11/03/2021

No limite de leitos de UTI, defendidas medidas restritivas como a solução mais viável

Em audiência de processo que discute ampliação de lockdown no Paraná, gestores apontam impossibilidade de abrir novas vagas para Covid-19 por falta de profissionais

O aumento no número de leitos para cuidados a pacientes suspeitos ou confirmados de Covid-19 no Paraná está próximo de sua capacidade máxima, mas por conta da falta de profissionais aptos a atuarem neste cenário. Com isso, as medidas mais eficazes ainda são o isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus.

Este foi o panorama traçado por representantes do governo do Paraná na audiência da ação conjunta proposta pelo Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal, na qual os órgãos pedem, entre outras coisas, o endurecimento das regras de isolamento social, a instalação de hospitais de campanha e a transferência de pacientes suspeitos ou confirmados de Covid-19 para outros Estados, em caso de falta de leitos. 

Ao justificar a ação proposta, o defensor público do Estado Julio Salem afirmou: “O que nos move nesta demanda é o fato palpável das vidas perdidas, ao contrário senso, a preocupação com a vida é nosso norte.”

O processo corre na 3ª Vara Federal de Curitiba. Após uma audiência de mais de três horas, na tarde desta quarta-feira (10), a juíza Ana Carolina Morozowski preferiu avaliar o grande volume de informações e os novos documentos anexados ao processo no início da tarde antes de proferir uma decisão.

A ação foi impetrada ao final do decreto do governador Ratinho Junior (PSD) determinando a suspensão das atividades não essenciais no Paraná por um período de 11 dias, a fim de reduzir a circulação de pessoas e, por consequência, da velocidade de transmissão do novo coronavírus. A partir desta quarta, está permitido o retorno de todas as atividades e até de aulas presenciais, mas com lotações reduzidas nos estabelecimentos.

Entretanto, o monitoramento de deslocamento por geolocalização anônimo indicou que o isolamento social ficou em cerca de 35%, abaixo do pretendido pelo governo do Estado, que esperava uma redução de 50% na mobilidade dos paranaenses.

‘Virtualmente zero’

Com participação de representantes da Sesa (Secretaria Estadual da Saúde) e do Ministério da Saúde, além de defensores públicos, procuradores públicos e representantes do MPE e MPF, a audiência judicial serviu para deixar claro que a maior limitação em um possível aumento no número de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) no Paraná é de pessoal. 

Questionado sobre o numero de profissionais capacitados para atuar nestas unidades, o diretor de Gestão em Saúde da Sesa afirmou que “é praticamente nulo, como em todos os outros Estados”. “Nossa limitação é de pessoal. Recursos, equipamentos, isso é administrável”, afirmou.

Isso ocorre porque há poucos profissionais especializados em terapia intensiva para cuidar de novos leitos de UTI, tanto na rede pública quanto na privada, e os que já estão na linha de frente, estão dobrando ou triplicando seus turnos. “E isso é prejudicial para o atendimento”, disse Filipak à magistrada.

Diante disso, Filipak afirmou que a viabilização de estrutura física de hospitais de campanha seria possível, mas não haveria equipe para operacionalizar. Já a terceirização destes hospitais encareceria em até dez vezes em relação aos custos operacionais do próprio Estado, segundo o diretor da Sesa, com o adendo de que seria uma prestação de serviços, ou seja, ao fim da necessidade, os equipamentos seriam retirados.

Luiz Otavio Franco Duarte, responsável pela Saes (Secretaria de Atenção Especializada à Saúde ) confirmou a disponibilidade de recursos do  do Ministério da Saúde para a instalação de leitos de UTI para qualquer Estado, a um custo de R$ 1,6 mil mensais. Entretanto, a administração é tripartite (governos federal, estadual e municipal) e o pedido deve partir do gestor local. “O orçamento para leitos é orçamento de guerra. Se o Estado do Paraná precisar de mil leitos, nós vamos nos esforçar para viabilizar”, afirmou. 

Atualmente, o Ministério da Saúde tem o pedido de 244 leitos a serem instalados no Paraná. A solicitação, entretanto, foi feita em dezembro.

Medidas mais restritivas

O governo do Paraná tem, atualmente, 1.546 leitos de UTI para adultos. Com hospitais superlotados, vagas de cuidados intensivos para males diversos são transformadas em leitos especializados, mas isso limita a capacidade de tratamentos destes outros males. 

Filipak ressalta que há dois tipos de doenças passíveis de redução: os acidentes e a violência e as doenças contagiosas – incluindo a Covid-19, mas não apenas essa. 

A informação ressalta a importância das medidas adotadas para restringir a movimentação das pessoas no período noturno e de venda e consumo de bebidas alcoólicas, que diminuem acidentes e a violência, segundo estatísticas da Polícia Militar, assim como o contágio do novo coronavírus, que ocorre principalmente pela interação humana. 

Apesar de levar em conta dados técnicos e análises especializadas para adotar medidas restritivas como as adotadas no início da pandemia, em março de 2020, e no último decreto restritivo, de 26 de fevereiro, a equipe da Sesa alerta que também é necessário ponderar as necessidades e os anseios da população.

