O pediatra vai acabar?

Levantamentos da Sociedade de Pediatria de São Paulo mostram que os que optam pela pediatria não pretendem mais trabalhar em consultório


CLÓVIS FRANCISCO CONSTANTINO* E MÁRIO ROBERTO HIRSCHHEIMER**


O que temos a comemorar neste 27 de julho, Dia do Pediatra?

A pediatria é uma das especialidades com maior número de profissionais no Brasil. Contudo, de 1999 a 2010, houve redução na procura por parte dos formandos em medicina. Nossa secular especialidade não tem atraído os novos médicos.

Nesse período, ocorreu diminuição de 55,5% no número de aprovados nas provas de título pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

Ao mesmo tempo, houve exagerado aumento de formandos, por conta da desenfreada criação de escolas de medicina no país, de forma devastadora e sem controle.

Levantamentos recentes feitos pela Sociedade de Pediatria de São Paulo mostram que os que ainda optam pela pediatria não pretendem trabalhar em consultório, o relicário do ato médico, uma vez que não conseguiriam mantê-lo funcionando por muito tempo, em razão do alto custo de manutenção e da remuneração insuficiente.

É uma pena para o futuro das gerações, para a prevenção das doenças do adulto e para a cidadania saudável. A prática da medicina da criança e do adolescente é tarefa de enorme responsabilidade.

No entanto, não tem havido, por parte dos gestores, recompensa proporcional em forma de prestígio, remuneração e reconhecimento da alta complexidade dos atos do pediatra, mesmo sem a utilização de tecnologia de custo elevado, nestes tempos em que esta é a grande sedutora -e por vezes usada com justificativas pouco fundamentadas pela evidência científica.

Sendo especialista em pessoas nas fases de crescimento e desenvolvimento, o pediatra é um educador que objetiva a criação de adultos saudáveis. Atua em todos os níveis de atenção - promoção, recuperação da saúde e retomada do desenvolvimento após enfermidades -, com intervenções diagnósticas, terapêuticas e educativas; controla a nutrição, a vacinação, a aquisição de habilidades, o desempenho escolar, a acuidade visual e auditiva, a evolução psicomotora, a sociabilização, o abrandamento da ansiedade familiar etc.

Com a inclusão da família, a relação médico-paciente assume peculiaridade em que a afetividade e a empatia são determinantes, e a confiança é a base para o sucesso.

Se isso não ocorrer, haverá desequilíbrio que influirá no resultado.

Pais ansiosos precisam ser atendidos com paciência para que não haja reflexo negativo na assistência.

Não adianta a criança receber uma prescrição correta se a comunicação não for bem-feita para a execução do tratamento.

O pediatra requer alta qualificação generalista e específica, a fim de conhecer muitas áreas da medicina para que possa atuar com qualidade nas doenças mais frequentes, de forma ágil e com cautela. Isso requer muita atualização, robustez física e equilíbrio emocional.

Cuidar é mais que curar! A criança brasileira tem direito a uma assistência médica qualificada - feita por pediatra. Temos algo a comemorar? Sim: incansável dedicação.


*Clóvis Francisco Constantino, pediatra, é presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

**Mário Roberto Hirschheimer, pediatra, é 1º vice-presidente da SPSP.



Fonte: Folha de S. Paulo

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