O importante papel da Oftalmologia brasileira

O teor e título desta matéria surgiram da vivência de muitas lutas, principalmente na Capital Federal, quando sentimos o risco de ameaças à saúde do nosso povo pela intervenção de estranhos ao mundo médico. Com alguma saudade e um saudável sentimento de alegria, voltamos ao passado, ao dia 21/10/09, na Câmara Federal, quando lá estivemos para a homenagem ao Dia do Médico prestada pela Câmara Federal e acompanhamento da votação do PL 7703 que regulamenta o exercício profissional da Medicina, conhecido como PL do Exercício Médico.

Sim, sim: saudades e alegrias pois a certa altura, em meio a tanta gente espalhada nas amplas dependências da Câmara, tivemos a certeza, mais uma vez, de que os oftalmologistas brasileiros, a exemplo de outras especialidades, nunca negaram apoio aos anseios da nossa profissão. De repente (não mais que de repente, diria o poeta) tivemos nossa alegria multiplicada pelo grande número de oftalmologistas presentes à Câmara Federal naquele histórico dia de outubro passado.

Não sabemos dizer exatamente quantos, sabemos só que eram muitos, todos contagiados pela mesma disposição de empenhar-se na conquista de mais uma vitória dos médicos, que já pressentíamos próxima.

A Oftalmologia brasileira tem uma perfeita e aguda consciência de que a união de todos em torno de princípios e objetivos é de vital importância para o sucesso das reivindicações médicas. E é esse o espírito que norteia os Colegas oftalmologistas brasileiros, orientados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia que está, sem favor, entre as mais atentas e operosas sociedades de especialidades filiadas à Associação Médica Brasileira. Os oftalmologistas nunca se omitiram quando convocados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia ou por qualquer outra de nossas entidades representativas.

Sabemos que as reivindicações e aspirações dos médicos brasileiros se confundem com os desejos da própria sociedade. Tem fundadas razões o primeiríssimo lugar a que o médico foi alçado na confiança da sociedade brasileira. O corporativismo médico, que tanto tem servido de argumento toscamente deturpado contra nós, não existe. Nunca pleiteamos a reserva de mercado, pois se o fizéssemos estaríamos praticando uma violência contra os princípios éticos e a vocação humanitária do médico. Portanto, quando nos batemos para que o exercício da Medicina seja atribuição exclusiva do médico, queremos, na realidade, preservar a saúde do cidadão contra a má prática médica por profissionais de outras áreas, que são, certamente, competentes no específico exercício de sua destinação profissional, e nunca no que só nós, médicos, aprendemos e sabemos fazer. O ofício da Medicina deve ter apenas e exclusivamente um oficiante: o médico.

Há quase nove anos que as entidades representativas dos médicos (Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira, Conselhos Regionais de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e Sindicatos dos Médicos) vêm dialogando com deputados, senadores e com as demais profissões da área de saúde reconhecidas (14) e que após extenuantes discussões ajudaram a definir as competências de cada uma, especialmente os atos e procedimentos que devem ser do médico e que, rotineiramente, são executados por nós. Contamos com a irrestrita confiança dos parlamentares, todos eles empenhados, como nós, em fazer valer a imperiosa e intransferível necessidade de que prática de atos e procedimentos médicos seja atribuição do médico. O atual presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, doutor Paulo Augusto de Arruda Mello, dando continuidade à vigorosa linha de ação das diretorias anteriores, contribuiu com seu prestígio, trabalho e apoio para a vitória final do dia 21 de outubro passado. E continua com a mesma disposição e empenho para outras que a Oftalmologia unida conquistará.

Pelo tempo em que o projeto esteve em discussão, não dá para imaginar que foi uma negociação tranqüila; longe disso. Mas conseguimos chegar a bom termo com a aprovação do PL 7703 no dia 22/10/09. Para nós, oftalmologistas, ele tem avanços e definições importantes e extremamente significativas. A lei é um instrumento decisivo para o exercício profissional dos médicos, pois definindo as atribuições do médico e o que é privativo do médico, tem o condão de barrar, do ponto de vista legal, o conflito com outras profissões.

Hoje praticamente todas as especialidades se deparam com o problema das interfaces médicas, criando um limite nebuloso entre o que é do médico e o que pode ser da competência de outros profissionais da saúde. E com a Oftalmologia não foi diferente. A diferença com outras especialidades é que não existe no nosso meio qualquer profissão reconhecida, devido ao trabalho assistencial de décadas e décadas da Oftalmologia brasileira e pelo fato de termos médicos suficientes para atendimento da nossa população.

O oftalmologista, nunca é demais repetir, tem nítida consciência da importância de sua efetiva participação, contribuindo para robustecer e ampliar o grau de representatividade de nossas associações e entidades E não devemos nos esquecer que em 2011 outra governança e outra legislatura se iniciam. A partir de janeiro de 2011 a direção e as leis do país serão feitas por outros nomes (presidência, Congresso Nacional e governos estaduais). Com essa mudança, as questões que vimos debatendo voltarão, com certeza, à tona e novos embates terão vez. É preciso ter isso bem vivo na memória: nunca devemos esmorecer ou achar que os problemas estão definitivamente resolvidos. Não estão. É necessário, pois, que estejamos permanentemente atentos ao chamamento das entidades médicas e, principalmente, do nosso Conselho Brasileiro de Oftalmologia. A intransigente defesa dos interesses da saúde ocular de qualidade do cidadão e cidadãs brasileiros e dos oftalmologistas e serviços que a prestam, é um inalienável compromisso ético e profissional que mantemos com a sociedade e conosco mesmos. Todos temos uma agenda de obrigações inadiáveis: consultórios, cirurgias, aulas, congressos, além das obrigações sociais e com a família. Não obstante isso, os oftalmologistas, como os demais Colegas, nunca se negaram a lutar por uma boa e legítima causa. Continuemos assim e com a mesma energia de sempre. Mesmo porque, como nos ensina o maranhense Zeca Baleiro, nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça.


Escrito pelos oftalmologistas Elisabeto Ribeiro Gonçalves e Marcos Ávila

Envie para seus amigos

Verifique os campos abaixo.
    * campos obrigatórios

    Comunicar Erro

    Verifique os campos abaixo.

    * campos obrigatórios