O diretor geral da Sesa, Nestor Werner Júnior, explica que, embora ponderem aspectos técnicos no momento de definir as diretrizes das medidas adotadas, também é necessário levar em conta outras ciências, como a antropologia e a sociologia. “Se a gente for pensar hoje, unicamente levando em conta a assistência, o lockdown seria o mais viável, com paralisação total, como vimos em outros lugares do mundo. Mas será que a sociedade paranaense sobreviveria a isso? Fechar tudo por 20, 30, 40 dias para que a gente tenha um efeito tal qual a gente espera, como aconteceu em outros lugares? O caos social promovido por um lockdown total seria o preço a ser pago”, afirma.

 

Ocupação da UTI pediátrica no HU de Londrina sobe 200%

A presença de crianças nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no HU-UEL (Hospital Universitário de Londrina) é acompanhada diariamente pelas equipes coordenadas pelo médico Arnildo Linch Junior.

Diante do agravamento da pandemia, ele fala sobre a preocupação de um possível aumento de casos mais graves que possam comprometer a demanda no setor. O hospital atende ao SUS (Sistema Único de Saúde) com 14 leitos Covid-19 para crianças até 14 anos e 11 meses. Até a sexta-feira (5), a taxa de ocupação que vinha se mantendo em 7% saltou para 21% na segunda (8), percentual que se mantém até esta manhã de quinta (11).  

“Podemos dizer que 40% dessa ocupação é voltada para criança com doença respiratória, que são aquelas que ocupam os nossos isolamentos aéreos. Entre elas estão as com suspeita ou confirmação de Covid-19. A outra parte são crianças de pós-operatório de cirurgias de grande porte, vítimas de causas externas como grandes queimadas ou outras doenças infecciosas não respiratórias”, detalha Linch Junior, chefe da UTI pediátrica.

No boletim divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, o número de ocupação de leitos pediátricos tem oscilado entre 62% e 70% no último mês. Ao todo, Londrina possui 71 leitos de UTI (SUS e privado) pediátrico e destes, 44 estavam ocupados (62%) até a tarde de quarta (10).

Sobre a evolução desses pacientes para quadros mais graves, o pediatra explica que uma parcela significativa de crianças (em torno de 50%), evolui com doença respiratória mais grave. “Isso significa que elas terão necessidade de intubação orotraqueal e de ventilação mecânica. Mais ou menos metade da nossa população que interna com esse diagnóstico vai precisar de respirador durante o período de internação”, ressalta.

ALERTA

Em setembro do ano passado, a FOLHA também acompanhou o aumento do número de confirmações da Covid-19 em crianças entre 0 e 9 anos, que passou de 71 para 163 em apenas um mês em Londrina. Um salto de 129% que acendeu um alerta sobre a importância das famílias manterem as medidas preventivas, em especial, o isolamento social.

Até o momento, o número acumulado de confirmados com a doença nesta faixa etária é de 829. Um aumento de 408% (666 casos) em seis meses. Cenário que leva novamente os profissionais da saúde reforçarem a importância dos cuidados sanitários entre a população.  

“O aumento da ocupação na UTI pediátrica é multifatorial, mas é muito provável que as crianças que internaram por causa respiratória, entre aquelas com suspeita de Covid ou mesmo com diagnóstico confirmado, se deve ao impacto dos feriados de final de ano e mais recentemente o carnaval. Essas datas acabaram levando uma maior aglomeração de pessoas adultas e esse maior contato social pode ter refletido também numa maior chance de transmissão da doença no ambiente doméstico”, comenta o pediatra, considerando que o aumento era esperado. "Felizmente até o momento temos dado conta dessa demanda, embora sempre fique uma apreensão sobre um aumento de casos mais graves que possam comprometer também a demanda para UTI pediátrica”, afirma.

MENORES DE 1 ANO

Linch Junior revela que a maior parte das crianças que internam na UTI com suspeita ou com diagnóstico confirmado de Covid-19 têm menos de 1 ano de idade. “Tivemos crianças acima dessa idade, mas na maior parte são menores de 1 ano e uma boa parcela são recém-nascidos que nasceram de mãe que tiveram a doença ou a suspeita", afirma. 

Recentemente, Maringá (noroeste) registrou a morte de um bebê de um ano e quatro meses em decorrência da Covid-19. A criança estava internada, mas teve um agravamento no quadro de saúde e morreu na noite do dia 27 de fevereiro.  

Nesta semana, o País inteiro acompanha o drama das famílias e dos profissionais que atuam na Maternidade Escola Santa Mônica, em Maceió, capital alagoana, que está com 15 bebês internados em estado grave devido a contaminação pela Covid-19.  

RECADO ÀS FAMÍLIAS

O chefe da UTI pediátrica do HU, Arnildo Linch Junior, lembra que as medidas mais efetivas para evitar a contaminação da doença é evitar aglomerações, cuidar da higienização das mãos e usar máscaras. “Especialmente entre os adultos, pois eles podem adquirir essa doença fora de casa e levar o vírus para o ambiente doméstico, tanto é que tivemos recém-nascidos com suspeita da doença, assim como lactantes recentemente", diz.  

Questionado sobre uma possível mudança de cenário com a reabertura de escolas particulares, o pediatra cita que a chance da criança adquirir a doença, “em parte pode estar relacionada à atividade escolar, mas nada impede que essa criança ela adquira a doença através dos próprios cuidadores. Uma vez que há a decisão de levar a criança para escola é importante cumprir com as regras de higienização e ao menor sinal de sintoma respiratório, febre, dor abdominal, diarreia ou vômito na criança ou indivíduos que têm contato com essa criança em casa, ela deve ficar afastada do ambiente escolar. 

Fonte: Folha de Londrina

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