14/11/2012

Nota de falecimento: Thelma Villanova Kasprowicz


É com profundo pesar que o Conselho de Medicina do Paraná comunica o falecimento da médica Thelma Villanova Kasprowicz, aos 82 anos. O velório está sendo realizado na sala 7 da Capela do Prever e o corpo será cremado amanhã (15/11).

Filha do primeiro prefeito de Maringá, Innocente Villanmova Junior, Thelma nasceu em Teixeira Soares (PR), residiu e estudou em Curitiba, formando-se pela Universidade Federal do Paraná em dezembro de 1957. EM 2006 foi homenageada pelo CRM-PR pelo Jubileu de Ouro.

A médica pediatra era casada com o arquiteto Luty Villanova Kasprowicz, servidor público municipal. Também era irmã da médica Mitzy Villanova Menon, única mulher a presidir a Sociedade Médica de Maringá, falecida em abril de 2011.


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Leia a href="http://blogs.odiario.com/luizdecarvalho/tag/thelma-villanova-kasprowicz" target="_blank">entrevista concedida por Thelma Villanova Kasprowicz ao repórter Luiz de Carvalho, do jornal O Diário de Maringá, em janeiro de 2011:


A médica Thelma Villanova Kasprowicz, 80 anos, aposentou-se em 2004. Primeira pediatra de Maringá e filha do primeiro prefeito da cidade, Inocente Villanova Júnior, ela coleciona histórias. Foram 50 anos à frente da Santa Casa de Maringá, 32 deles como chefe do setor de Pediatria.

Quando chegou a Maringá, o aparelho mais moderno era uma máquina de raio X. Com a ausência de tecnologia, o diagnóstico dos pacientes era feito até pelo olfato. Foi ela a primeira a fazer a hidratação intravenosa nas crianças maringaenses.

Antes, as crianças saíam inchadas do hospital, após receberem o soro por debaixo da pele. Thelma não chegou a viver na cidade o status de filha do prefeito. No mesmo ano em que ela se formou, em Curitiba, Inocente Villanova encerrava seus quatro anos à frente da prefeitura.

O que ela não esquece da passagem dopai como prefeito foi a dificuldade de Villanova em administrar a cidade nos primeiros anos de mandato. A prefeitura se resumia a uma casa com um quarto e sem móveis.

Ela diz que logo nos primeiros dias, Villanova contou com a juda de um amigo, que trouxe jagunços para fazer a segurança da prefeitura. Entre as diversas homenagens pelo pioneirismo, a que mais se destaca é que a Thelma dá o nome ao Hospital Municipal.

Ela atendeu a O Diário na tarde de quinta-feira, na casa construída no terreno que pertence à família há mais de meio século, na Avenida Tuiuti. Thelma Villanova Kasprowicz, uma das pioneiras da medicina em Maringá.


O Diário - Que lembranças a senhora guarda da eleição de seu pai?

Thelma Villanova Kasprowicz - A Companhia Melhoramentos não queria que o papai ganhasse. Foi uma luta daquelas. A companhia apoiava o Valdemar Gomes da Cunha, quer era da UDN. Meu pai era do PTB. E como tinha pouco eleitor, era uma eleição apertada. (Villanova venceu Valdemar por 1.871 a 1.725. O terceiro colocado, Ângelo Planas, fez 1.707 votos). O papai soube logo após ganhar que o pessoal tentaria tirá-lo à bala. O que deram para ele administrar foi uma casa, que era um quarto só, sem móveis. Não tinha mesa, cadeira, nada.

E para piorar, o pessoal não pagava impostos. Logo nos primeiros dias parou aqui na frente de casa um amigo dele, de Pontoa Grossa, com um caminhão carregado de jagunços, todo mundo com espingarda nas mãos. Esse amigo disse: "Olha Villa, vim aqui para a ajudar você". Eles cercaram a prefeitura com sacos de areia e deixaram os jagunços lá, para evitar o ataque. O papai foi eleito porque fez muitos amigos, antes de começar a se discutir política. Ele tinha uma madeireira e costumava ajudar o pessoal que era mais carente de recursos. Doou madeiras para o primeiro prédio da igreja São José, ajudou na construção do Cine Horizonte. Daí, quando surgiu a eleição em Maringá, ele se animou e resolveu concorrer.



O Diário -Houve resistência na sua família pela escolha da profissão?

