30/06/2010

Na ortopedia, um pacto

Renato Moraes da Conceição Júnior, 25 anos, está há 26 dias em uma maca no corredor do Hospital Universitário à espera de uma cirurgia ortopédica. No dia 4 de junho, ele fraturou dois dedos da mão. Foi parar no HU e desde então não saiu mais.

Júnior só deixa o hospital nos fins de semana, mas na segunda-feira precisa voltar. "Se eu ficar em casa perco o lugar na fila de espera pela cirurgia e tenho que começar tudo de novo", explica. Inconformado com a demora, o paciente registrou queixa na Ouvidoria do HU, na Secretaria de Saúde e procurou o Ministério Público. Tudo o que ouviu foi que tinha de esperar a vez."

O jovem divide o corredor com mais pacientes fraturados. "Tá difícil ficar aqui. Tem muita gente doente. Só que eu não estou doente, só espero por cirurgia". Para aliviar as dores, enfermeiras dão a Júnior anti-inflamatórios. "Não vejo a hora de ir embora."
O caso de Júnior, que trabalha como auxiliar de conferente, é classificado como de média complexidade. O hospital que deveria operá-lo é o Metropolitano, em Sarandi. Apesar de ser o primeiro da fila, ele não sabe quando fará a operação.

"Quando tem um caso urgente, eles passam na frente." A reportagem procurou a direção do Metropolitano, mas não obter retorno. Uma enfermeira disse que a cirurgia deve ocorrer entre quinta e sexta-feira.


Acordo

A 15ª Regional, as secretarias municipal e estadual de Saúde e os hospitais credenciados pelo SUS em Maringá firmaram um acordo, em meados de 2007, para tentar diminuir a espera dos pacientes por cirurgias ortopédicas.


"A fila era muito grande e a demora também. O paciente entrava em uma fila eterna no HU", comenta a chefe da Divisão de Assistência à Saúde da 15ª Regional, Ercília Fukui. "Esse fluxo foi estabelecido também para ninguém dizer que o hospital estava escolhendo pacientes."
O pacto divide os casos em baixa, média e alta complexidade e estabelece qual hospital vai recebê-los. Existe ainda outro detalhe que determina a escolha do hospital: o último algarismo do ano de nascimento do paciente.

Quem opera pacientes com fraturas de baixa complexidade é apenas o HU. O Santa Rita, o HU, a Santa Casa e o Metropolitano de Sarandi atendem os de média complexidade. Os casos de alta complexidade são divididos entre a Santa Casa e o Santa Rita.

Apesar do acordo firmado em 2007, a espera por cirurgia ortopédica continua longa. Na Promotoria de Defesa da Saúde Pública, as queixas por demora no atendimento continuam. Ercília diz que há grande demanda por atendimento ortopédico em Maringá.

"Os acidentes automobilísticos (e que envolvem fraturas) são um dos maiores responsáveis por vítimas por causas externas." Segundo ela, o tempo de espera na fila por cirurgia ortopédica está entre três e cinco dias. Júnior, que está no pronto-socorro do HU para não perder lugar na fila, espera pela operação há quase um mês.
Ela admite, no entanto, que conforme a complexidade, o tempo de espera aumenta. "Há casos que precisam de um cirurgião específico, que vem de outra cidade. Aí demora mais."

O Hospital Metropolitano passou a fazer parte do acordo em maio deste ano, mas começou a enfrentar uma série de dificuldades. "Eles estão com falta de profissionais", diz Ercília. Vendo a situação, a 15ª deu prazo até quinta-feira (1º) para o hospital justificar a demora no atendimento. "Conforme a resposta, teremos que rever o contrato."


Pacto

O superintendente do hospital, José Carlos Amador, diz que a divisão funciona, mas um item do contrato precisa ser revisto. Pelo acordo, o HU se tornou a porta de entrada para o sistema.

Dessa forma, todos os pacientes que precisam de cirurgia ortopédica pelo SUS têm de esperar pela vaga no HU e não na unidade na qual será operado. Para Amador, a divisão por complexidade e ano de nascimento funciona desde que os pacientes fiquem no hospital em que serão operados. "Isso (o HU abrigar todos os fraturados) é uma imoralidade", reclama.

O superintendente chama de "mirabolante" a cláusula do acordo que põe o HU como receptor de todos os que aguardam pela cirurgia ortopédica. O contrato, segundo ele, não foi assinado na sua gestão. "Esse contrato eu não assinei e não assinarei."



José Carlos Amador, superintendente do HU


O HU recebeu alguma informação sobre quando poderão ser liberados os recursos?

Já ouvimos que poderia vir em parcelas de até 20 vezes, ou de uma vez só. A informação mais confiável que a gente teve é que viria em três ou quatro parcelas. Esse dinheiro foi colocado no Orçamento da União por meio de uma emenda, mas não quer dizer que vem. Até agora a única coisa oficial é um decreto no Diário Oficial da União (de 21 de maio), na qual consta que R$ 6,8 milhões que viriam para o HU foram destinados a outros programas do governo. É o valor de uma das parcelas que esperávamos receber. E isso foi publicado antes de toda aquela catástrofe com as enchentes no Nordeste. Agora, com tudo isso que aconteceu, imagine a chance de sair esse dinheiro?


A superintendência tem buscado apoio para resolver o problema?

Dependemos de pressão política sobre o governo. Os deputados fizeram a parte deles em aprovar a emenda, mas agora precisamos de apoio para ela sair do papel. Quem poderia resolver isso seria o ministro Paulo Bernardo, que é daqui da região, ou o presidente Lula. Há 60 dias, o Paulo Bernardo esteve aqui e disse que o dinheiro sairia. Faz duas semanas que estamos tentando marcar uma reunião com ele e ainda não conseguimos.


Caso alguma quantia seja depositada, qual a prioridade?

A situação do HU é semelhante à catástrofe no Nordeste. Há 20 anos o hospital está e situação emergencial, porque foi inaugurado incompleto. Uma das prioridades é o centro cirúrgico. O nosso é ridículo. Temos dois, enquanto o ideal seriam 11, que é o que está no projeto original.


Fonte: O Diário de Maringá

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