05/03/2008

Movimento médico ressaltado na abertura do I ENCM

O I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina teve na noite de quarta-feira a sua abertura oficial na sede da Casa do Médico, em Curitiba. A primeira edição do ENCM no Paraná marcou as comemorações do cinqüentenário de fundação do CRM-PR e foi prestigiada por mais de 250 pessoas, em sua maioria representantes dos Conselhos de Medicina de todos os Estados, que se fizeram presentes às atividades desta quinta-feira. O encontro se encerra na tarde dessa sexta, quando o presidente do Conselho Federal de Medicina, Edson de Oliveira Andrade, fará a apresentação do relatório do Índice de Desenvolvimento e Saúde - IDS/CPDOC.


Os trabalhos do primeiro dia, quarta-feira, foram iniciados pela manhã, mas a solenidade de abertura ocorreu às 20h. A apresentação do Hino Nacional Brasileiro, com a participação dos alunos da Escola Estadual para Surdos Alcindo Fanaya, foi de grande emoção e inspirou os discursos dos representantes das entidades. Gerson Zafalon Martins, presidente do CRM, chamou a atenção para os exemplos de união, harmonia e solidariedade, além de capacidade de superação, que devem pautar também o movimento médico em busca de condições condignas de trabalho.


Miguel Riella, da Academia Brasileira de Medicina, ressaltou o compromisso de envolvimento das entidades no movimento pela valorização do trabalho médico. Eduardo Santana, presidente da Fenam, falou da necessidade de união e da construção de entendimento cidadão e que este se apresenta como momento de grande importância para a sociedade, inclusive pela proximidade das eleições. O dirigente disse que não se pode prescindir de nenhuma liderança médica e também fez deferência especial às mulheres, pela proximidade do Dia Internacional da Mulher, referencial histórico de luta em defesa da vida e da liberdade.


O presidente da AMB, José Luiz Gomes do Amaral, fez homenagem ao evento dos Conselhos e a importância de ação conjunta para realçar a posição dos médicos. Manifestou preocupação com a subvalorização do trabalho médico, assim como com a ameaça aos princípios que regem a profissão, à autonomia e à liberdade. Também falou da importância do voto e disse que "a nossa profissão corre perigo, com risco à integridade do CFM de regular a profissão".


Edson de Oliveira Andrade, presidente do CFM, referiu-se à manifestação pública como um momento histórico da luta dos médicos, convocando a todos para participarem. "Vamos berrar no ouvido de quem não quer ouvir, senão vamos ficar tão surdos quanto aqueles que não querem nos ouvir. Vamos dizer ao povo de que estamos de seu lado", disse, ressaltando que o movimento médico expressa claramente que se busca a defesa de uma medicina de qualidade. Condenou a banalização da atividade pelas várias distorções existentes e concluiu: "Não existe mais espaço no movimento médico para a covardia, para os atos contra os interesses dos médicos e do povo brasileiro".


A solenidade oficial foi encerrada com a apresentação da Orquestra Harmônicas de Curitiba.


I Encontro dos Conselhos Regionais de Medicina - 2008


Meus Senhores e minhas Senhoras,

ouvir o Hino Nacional é sempre um convite à reflexão, seja em bons ou maus momentos, se é que seja possível dissociá-los. Tivemos aqui um breve espetáculo de disciplina, destreza e harmonia que nos sensibilizaram e, por certo, nos fazem refletir sobre novos horizontes da Pátria Amada, novos horizontes aos direitos elementares de cidadania e dignidade humana.

Faz-nos refletir sobre o labor que apregoa o útil, o poder, os meios necessários para sobrevivência física.

Sem os esforços do trabalho a humanidade não teria evoluído em exigências morais ou conhecimentos técnicos.
Quando trabalhamos, o desejo de nossas expectativas pelo sucesso nos motiva a buscar os objetivos e faz irradiar a sensação do prazer quando o conquistamos.

E nós, médicos, sabemos muito bem o quanto é preciso trabalhar para suprir o viver com decência e continuar progredindo no conhecimento humano e científico.

Este Encontro é uma jornada de muito trabalho, que por certo contribuirá para a construção do alicerce de novos tempos na dignificação da Medicina e da profissão.

Para nós, paranaenses, é motivo de júbilo pelos 50 anos do nosso Conselho construídos sob inspiração da ética e de defesa dos princípios hipocráticos.

Uma comemoração mais do que especial pelo prestigiamento que se traduz pela presença fraterna de presidentes, conselheiros, médicos, representantes de todos os Estados, aos quais, impossibilitado por razões óbvias de nomeá-los, transmito meu especial carinho e dos conselheiros e médicos do Paraná a todos por meio do Dr. Edson de Oliveira Andrade, presidente do Conselho Federal, e da Dra. Lívia Barros Garção, numa deferência especial a todas as conselheiras e médicas pelo Dia Internacional da Mulher que se aproxima.

Os senhores e senhoras foram agraciados com uma cópia do quadro O Médico, com um pião e com o texto do mestre e amigo Rubem Alves, crônica extraída de seu livro "Educação dos Sentidos", onde compara com muita sabedoria a caixa de ferramentas com a caixa de brinquedos.

A de ferramentas é a que reúne todos os utensílios para aumentar o poder do corpo. A caixa de brinquedos é o abrigo do aparente inútil. Armar quebra-cabeças, empinar pipas, rodar pião, jogar xadrez, dançar, ler um conto, ouvir música... não levam a nada.

Tá, mas como bem diz, não existem para levar a coisa alguma. Quem está brincando já chegou. Chegou na alegria.
Neste raciocínio, uso a "tirada" do Dr. João Manuel Martins em recente edição da nossa revista cultural Iátrico, da qual é o idealizador e editor: "A vida não se justifica pela utilidade; se justifica pela alegria".
Com elas, as inutilidades, vêm os jardins, a poesia, a música, nos tocam a alma e agraciam o viver.

Ah! A música, com toda riqueza de sua variedade de ritmos e arranjos que fazem enriquecer o tempo não produtivo.

Shakespeare pregava que nossos corpos são nossos jardins, cujos jardineiros são nossas vontades. Assim, que devemos entender a música como a padroeira da celeste harmonia, que traz consigo acordes variantes dos sentidos, alguns mais ou menos hábeis, mais ou menos perceptíveis, porém, que exaltam as características da união, da perseverança e da solidariedade, hoje tão ansiadas por todos nós, médicos.
Dessas lições de pertinácia e harmonização devemos ornar as lutas pelas quais temos nos lançado.

Se uníssono, soará como acorde o brado de nossas causas.
Estas palavras tiradas da minha caixa de brinquedos serão complementas pelos acordes de um grupo de músicos paranaenses, que nos alegrarão com a inutilidade das gaitas de boca, que todos sonhamos um dia tocar num filme de mocinho ou de amor.

Muito obrigado, e apareçam sempre!



Gerson Zafalon Martins é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná


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