Thelma Villanova Kasprowicz - Um tio meu dizia que Medicina não era coisa para mulher. Lugar de mulher tinha que ser na cozinha, falava ele. Daí minha mãe rebatia: só se for para as tuas filhas, as minhas querem estudar e vão fazer Medicina, sim senhor. Na minha turma lá na Universidade Federal de Curitiba eram 135 homens e 15 mulheres. Eu tive sorte que logo quando entrei na universidade, em 1951, ela foi federalizada. Aí o papai quase não teve gastos. Quando me formei e vim para trabalhar aqui na Santa Casa em Maringá, ele já não era mais prefeito. Eu me formei em novembro, em dezembro acabou o mandato dele.



O Diário -Foram quantos anos de trabalho na Santa Casa?

Thelma Villanova Kasprowicz - Fiquei 50 anos na Santa Casa, 32 deles como chefe do setor de Pediatria. Saí em 2004, logo depois que nasceu a minha bisneta. Daí tive que operar a coluna três vezes. Sofri um acidente e não notei que tinha afetado uma vértebra. Começou com a perda nos movimentos das mãos, depois eu já não conseguia mais andar. Foi uma época muito difícil porque o meu marido (o arquiteto Luty Vicente Kasprowicz) sofreu deslocamento de retina. Aí ele ficou cego, e eu cadeirante.



O Diário -Quais eram os recursos para atender aos pacientes naquela época?

Thelma Villanova Kasprowicz - Quando cheguei, a máquina mais moderna que existia era um equipamento de raio X. A situação era bem diferente.

Os médicos faziam hidratação subcutânea nas crianças, o soro era aplicado por debaixo da pele. A criança ficava toda inchada, parecia um balão e ainda assim ficava desidratada. Comecei a fazer a hidratação intravenosa, coisa que ensinaram para gente em um curso em Curitiba.

Daí vinha gente até de Londrina para saber conhecer como é que a gente fazia esse tipo de hidratação aqui em Maringá. Como não tinha tanta tecnologia, a gente estudava na faculdade como reconhecer a doença pelo cheiro. Por exemplo: você chegava em um quarto e sentia cheiro de maça, mas não tinha nenhuma fruta ali. Isso quer dizer que o paciente era diabético. Eu tinha um nariz muito bom para essas coisas.



O Diário -Quais momentos a senhora não esquece desse tempo todo de trabalho no hospital?

Thelma Villanova Kasprowicz - Não esqueço da presença de Deus na hora do aperto. Várias vezes estava ao lada da cama, a criança morrendo e eu já tinha feito tudo o que podia.

Daí não foi nem só uma, nem duas vezes que ajoelhei do lado da cama para rezar. E a gente via milagres. Agradecia demais a Deus, porque tinha coisa que era ação divina, não vinha de nós.



O Diário - Entre os pacientes, quais as maiores mudanças nesse meio século de trabalho?

Thelma Villanova Kasprowicz - De doença, tem muita coisa que você não vê mais. Era comum você atender criança com difteria, que deixava a garganta trancada. Hoje nem se ouve mais falar nisso. Uma vez tiveram que colocar uma camisa de força num rapaz, que foi mordido por um cachorro louco. O rapaz estava fora de controle e o pessoal evitava ficar perto porque a saliva podia contaminar os outros.

Há quantos anos não se escuta falar de cachorro louco na rua. Agora, outra coisa que mudo muito é a educação das crianças. Isso mudou demais.



O Diário -As crianças eram mais educadas?

Thelma Villanova Kasprowicz - Na minha época, a criança chegava no consultório e falava, 'sim senhora, doutora'. Hoje você já não vê mais isso. Tem criança indo armada para escola, batendo em professor, acho um absurdo tudo isso que está acontecendo.

Acho que tudo isso acontece porque a educação está falha, a segurança também. Tive que mandar demolir meu consultório porque depois que eu parei de trabalhar o pessoal começou a invadir o imóvel para fumar maconha. Outra coisa que mudou muito é a liberdade do sexo. Era uma coisa que estava prevista. Liderei movimentos feministas. A gente sabia que isso seria livre, mas não desse jeito, não essa barbaridade.

Os homens já tinham o sexo livre, mas para as meninas não. Agora elas estão abusando. Acho que o sexo livre deveria existir, mas não o sexo vulgar. Os jovens fazem competição de quem faz mais isso, mais aquilo. No meu tempo o namoro era vertical. Hoje, ele é horizontal. A juventude sempre foi atrapalhada em relação à geração anterior, mas não que as moças fossem totalmente recatadas no meu tempo, mas eram mais contidas.




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