14/06/2012

"Não se pode aumentar o número de vagas em medicina sem pensar na qualidade de ensino", afirma especialista

"Não se pode aumentar o número de vagas nos cursos de medicina sem antes se pensar na qualidade de ensino". A conclusão são de estudos realizados pelo professor titular da Faculdade de Medicina da USP, Milton de Arruda Martins, ex-secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), do Ministério da Saúde.


Em palestra sobre o tema "Médicos: número e qualidade da formação", realizada na manhã da última quarta-feira (13 de junho), no Conselho Federal de Medicina, ele explicou que se comparado a outros países o número de médicos por habitante ainda é insuficiente, mas que com o número atual de vagas, a defasagem será suprida, uma vez que existem atualmente 113 mil jovens cursando medicina no país.


"Quando a gente pensa em corrigir esta falta de médicos no país, esta correção, ainda que com sérios problemas de qualidade, já foi desencadeada. O difícil é fazer um gestor compreender que ao autorizar um curso de medicina, o efeito não é imediato. Para que este jovem se transforme em um profissional e que atenda de fato as necessidades da sociedade demora, pelo menos dez anos, para que os efeitos sejam vistos."


Os números apresentados pelo professor causaram espanto aos representantes das entidades médicas que assistiam à palestra. Isso porque os dados apresentados pelo especialista não incluem as 500 novas vagas de medicina autorizadas pelo governo em 2011, nem as 850 aprovadas no inicio deste ano. Recentemente, o governo anunciou ainda outra proposta para aumentar ainda mais este número: mais 1.300 vagas nos cursos de ensino médico.


"Os números são preocupantes. Não há dentro deste contexto de formação de médicos uma previsão de financiamento da saúde e nem mesmo uma garantia de absorvissão destes médicos no mercado de trabalho, apenas formam médicos sem uma política de estado para a saúde definida, sem lei de responsabilidade sanitária ou uma previsibilidade de incidências atuariais, ou de dados epidemiológicos concretos, simplesmente adotam a posição de aumentar o número de médicos no país. Se eventualmente a falta de médicos ocorre, a correção deve ser feita baseada em estudos científicos sólidos e não aleatoriamente," destacou o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Cid Carvalhaes.


Também presente no evento o presidente eleito da entidade, Geraldo Ferreira, ressaltou que é necessário pensar em estratégias que garantam a qualidade da assistência da população. "As faculdades que existem já vão dar conta do recado, o que nos preocupa é a qualidade de formação destes médicos, precisamos de médicos qualificados para atender a população."



Planejamento

Ao avaliar os governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva, bem como a atual gestão de Dilma Rousseff, o professor disse que um planejamento coerente foi quase inexistente nos três governos, quando o assunto está relacionado a abertura de novas vagas, o que prejudica a qualidade de ensino. Em 1994, existiam 83 cursos de medicina, atualmente, são 196. Destes, 114 são escolas privadas e 82 públicas.


Ele afirmou ainda que o Ministério da Educação tem se aperfeiçoado muito na implantação de diretrizes para a autorização de novos cursos, mas ainda falta muito o que ser feito. Segundo ele, antes de abrir novas vagas é preciso levar em conta a necessidade social, diretrizes curriculares e formação para o Sistema Único de Saúde. Informou ainda que em praticamente todas as faculdades médicas existentes atualmente há problemas relacionados ao projeto pedagógico, à infraestrutura, e à uma rede de saúde qualificada e suficiente para atender a população. Outro problema ressaltado pelo especialista é a qualidade do corpo docente. "Não existe corpo docente qualificado suficiente no Brasil para atender a todas estas vagas que foram autorizadas."



Fonte: Fenam

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