18/11/2008

Morte de idosa expõe falhas em hospitais

Conselho Regional de Medicina diz estar preocupado com casos de violência dentro de unidades de atendimento à saúde



Ponta Grossa - A morte de uma idosa, vítima de violência sexual e espancamento dentro de um hospital, expõe a vulnerabilidade de unidades de saúde. O caso, ocorrido no fim de semana em Piraí do Sul, nos Campos Gerais, é apenas o mais recente. São várias as ocorrências registradas no Paraná nos últimos meses, envolvendo pacientes e profissionais da área de saúde.


Para o presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PR), Montgomery Pastorelo Benites, se todas as unidades de saúde cumprissem a lei e tivessem quantidade suficiente de enfermeiros e auxiliares os pacientes estariam mais seguros. "Não resolveria o problema da violência, mas diminuiria os casos. Sempre haveria alguém por perto, alerta, capaz de observar se está tudo bem, se há algum estranho rondando e até de chamar ajuda", diz.


O Hospital Municipal de Piraí do Sul, por exemplo, tem apenas uma enfermeira, que trabalha oito horas diárias. No restante do tempo, contrariando as normas técnicas, a unidade fica sem um enfermeiro responsável. Benites também salienta que o número de auxiliares de enfermagem precisa ser proporcional à quantidade de leitos. "Se as profissionais não estão sobrecarregadas de trabalho, podem cuidar melhor dos pacientes", afirma. No total, 23 auxiliares trabalham no hospital. À noite, somente quatro auxiliares se revezam no atendimento às diversas áreas. O hospital é o único da cidade e atende aproximadamente 300 pessoas por dia.


Para o Conselho Regional de Medicina (CRMPR), a sucessão de casos de violência contra profissionais de saúde em ambientes de trabalho é motivo de preocupação. O assunto está sendo debatido em uma comissão interna, levando em consideração que muitos casos de violência são imprevisíveis, mas também que há alternativas para melhorar a sensação de segurança. De acordo com o CRM-PR, não é possível generalizar, já que existem estabelecimentos que controlam atentamente a circulação de pessoas.


Somente quando casos de violência acontecem é que fica evidente a falta de segurança em muitos hospitais. O diretor clínico do Hospital Municipal de Ponta Grossa, Antônio Sobrero, reconhece que apenas depois que um caso grave de violência aconteceu na unidade é que as preocupações com segurança foram levadas mais a sério. Em agosto de 2006, dois pacientes que estavam com transtornos psiquiátricos foram colocados no mesmo quarto. Eram um homem e uma mulher. O homem, de 44 anos, aproveitou que não havia ninguém por perto e que a paciente estava sedada para estuprá-la.


"Até então, tínhamos uma segurança patrimonial. E a partir daquilo passamos a nos atentar mais para o fluxo de pessoas e para o que estava acontecendo dentro do hospital", conta Sobrero. Depois do caso, a unidade é vigiada por seis guardas municipais, com controle na circulação de pessoas e algumas entradas são fechadas depois das 20 horas.


A Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar) alega que, em grandes centros, os investimentos em segurança são visíveis. Prevenção de doenças e casos rumorosos de raptos de crianças levaram à estruturação. Já em pequenas cidades, a capacidade de investimento é menor, dificultando a destinação de recursos para o sistema de segurança. A federação também destaca que alguns casos de violência são imprevisíveis e praticamente impossíveis de evitar e que a recomendação é de que crianças, deficientes mentais e idosos devem receber atenção especial. A Fehospar destaca que a estrutura pública de segurança deve ser acionada em situações específicas, como quando estão internados pacientes vítimas de atentados e sobreviventes de chacina.



Casos recentes no PR

Pelo menos cinco histórias de agressões ligadas a atendimentos médicos foram registradas neste ano. Veja:



21 de fevereiro - Uma dona de casa, de 40 anos, foi presa por policiais militares, em Telêmaco Borba, poucas horas depois de seqüestrar uma recém-nascida do Hospital e Maternidade Doutor Feitosa. Maria Aparecida Antunes de Miranda levou a menina, depois de fingir visitar a mãe do bebê.


27 de fevereiro - Um vendedor de 42 anos agrediu a golpes de estilete um médico e uma atendente, no interior de uma clínica, em Santo Antonio da Platina, no Norte Pioneiro.


7 de maio - Na tentativa de assalto a um carro-forte na porta do Hospital Infantil Pequeno Príncipe, houve tiroteio e um dos ladrões foi morto, enquanto um segurança ficou gravemente ferido. A unidade hospitalar estava lotada, mas ninguém mais chegou a ser atingido pelos disparos.


30 de junho - Um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi agredido com um golpe de machado na cabeça quando atendia um homem de 63 anos, portador de transtornos mentais. O médico teve ferimentos graves.


30 de junho - Dois homens invadiram o Hospital Cristo Rei, em Ibiporã, Norte do Estado, e após ameaçarem os funcionários, incluindo o médico de plantão, mataram a tiros um homem que estava internado havia alguns dias após sofrer atentado.



Instituição tinha vigia até 2005

O Hospital Municipal de Piraí do Sul contava com um vigilante até 2005. Mas a prefeitura decidiu transferir o funcionário para outro setor, deixando o único hospital da cidade sem nenhum profissional de segurança. Sem alguém para controlar o fluxo de pessoas, um cortador de pínus aproveitou que uma idosa estava sozinha na enfermaria para abusar sexualmente dela e espancá-la, na madrugada de sexta-feira.


Fonte: Gazeta do Povo


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