Pereira, 114. Ensinava como quem tem autoridade, com a ênfase adequada, sem jactância, com a sobriedade característica de quem se empenha pelo bem comum.
Muito rigoroso, em tudo, mas extremamente justo. Era exigente, primeiramente consigo mesmo, assim como com todos quantos participavam do seu profícuo trabalho e das atividades por ele coordenadas.

As referências e os conceitos dos alunos ao professor são muito significativos, pois são marcados por espírito crítico. Nessa linha de idéias, os comentários entre os colegas, relativos ao professor Mário Braga de Abreu sempre foram as mais justas e esperançosas. Desde o início do curso de Medicina, as referências e os conceitos relativos à exponencial figura do doutor Mário Abreu condicionavam a aspiração em busca dos seus conhecimentos. Quanto à sua competência, era motivo de justificado orgulho para a medicina paranaense: a referência de que três profissionais ombreavam-se no País: Dr. Montenegro em São Paulo, Dr. Fernando Paulino, no Rio de Janeiro e Dr. Mário Braga de Abreu, em Curitiba. Todos consagrados "Bisturi de Ouro".

De fato, a excelente qualidade dos ensinamentos ministrados, motivou colegas a optarem pela especialização em clínica cirúrgica, disciplina ministrada pelo médico Mário Abreu. E, chegado o término do curso, dois anos depois de ter passado em sua disciplina, foi eleito, por unanimidade, seu paraninfo. Sua oração de paraninfo, no antigo Cine Ópera, então o local mais amplo da cidade, foi uma edificante aula de ética.

O forte do Dr. Mário Braga de Abreu, como profissional médico, foi desenvolvido no Hospital de Caridade, da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Seu grande empenho era o bem-estar dos pacientes, especialmente aos desprovidos de bens materiais.

Absolutamente despido de qualquer anseio de promoção pessoal, assim como desprendido de angariar fortuna, não foram poucas as oportunidades em que lançou mão de seus recursos para fazer face a despesas do hospital. Lembro-me de uma orientação sua a um grupo de médicos entre os quais me encontrava: "Não se preocupem com dinheiro. Atendam bem os doentes. O mais lhes vira por acréscimo".

Esta orientação identifica-se com os ensinamentos de Cristo, conforme se lê no Evangelho descrito por São Lucas (12,30-31).

Dr. Mário não era afeito a manifestações de sua formação e crença religiosa. Vivenciava o espírito cristão!

Para melhor concretizar a modelar ação do Médico Dr. Mário Abreu, permito-me citar dois exemplos de atendimento:

1.º - Em 1962, atendi uma adolescente de 13 anos, vinda do Interior do Estado, como indigente, apresentando uma cardiopatia congênita: persistência do ducto arterial. Foi acolhida pelo Dr. Mário, a pedido meu, realizando a primeira cirurgia cardiovascular no Hospital de Caridade da Santa Casa, com absoluto sucesso.

2.º - Uma jovem senhora, de 37 anos, portadora de litíase vesicular, foi operada pelo Dr. Mário, com pleno sucesso.Mas o imponderável feriu profundamente a sensibilidade de todos. No pós-operatório, desenvolveu um quadro psicótico, foi acometida de peritonite e, apesar de todos os cuidados, inclusive conferência médica, tendo a participação de renomado Infectologista, a paciente faleceu. Ouvi do Dr. Mário a seguinte expressão de desalento: "Estamos de cabeça inchada!". Evidente demonstração do seu zelo profissional e, acima de tudo, do carinho e dedicação com que empenhava o seu saber e experiência pelo bem do paciente e dos seus familiares.

A ação desenvolvida pelo Dr. Mario Abreu foi bem mais ampla do que a sua dedicação em tempo vital à clínica e ao ensino. Sempre atento ao bem comum, teve decisiva participação na criação da Faculdade de Ciências Médicas e, subseqüentemente, da Universidade Católica do Paraná (UCP), hoje Pontifícia. Preocupado com o aprimoramento da formação dos médicos, acolheu o apelo do então arcebispo de Curitiba, dom Manuel da Silveira D'Elboux que, desejoso de propiciar aos estudantes de Medicina, a par da formação profissional, o enriquecimento pelos princípios cristãos, contribuiu eficazmente para a instituição da Faculdade de Ciências Médicas, hoje Curso de Medicina da PUCPR.

Na esfera associativa, teve intensa atuação à frente da Associação Médica do Paraná. Ocupou a sua presidência por duas vezes: 1939-1940 e 1962-1963, imprimindo-lhe o seu dinamismo. Percorreu todo o Estado do Paraná, expandindo as atividades da Associação nos Municípios aptos a serem integrados.

Quando se faz referência ao Dr. Mário Braga de Abreu, é absolutamente justo e indispensável registrar a constante presença, a seu lado, da grande mulher que foi sua esposa, senhora Denise Lombardi Abreu. Companheira dedicada, em todas as suas intensas atividades, era uma luz ao seu caminhar. Certamente representou verdadeira coluna de apoio ao grande profissional médico e professor. Ligados por laços de afetos recíprocos constituíram uma família maravilhosa, que bem reflete a união do casal perfeito.

Regozijemo-nos, pois, neste 25 de abril, pelo centenário do grande coestaduano doutro Mário Braga de Abreu, exponencial da medicina paranaense.

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