02/10/2008

Nova tecnologia torna pesquisa no Brasil independente do exterior


O desenvolvimento no Brasil da primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas deve facilitar as pesquisas por eliminar a dependência de importação de material de outros países. O desenvolvimento tecnológico, resultado de dois anos de pesquisas de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), será anunciado oficialmente na quinta-feira (2), em Curitiba, durante o 3.º Simpósio Internacional de Terapia Celular.

Cerca de três meses atrás, após 35 tentativas, os cientistas, sob a coordenação da geneticista Lygia da Veiga Pereira, conseguiram extrair a primeira linhagem estável de células-tronco a partir de um embrião. Desde então, os pesquisadores passaram a multiplicar essas células. Finalmente, algumas semanas atrás, conseguiram determinar que as células obtidas eram pluripotentes - podiam se transformar em qualquer tipo de tecido.



Para que servem?

As células-troco embrionárias são curingas celulares, podem se transformar em qualquer tipo de tecido existente no corpo humano e por isso são tão cobiçadas. Há esperança de que possam, no futuro, ser aplicadas em tratamentos de doenças atualmente incuráveis, restabelecendo a saúde a órgãos ou tecidos danificados. Entre as muitas enfermidades que poderão um dia ser combatidas com terapia celular estão diabetes, mal de Parkinson e problemas cardíacos.



Pesquisadores levaram dois anos e fizeram 35 tentativas até obterem resultados positivos

Até o momento, o Brasil dependia de doações de células-tronco embrionárias de pesquisadores do exterior. "Às vezes as células ficavam retidas nos aeroportos podendo prejudicar suas condições", disse o coordenador de Ensino e Pesquisa em Cardiopatias do Ministério da Saúde (MS) e coordenador de Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Antonio Carlos Campos Carvalho.

Para ele, a disponibilidade de uma linhagem celular no país vai facilitar o trabalho de todos os laboratórios que lidam com células-tronco em terapias celulares. Com o avanço das pesquisas e o possível desenvolvimento de terapias a partir das células-tronco no Brasil, o país também ficará livre do pagamento de royalties a laboratórios estrangeiros, afirma Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Raskin traça um paralelo com a produção de medicamentos contra AIDS. Ele lembra que o país não investiu em pesquisas nesta área e os medicamentos foram desenvolvidos por laboratórios estrangeiros que cobram altos valores. "Desta vez o Brasil aprendeu a lição. Vamos desenvolver aqui a tecnológica e depois negociar com outros países", afirmou.



Células-tronco 2.0A primeira linhagem brasileira de células-tronco já se beneficiou dos esforços obtidos por grupos estrangeiros que se mostraram equivocados. No início das pesquisas nos EUA, as células eram cultivadas junto com tecido animal, o que acabava produzindo uma contaminação permanente e impedindo seu uso em futuros testes clínicos.

No Brasil, aprendendo com os erros dos outros, o grupo de Lygia da Veiga Pereira evitou essa técnica e partiu para formas mais modernas de cultivar as células. "De certo modo, estamos com isso mais perto de trazer essas células-tronco para um cenário de testes clínicos. É como se fosse uma versão 2.0", afirmou a geneticista.

Lygia disse que deseja continuar multiplicando essas células em laboratório, para poder fornecê-las para outros grupos interessados no uso para pesquisa. "Já temos projeto para isso", contou.



Pesquisas

A legalização das pesquisas com embriões humanos, em 2005, pela Lei de Biossegurança, foi questionada na Justiça e só em maio deste ano teve a liberação do Supremo Tribunal Federal (STF). Por enquanto, a imensa maioria dos trabalhos com células-tronco embrionárias trata muito mais de ciência básica do que de tentar desenvolver tratamentos clínicos.

Todo esse cuidado é pelo enorme potencial de proliferação e de diferenciação que essas células têm. Carvalho acredita que ainda levará uns cinco anos para que os ensaios clínicos aconteçam. Mas, de acordo com ele, a descoberta da primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas coloca o Brasil no mapa dos países que já desenvolvem esse tipo de pesquisa.


Fonte: Gazeta do Povo

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